As mulheres apareceram em peso às discussões sobre as mudanças climáticas e a transição energética na Climate Week, em Nova York. “As mulheres precisam estar nos debates sobre as emergências climáticas e a necessária transição energética justa, senão o destino da humanidade fica apenas sob responsabilidade dos homens”, disse Ligia Pinto, Diretora de Relações Governamentais do Grupo Mulheres do Brasil, presidido por Luíza Trajano e composto por quase 130 mil mulheres em reunião do C20 na ONU. O C20 é grupo representante da sociedade civil que subsidia o G20 ao lado de outros grupos como o W20 e B20.
A Primeira-Dama, Janja Lula da Silva também esteve em eventos na ONU para promover a COP 30 e alertar sobre a urgência de rever os modelos econômicos e produtivos atuais, que têm contribuído para a degradação ambiental e o aumento das desigualdades sociais e econômicas. A pobreza e a fome permanecem como grandes desafios, junto com conflitos que resultam em milhões de refugiados.
“Economias justas, inclusivas e antirracistas são necessárias para não deixar ninguém para trás. Com a determinação política dos líderes globais, a troca de experiências, a cooperação e o investimento de recursos, será possível erradicar de vez esses problemas”, ressaltou Janja.
Janja disse ainda que eventos climáticos extremos ilustram as consequências de um desenvolvimento desigual e insustentável, ressaltando que as mulheres e as meninas ainda estão sob um risco maior e sofrem de forma desproporcional os prejuízos da crise, considerando seu papel social e histórico”, comentou Janja.
Além da presença massiva de mulheres, os debates desta semana na ONU incluíram outros temas relevantes para as mulheres como as desigualdades de gênero, inclusive salariais. Esse foi o tema da conversa entre Ana Fontes, CEO da Rede Mulher Empreendedora, e a presidenta do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. O encontro foi promovido pelo Pacto Global – Rede Brasil, na sede da ONU, para debater como estão sendo cumpridos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Diante de dados do Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades 2024, do CEBRAP, que apontaram uma redução de 40% na proporção de pessoas em extrema pobreza, mas sem alteração significativa na desigualdade de renda, Tarciana Medeiros enfatizou a necessidade de as empresas discutirem mais o conceito de salário digno — inclusive nos contratos com fornecedores.
A executiva informou que, nos últimos 18 meses, a plataforma Mulheres no Topo, criada em março de 2023 para apoiar mulheres empreendedoras, conseguiu elevar em 41% o volume de crédito concedido a elas. São mais de R$ 200 bilhões. Ela disse ainda que o banco tem o objetivo de promover para cargos de liderança 344 pessoas negras e 300 mulheres.
O empreendedorismo feminino é um assunto que está no DNA da Sigma Lithium, que foi apresentada como caso de sucesso também na ONU. Além de a empresa ter sido fundada e comandada por uma mulher, a CEO Ana Cabral, a companhia tem 50% de mulheres nos cargos de alta liderança e, dentre outros programas sociais, implementou o Programa de Microcrédito “Dona de mim” nos municípios de Itinga e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. As mulheres recebem um crédito para iniciar seus negócios a partir de suas vocações, além de orientação financeira e empreendedora, garantindo a autonomia financeira de duas mil mulheres. A meta é chegar a dez mil linhas de crédito no curto prazo.
No evento Climate Impact Summit, organizado pelo Valor, a secretária-executiva adjunta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Aline Damasceno Ferreira Schleicher, contou que foi dado início a uma política de ascensão de mulheres da área de finanças para a transição energética.
A presidente do conselho do Pacto Global da ONU no Brasil, Rachel Maia, lembrou que a sustentabilidade, em todas as suas dimensões, inclusive a social, é o pilar da transição energética. Ela citou a Agenda 2030, acordada pelos países no Macro de Paris, que tinha a intenção de promover o desenvolvimento, mas sem deixar ninguém para trás. Para Rachel, é preciso exercitar diariamente o “mindset” dos líderes nesta direção, no cotidiano das empresas, para que ações dos líderes seja guiada de forma ética e solidária.