O consumo de alumínio no país explodiu em 2024, batendo um recorde histórico de 1,8 milhão de toneladas, num salto impressionante de 13,5% em apenas um ano. A cifra não só revela a força de setores como construção civil, energia e transporte, como também escancara a dependência crescente do país por um metal que virou peça-chave da infraestrutura verde e da segurança energética.
Mais do que um número, o recorde acende um alerta: o alumínio se tornou insumo estratégico e alvo de disputas globais. Em um cenário marcado por guerras comerciais, tarifas protecionistas e corrida por metais críticos, o Brasil se vê diante de uma oportunidade?
“O resultado reforça o papel estratégico do alumínio como material essencial à infraestrutura, à industrialização e à transição energética do país”, destaca Janaina Donas, presidente-executiva da ABAL. “Trata-se de um insumo importante, de alta circularidade, elevado desempenho e múltiplas aplicações em setores críticos e importantes para a economia”, acrescenta a executiva.
Construção civil puxa a fila com quase 22% de alta
O maior motor do crescimento foi o boom da construção civil, com alta de 21,9% na demanda por produtos de alumínio. Com o avanço de projetos sustentáveis, financiamento via FGTS e SBPE e a busca por materiais leves e duráveis, o alumínio virou protagonista em fachadas, esquadrias e ventilação.
Energia elétrica em expansão demanda cabos de alumínio
Na esteira dos megaprojetos de transmissão no Norte e Nordeste, a demanda por cabos de alumínio cresceu 20,7%, impulsionada pela leveza, condutividade e custo-benefício frente ao cobre. O resultado: um surto de pedidos por parte de concessionárias de energia.
Transporte, indústria e consumo também aceleram
- Máquinas e equipamentos: +17,8%, com a indústria reforçando estoques e apostando em modernização.
- Transportes: +15,6%, puxado pela produção de ônibus escolares e renovação da frota rodoviária.
- Bens de consumo: +9,5%, com destaque para a venda de refrigeradores e ar-condicionado.
- Embalagens: +8,4%, impulsionadas pela retomada do consumo interno.
Brasil x EUA: tensão à vista
Apesar do otimismo, ventos protecionistas sopram do Norte: o governo dos EUA anunciou novas tarifas sobre o alumínio, mirando países emergentes. A medida pode causar rupturas nas cadeias globais, afetando inclusive exportadores brasileiros — um risco que acende o sinal vermelho entre líderes do setor.
O fato de o Brasil contar com ativos estratégicos para o fortalecimento de uma cadeia produtiva altamente verticalizada, que tem grande parte da produção voltada ao atendimento da demanda interna, se consolida como uma vantagem competitiva relevante, diz Janaina.
“Essa estrutura integrada é o que confere maior resiliência ao setor, garantindo segurança de suprimento, reduz a exposição a choques externos e fortalece a capacidade de resposta diante de crises, como as vivenciadas em cenários desafiadores, como os que estamos vivendo, marcado por uma série de tensões geopolíticas no cenário global e de disputas tarifárias.”
Oportunidade ou ameaça?
A indústria nacional do alumínio aposta agora em reativar fornos, expandir linhas de reciclagem e retomar projetos engavetados. Mas para manter o ritmo e garantir soberania industrial, o setor cobra do governo uma agenda urgente de políticas públicas, com foco em: valorização da produção nacional, redução do custo da energia, apoio à reciclagem e à verticalização e defesa comercial em fóruns internacionais
O que vem aí?
Para 2025, a expectativa é de crescimento mais moderado, mas ainda sustentado por obras de infraestrutura e demanda por condutores elétricos. O setor também acompanha de perto as movimentações de China, EUA e Europa — onde o alumínio já é tratado como ativo geopolítico.
Enquanto isso, no Brasil, o metal brilha como nunca. A corrida pelo alumínio está apenas começando — e o país precisa decidir: vai liderar ou assistir da arquibancada?