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por Fernando Moreira de Souza
A mineradora Rio Tinto inaugurou, na última sexta-feira (6), a mina de minério de ferro Western Range, localizada na região de Pilbara, no noroeste da Austrália. O empreendimento, orçado em US$ 2 bilhões, representa uma reconfiguração estratégica da companhia após a destruição das cavernas sagradas de Juukan Gorge, em 2020 — episódio que gerou forte repercussão e críticas à atuação da empresa com povos indígenas.
Durante o evento, o CEO Jakob Stausholm destacou a colaboração com os Yinhawangka, grupo indígena da região, como símbolo de uma nova forma de atuação da mineradora. Pela primeira vez, um plano de gestão cultural, social e patrimonial foi desenvolvido em conjunto com os Proprietários Tradicionais.
“Trabalhar lado a lado com o povo Yinhawangka para projetar as minas do futuro, adotando tecnologias modernas e padrões rigorosos de segurança, mostra que aprendemos com os erros do passado”, afirmou o executivo.
A Western Range é uma joint venture entre a Rio Tinto (54%) e a siderúrgica chinesa Baowu (46%). O projeto incluiu a construção de um britador primário e um sistema transportador de 18 km, interligando a mina à planta de Paraburdoo. A nova operação tem capacidade para produzir até 25 milhões de toneladas de minério por ano e deverá sustentar o polo industrial de Paraburdoo pelas próximas duas décadas.
Investimentos em Pilbara ganham fôlego em meio a desafios globais
A mina é a primeira das diversas operações planejadas pela Rio Tinto em Pilbara, que totalizam US$ 13 bilhões em investimentos para renovação de ativos. Outros projetos relevantes, como o Brockman Syncline 1 (US$ 1,8 bilhão), já foram aprovados, enquanto Hope Downs 1 e West Angelas aguardam aval final.
Apesar do avanço de concorrentes como o megaprojeto Simandou, na Guiné, que deve começar a exportar ainda em 2025, a Rio Tinto sustenta que Pilbara continuará sendo um polo estratégico para o minério de ferro global. A infraestrutura existente — incluindo ferrovias, terminais portuários e sistemas logísticos consolidados — garante vantagem competitiva, mesmo com custos operacionais mais elevados na Austrália.
“Nosso desafio é manter a relevância do minério de Pilbara em um mercado que busca soluções de baixo carbono”, disse Stausholm, referindo-se à parceria com a Baowu para descarbonizar a cadeia de suprimentos. Segundo ele, essa colaboração será decisiva para assegurar a longevidade das operações na região.
A mineradora também reforçou seu plano de expandir a produção para 130 milhões de toneladas anuais, praticamente equiparando-se ao volume previsto de Simandou, mas com menor exposição a riscos políticos e custos inferiores.
Na última semana, a empresa firmou um contrato de US$ 157 milhões com a NRW Holdings, o que foi interpretado como um passo prévio à aprovação dos projetos Hope Downs 2 e Bedded Hilltop. A decisão final deve ser tomada até julho.
Transição de liderança e nova frente estratégica
A inauguração da mina ocorreu pouco após o anúncio da saída de Jakob Stausholm do comando da Rio Tinto. Questionado sobre um possível conflito interno com o presidente do conselho, Dominic Barton, o executivo negou desentendimentos e afirmou que há plena concordância sobre os valores, metas e diretrizes estratégicas da companhia.
Entre os principais legados de sua gestão, Stausholm destacou a entrada no setor de lítio, classificado por ele como o “próximo pilar” do portfólio da Rio Tinto. “Assim como líderes visionários apostaram no minério de ferro há 60 anos, agora damos início a um novo ciclo com o lítio”, declarou.
Enquanto isso, outras gigantes como BHP, Fortescue e Hancock Prospecting também aceleram projetos para substituir minas antigas e reduzir emissões. O movimento em direção ao chamado “ferro verde”, liderado por Andrew Forrest, da Fortescue, deve se intensificar nos próximos anos.
Com o marco de 60 anos desde o primeiro embarque de minério de Pilbara se aproximando, a região se reafirma como peça central na transição energética e na nova era da mineração global.
Fonte: Mining.com