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Por Ricardo Lima
Cientistas da Embrapa Cerrados (DF) estão testando espécies nativas do Cerrado para recuperar barragens de rejeitos de mineração de ouro em Paracatu, no noroeste de Minas Gerais. A pesquisa, realizada em parceria com a mineradora Kinross Gold Corporation, pretende criar um protocolo sustentável de revegetação que possa ser aplicado em diferentes regiões do país.
O trabalho é conduzido na mina Morro do Ouro, em taludes — estruturas inclinadas que contêm rejeitos —, onde os solos apresentam acidez elevada, compactação, baixa fertilidade e presença de metais tóxicos.
Crescimento das plantas
Apesar da intenção da iniciativa, o processo possui desafios. “São ambientes hostis à vida vegetal e a escolha das espécies certas é decisiva para o sucesso da revegetação”, explica a pesquisadora Leide Andrade, responsável pelo projeto. Segundo ela, as condições do solo dificultam o crescimento de plantas convencionais e exigem novas soluções adaptadas ao bioma.
O gerente de Desenvolvimento Sustentável da Kinross, Gabriel Mendonça, afirma que o projeto resulta de um acordo técnico firmado com a Embrapa em 2023. “Tal cooperação tem sido essencial para o planejamento e condução das atividades de recuperação ambiental e poderá servir como referência para outras empresas do setor”, diz.
Mas os desafios não são apenas ambientais. A pesquisadora Fabiana Aquino lembra que as regras de segurança impõem restrições ao tipo de vegetação possível. “Está sendo realmente desafiador revegetar aquele ambiente com espécies que conhecemos da agricultura. Na agricultura, buscamos sempre produzir mais. Ali, temos que cobrir o solo e buscar produzir o mínimo possível”, compara.

Pesquisadores coletam sementes utilizadas na recuperação ambiental. Imagem: Embrapa / Divulgação.
Testes de campo e novas espécies
Nos experimentos conduzidos na barragem Santo Antônio, construída em 1987, os pesquisadores testam combinações de sementes, adubação e manejo. Algumas espécies agrícolas, como o milheto, mostraram-se ineficazes. A planta cresceu demais e impediu o desenvolvimento de outras. “Mesmo uma espécie muito utilizada nas áreas de produção agrícola como cobertura de solo pode não proporcionar o mesmo efeito positivo em outro contexto”, observa a pesquisadora Marina Vilela.

Talude de barragem passa por processo de revegetação. Imagem: Embrapa / Divulgação.
Entre as alternativas estudadas estão espécies nativas e exóticas adaptadas ao Cerrado, como Mimosa somnians e Alysicarpus vaginalis. “Já sabemos que elas têm bom desempenho no bioma e que o potencial de crescimento e produção de massa não deve afetar a observação do solo do talude. O problema é que não são encontradas sementes dessas espécies no mercado”, afirma Andrade.
A cientista reforça a importância de soluções desenvolvidas localmente. “Não adianta importar soluções que funcionam em outros biomas. A tecnologia precisa nascer aqui, no campo, com nossos solos, nosso clima e nossas espécies”, defende. Apesar das dificuldades, os primeiros resultados são promissores.
“A mineração transforma o território. Mas a forma como restauramos essas áreas também pode ser transformadora. Queremos criar modelos que respeitem a biodiversidade local”.
Leide Andrade – Pesquisadora.













