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Por Ricardo Lima
A EDEM selou parceria estratégica com a junior company australiana Power Minerals para desenvolver o projeto de carbonatito de nióbio, Santa Anna, em Mundo Novo (GO). Descoberto pela EDEM em 2021, o depósito abriga não só nióbio, mas também terras raras e gálio — além de outros minerais como potássio, fósforo, cálcio e magnésio que serão aproveitados para produção de fertilizantes. A meta conjunta é processar todos minérios encontrados, eliminando rejeitos, que serão utilizados como insumos para o agronegócio.
A Power, recém-instalada no Brasil, conta com know-how em metais críticos — desenvolvendo projetos de lítio em salar na Argentina e cobre na Austrália — enquanto a EDEM possui tradição em desenvolver projetos de fertilizantes no país, com minas em Goiás e Mato Grosso do Sul. A empresa já tem cinco mil metros de sondagem concluída em Santa Anna, onde pesquisava fosfato; além de um histórico bem sucedido de captação de capital estrangeiro em minerais de transição energética, com projeto de Terras Raras da Aclara, também em Goiás.
Juntas, as duas companhias planejam perfurar outros dois mil metros de sondagem nos próximos meses para delimitar zonas ricas em terras raras e nióbio. O investimento previsto para essa primeira campanha de sondagem,de três meses, gira em torno de R$ 5 milhões. A medida que o projeto for avançado novos aportes serão feitos para delinear a Estimativa de Recursos Minerais (MRE) em conformidade com o JORC. Em seguida, a modelação de um fluxo metalúrgico integrando o processamento do nióbio, terras raras e aproveitamento dos resíduos para fertilizantes.
“Estamos muito satisfeitos em firmar esta parceria estratégica com a EDEM e entusiasmados com o potencial de utilizar sua experiência e apoio para acelerar o desenvolvimento do Projeto de Carbonatito de Nióbio de Santa Anna”, disse ao Minera Brasil, Mena Habib, CEO da Power Minerals.
Habib disse que a Power Minerals está comprometida em liberar o potencial de nióbio, gálio e terras raras do Projeto e enxerga essa parceria como a EDEM uma oportunidade vital para atingir esse objetivo. “É a oportunidade de combinar objetivos compartilhados para entregar melhores resultados no desenvolvimento do projeto”.

Da mina ao campo
O presidente da EDEM, Luiz Vessani, destaca que a parceria com junior Australiana tem uma pegada sustentável porque busca maximizar o aproveitamento dos recursos. “ primeiro, extraem-se os metais de alto valor; em seguida, os resíduos viram insumo agrícola”, explica Vessani.
“a grande vantagem da gente fazer essa parceria com a Power, é que são dois conceitos de exploração que se complementam dentro de um mesmo projeto”.
Luiz Vessani – Presidente da Edem
Assim, observa ele, “a grande vantagem da gente fazer essa parceria com a Power, é que são dois conceitos de exploração que se complementam dentro de um mesmo projeto”.
Vessani destaca ainda que o potencial do projeto está justamente na capacidade de gerar valor em todas as etapas: “vamos processar o minério para extrair metais de terras raras, nióbio, eventualmente gálio, enquanto o restante se torna insumos para agricultura”, afirma.
O fertilizante multielementar — que reúne fósforo, potássio, cálcio, magnésio, zinco e cobre em teores de 4 % a 10 % — reduz passivos ambientais na mina e também no campo. Como contém vários nutrientes em um só granulado, exige menos lançamentos de produto no solo, corta custo logístico e diminui emissões ligadas à aplicação. A ‘pegada ecológica’ do projeto, reforça Vessani, fortalece a aderência do projeto à transição energética e segurança alimentar.

Goiás é a nova fronteira em minerais críticos
Enquanto a EDEM terá uma atuação mais especializada em relação ao fosfato, a Power terá um foco na extração de minerais para transição energética — com destaque para o nióbio, amplamente utilizado em baterias de nova geração, ligas leves e ímãs de alta potência.
Leandro Bertossi, country manager da Power Minerals no Brasil, aponta que “existe demanda crescente do uso de nióbio e terras raras, principalmente para produção de baterias”. Segundo ele, apesar do domínio chinês sobre o mercado global de terras raras, “se vê muito movimento, tanto dos Estados Unidos quanto da Europa, para descentralizar essa produção da China”, o que abre espaço para ativos emergentes como o de Santa Anna se posicionarem com competitividade no cenário global.
Não por acaso, a primeira rodada de levantamento de capital pela Power totaliza AUS$ 1,6 milhão — algo próximo de US$ 1 milhão — e será aplicada integralmente na campanha de perfuração inicial. Caso os furos de sondagem confirmem teores em torno de 0,8% de nióbio, a segunda fase do projeto prevê quintuplicar o orçamento. A campanha de perfuração será estendida para 10 mil metros lineares em 2026, com previsão de US$ 5 milhões em novos aportes. Do lado brasileiro, a EDEM já investiu US$ 1,5 milhão em geologia e sondagem e pretende injetar novos recursos à medida que a parceria avance.
Investimento em novas tecnologias e impacto regional
Além do capital, o pacote tecnológico incluirá um convênio com Senai e Finep para desenvolver rotas de beneficiamento de baixo resíduo. Na prática, explica Bertossi, “já pensando em alguns estudos sobre o processo, para extrair nióbio e terras raras gerando um subproduto para ser utilizado como fertilizante.”
O cronograma da Power Minerals prevê três etapas principais. A primeira consiste na conclusão da campanha inicial de perfuração, com dois mil metros previstos até o final de 2025. Em seguida, os dados obtidos servirão de base para a publicação de resultados e a definição dos recursos de Santa Anna.
A segunda etapa, programada para 2026, inclui um novo investimento de US$ 5 milhões destinado a uma nova campanha de sondagem visando delimitar os recursos minerais, além da realização de testes de bancada em metalurgia e estudos iniciais sobre rotas de concentração e aproveitamento do material como insumo agrícola. Já a terceira etapa envolve o avanço para estudos de viabilidade e, posteriormente, a busca por financiamento ou parcerias industriais para desenvolvimento do projeto.

Enquanto isso, a agenda ESG caminha em paralelo. A empresa de Sondagem Geológica Foraco, escolhida pela proximidade com Crixás e pelo histórico de segurança, já contratou operadores locais. A população do município — cerca de seis mil habitantes — tende a ganhar novos postos de trabalho na sondagem, na coleta de amostras e, futuramente, na planta piloto. Bertossi afirma que a filosofia da Power é replicar o modelo de fortalecimento comunitário adotado em seus projetos na Argentina e na Austrália, privilegiando mão de obra regional e fornecedores de pequeno porte.
No front institucional, a parceria representa a terceira transação internacional articulada pela EDEM em 24 meses, após negócios com canadenses no projeto Carina (REE) e em terras raras na caldeira de Poços de Caldas. Essa sequência, segundo Luiz Curado, diretor de novos negócios da EDEM, sinaliza que ativos brasileiros de transição energética atraem atenção crescente de investidores internacionais.
Curado destaca a tradição da EDEM no desenvolvimento de projetos promissores e a expertise da equipe técnica multidisciplinar da empresa, além do histórico de parcerias bem sucedidas nos últimos meses, que trouxe novos recursos em pesquisa mineral para o país.