por Fernando Moreira de Souza
A mineração, frequentemente associada a impactos ambientais, começa a ganhar uma nova perspectiva ao se aliar à agricultura por meio da rochagem — técnica que utiliza rochas moídas para enriquecer os solos. Essa convergência resgata ideias do século XIX e oferece respostas modernas para desafios como a degradação do solo, a dependência de fertilizantes químicos e as mudanças climáticas.
A atividade mineradora está entre as mais antigas da civilização humana. No período conhecido como “Idade da Pedra”, ferramentas eram fabricadas a partir de rochas brutas. Com a descoberta da fundição de metais, iniciou-se a Idade do Bronze, seguida pela Idade do Ferro. Desde então, a mineração passou a fornecer as matérias-primas que sustentam a vida moderna, da construção civil à produção de alimentos.
Apesar da sua importância econômica, a mineração tem sido historicamente associada a uma série de passivos ambientais — entre eles, a poluição de solos e águas, a degradação de ecossistemas e a emissão de gases de efeito estufa. Com a crescente conscientização ambiental, torna-se cada vez mais necessária a adoção de práticas que conciliem a exploração mineral com a preservação dos recursos naturais.
Enquanto isso, a agricultura, também milenar, sempre esteve ligada à fertilidade do solo. Com o avanço do conhecimento técnico, minerais extraídos da mineração passaram a ser processados e utilizados como fertilizantes, essenciais para o bom desenvolvimento das plantas.
Em 1893, o agrônomo alemão Julius Hensel lançou o livro Pães de Pedra, no qual defendia a aplicação de rochas trituradas ao solo como alternativa natural para restaurar sua fertilidade. Ele citava como exemplo a longeva produtividade agrícola das margens do rio Nilo, fertilizadas por lodo rico em minerais moídos.
A ideia voltou a ganhar força nas últimas décadas com o conceito de rochagem, termo cunhado por Leonardos et al. (1976). Também conhecida como petrofertilização, a prática consiste na aplicação de pós de rochas no solo, com o objetivo de fornecer elementos químicos como potássio, cálcio, magnésio e silício, fundamentais à nutrição vegetal.
Mais recentemente, a união entre mineração e rochagem vem sendo apontada como um caminho estratégico para promover a economia circular. Subprodutos da mineração, antes considerados resíduos, estão sendo reutilizados como insumos agrícolas, o que reduz os passivos ambientais da extração mineral e diminui a dependência de fertilizantes industrializados.
A utilização de pós de rochas como calcários agrícolas, fosfatos naturais, remineralizadores e silicatos tem mostrado resultados positivos: além de repor nutrientes, essas substâncias contribuem para a melhoria da estrutura do solo, aumentam a retenção de água, reduzem a erosão e fortalecem os sistemas agrícolas frente às variações climáticas.
Esse modelo de integração representa uma mudança de paradigma. Ao conectar práticas tradicionais com soluções inovadoras, mineração e agricultura podem colaborar para um futuro mais sustentável, resiliente e produtivo.