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Por Ricardo Lima
A Serra Verde decidiu encerrar antecipadamente, para 2026, seus contratos de fornecimento com clientes chineses, abrindo caminho para que Estados Unidos, Europa, Japão e Canadá finalmente tenham acesso a uma das raríssimas fontes de terras raras pesadas fora da China e de Mianmar. A Serra Verde possui em Minaçu, no estado de Goiás, a única operação fora da Ásia a produzir em escala comercial os quatro elementos de terras raras mais demandados: neodímio (Nd), praseodímio (Pr), disprósio (Dy) e térbio (Tb). A informação foi confirmada pelo CEO da companhia, Thras Moraitis, em entrevista à Reuters.
O movimento ocorre no momento em que países ocidentais aceleram projetos de separação de elementos de terras raras pesadas. A Serra Verde projeta alcançar 6.500 toneladas anuais de TREO até 2027, apoiada por um financiamento de US$ 465 milhões da DFC.
Ocidente antecipa acesso inédito às terras raras da Serra Verde
A decisão da Serra Verde representa uma inflexão significativa em um mercado há décadas dominado pela China. O depósito de argilas iônicas da empresa é conhecido pela alta concentração de disprósio e térbio
Segundo Moraitis, “em um par de anos” plantas ocidentais de separação de terras raras pesadas estarão operacionais. Embora os cronogramas ainda sejam frágeis e nenhum empreendimento esteja comercialmente maduro em escala relevante, a sinalização reforça a perspectiva de que compradores ocidentais terão, pela primeira vez, um caminho contratual real para suprimento sustentável desses materiais.
A companhia já iniciou produção e otimiza o processo para atingir a meta de 6.500 tpa de TREO em 2027. O empréstimo de US$ 465 milhões aprovado pela agência de financiamento dos EUA (DFC) foi interpretado pelo mercado como uma validação tanto do potencial do depósito quanto de sua importância geopolítica.
“Todo mundo está ligando”, afirma CEO
Moraitis afirmou à Reuters que compradores chineses, norte-americanos, japoneses, europeus e canadenses têm procurado a Serra Verde. “Todo mundo está ligando”, disse o executivo. A afirmação é plausível: a mina é uma das únicas operações de argila iônica de terras raras pesadas prestes a oferecer produção relevante fora da China.
Ao mesmo tempo, a declaração reforça o posicionamento estratégico da empresa nas negociações por contratos futuros. A demanda é real — fabricantes de ímãs e governos do G7 buscam segurança de fornecimento — e pedidos por mecanismos como preços mínimos garantidos também têm fundamento. Os EUA já adotaram o modelo para apoiar a MP Materials, e discussões semelhantes avançam na Europa e entre países do G7.
Pressão discreta no domínio chinês
O término antecipado dos acordos representa uma rara brecha na estrutura de dependência global das terras raras pesadas. Embora ainda limitada, essa abertura cria a possibilidade de um fluxo não chinês de disprósio e térbio, e um avanço que investidores, governos e fabricantes ocidentais aguardavam há anos.
Como resumem analistas do setor, trata-se de “pouco de luz” em um mercado historicamente fechado. No universo de terras raras pesadas, está em jogo a disputa geopolítica e tecnológica global entre a China e os EUA, as duas maiores economias do mundo.












