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por Fernando Moreira de Souza
De acordo com matéria publicada pela revista Novo Solo, o Brasil tornou-se o primeiro país do mundo a obter certificação oficial de créditos de carbono gerados por meio do intemperismo de rochas aprimorado (ERW, na sigla em inglês — Enhanced Rock Weathering). A tecnologia, considerada promissora no combate às mudanças climáticas, consiste na aplicação de Remineralizadores de Solo (REM), capazes de capturar dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera e armazená-lo de maneira estável por milhares de anos.
A certificação foi viabilizada por um projeto liderado pela InPlanet, empresa vinculada à ABREFEN, em uma área de mil hectares da fazenda São José, em Rio Claro (SP), onde são cultivadas cana-de-açúcar e, em parte, soja. Durante dois anos, pesquisadores coletaram dados agronômicos e ambientais com o objetivo de avaliar tanto a eficácia na fixação de carbono quanto os impactos na produtividade agrícola. A validação seguiu critérios científicos rigorosos e metodologias reconhecidas internacionalmente.
Segundo os representantes da fazenda, os ganhos superaram as expectativas iniciais. Luiz Antônio Murbach, responsável pelas operações agrícolas, admite que havia ceticismo no início, mas o desempenho da cultura de cana-de-açúcar aumentou de forma expressiva após o uso dos REM. Além disso, foram observadas melhorias na qualidade do solo e na produtividade.
Em determinadas áreas, os ganhos chegaram a 8 toneladas por hectare. As análises de solo revelaram aumento nos níveis de cálcio e fósforo após um ano de aplicação, além da manutenção do pH estável mesmo sem adição de fertilizantes químicos. A soja cultivada em áreas reformadas também apresentou excelente desenvolvimento vegetativo, ainda que os dados oficiais de produtividade não tenham sido registrados.
A adoção dos remineralizadores contou com ajustes logísticos na fazenda, desde o manuseio dos insumos até o armazenamento. A equipe local colaborou ativamente com instituições de pesquisa, contribuindo para a incorporação de práticas agrícolas mais sustentáveis. “Sugiro que outros produtores iniciem com pequenas áreas. Isso permite ganhar confiança na tecnologia e observar os efeitos antes de expandir a aplicação”, recomenda Murbach.
O projeto contou com apoio técnico de universidades, organizações locais e internacionais. Um estudo conduzido em parceria entre a Universidade de Newcastle (Reino Unido) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) — financiado pela Grantham Foundation — serviu como base científica para a aplicação em larga escala. A colaboração entre o professor Dr. David Manning (Newcastle) e o professor Dr. Antonio Azevedo (ESALQ) foi fundamental para consolidar os métodos de medição e validação.
Niklas Kluger, cofundador e diretor da InPlanet, destaca que o sucesso do projeto foi possível graças à estrutura laboratorial e ao suporte de uma rede internacional de especialistas. Ele também ressaltou que a adaptação das metodologias ao contexto brasileiro representou um desafio relevante, vencido por meio de aprendizado conjunto.
Ao todo, foram certificados 235 créditos de carbono — o equivalente à remoção de 235 toneladas de CO₂ da atmosfera. Os créditos foram validados pela empresa Isometric, repassados à Adyen e comercializados por meio da ClimeFi (antiga CarbonX). A InPlanet avalia que o modelo apresenta viabilidade econômica e pode representar uma nova fonte de renda para produtores rurais.
Potencial de expansão e liderança brasileira
O ERW funciona ao acelerar um processo natural: a reação entre rochas moídas ricas em minerais e o CO₂ presente no solo e na atmosfera. Ao interagir com a água, esse contato desencadeia a formação de bicarbonato, que é transportado até os rios e eventualmente depositado nos oceanos, onde permanece por milênios, retirando o carbono de circulação atmosférica.
Além da captura de CO₂, a prática fortalece a saúde do solo, aumenta a produtividade, reduz a necessidade de fertilizantes sintéticos e favorece a agricultura regenerativa. Os REM liberam gradualmente nutrientes essenciais, promovendo um ambiente mais equilibrado entre os componentes químicos, físicos e biológicos do solo.
A conquista posiciona o Brasil como referência mundial em soluções sustentáveis para o setor agropecuário. A ABREFEN considera a certificação um marco para o agronegócio nacional e para a indústria mineral, ao passo que reforça o compromisso do país com metas climáticas globais. A expectativa é de que mais projetos explorem a tecnologia em diferentes culturas e regiões, consolidando o protagonismo brasileiro na agenda ambiental.