Comente, compartilhe e deixe sua opinião nos comentários! Sua participação é essencial para enriquecer o debate
por Fernando Moreira de Souza
Reportagem de Carlos Vasconcellos, em O Globo, informa que a indústria da mineração, uma das mais relevantes para a balança comercial do Brasil, passa por um processo de adaptação diante da transformação econômica da China. Em 2024, as exportações do setor somaram US$ 43,4 bilhões, respondendo por 47% do superávit comercial brasileiro, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O minério de ferro se manteve como o principal produto exportado, sendo a China o principal destino, responsável por 71% do total embarcado.
Apesar de o volume ter aumentado em 6,3% em relação ao ano anterior — alcançando 276,6 milhões de toneladas —, a receita em dólares teve crescimento modesto de apenas 1%. Isso se deve, em parte, à queda nas cotações internacionais do minério, afetadas pela desaceleração do setor imobiliário chinês.
Segundo Patrícia Seoane, líder da área de Mineração da PwC Brasil, a retração na construção civil e no consumo de aço impactou a demanda. Ainda assim, ela destaca que traders chineses vêm aproveitando o cenário para recompor estoques, o que contribui para manter os embarques em alta.
De acordo com a Vale, principal exportadora nacional, a economia chinesa passa por uma reestruturação significativa. O modelo anterior, centrado no mercado imobiliário, dá lugar a uma ênfase crescente no consumo doméstico e na atividade manufatureira. Em nota, a empresa informou que enxerga um ambiente econômico mais favorável, com ações concretas do governo chinês para estimular o consumo, o que sustenta uma demanda consistente por minério brasileiro.
A empresa observa uma redução da dependência do minério de ferro no setor imobiliário, que caiu de 40% para 30%. Com a produção siderúrgica da China estimada em mais de um bilhão de toneladas, a demanda permanece robusta, especialmente por minérios de maior qualidade, necessários para projetos de descarbonização industrial.
Além disso, a Vale destaca a força contínua do setor de infraestrutura chinês e a aceleração da indústria de bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos elétricos. Para atender às novas exigências do mercado, a companhia investe em soluções como o briquete de minério de ferro — que pode reduzir em até 10% as emissões de gases do efeito estufa em altos-fornos — e em mega hubs para a produção de aço com baixo carbono, utilizando, por exemplo, hidrogênio verde.
Desafios e incertezas no horizonte
Mesmo diante das oportunidades, o setor enfrenta obstáculos. Seoane aponta que o excesso de oferta global pressiona os preços, e os estoques elevados contribuem para um ambiente menos favorável aos produtores. A entrada em operação do projeto de Simandou, na República da Guiné, deve intensificar a concorrência internacional.
Jorge Guinle, CEO da empresa de comércio exterior Timbro, acredita que o mercado chinês continua atrativo, apesar da volatilidade. A companhia pretende ampliar sua presença no país por meio de uma operação própria de importação e distribuição de minério.
Contudo, um fator de instabilidade permanece: as disputas comerciais internacionais. A guerra de tarifas, iniciada na gestão do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, ainda gera incertezas. Embora o minério de ferro não tenha sido diretamente impactado, analistas alertam que os efeitos colaterais podem emergir caso não se chegue a um entendimento global sobre o tema.