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Por Maurício Gaioti, CEO da Alpha Minerals
O Brasil tem enfrentado um grande desafio para garantir mais transparência na cadeia produtiva do ouro. Casos de ilegalidade comprometeram a reputação internacional do nosso país, afetando diretamente a comercialização do metal, que tem batido recordes em sua cotação nos últimos meses. A consequência mais imediata foi a perda de credibilidade e o aumento da desconfiança internacional sobre a origem do ouro nacional.
No entanto, é preciso separar o joio do trigo. O seguimento de mineração do ouro no Brasil conta com iniciativas estruturadas, empresas legalizadas, cooperativas sérias e projetos alinhados às melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Infelizmente, a narrativa predominante ainda recai sobre os casos ilegais, ofuscando os avanços e os compromissos reais assumidos por atores comprometidos com uma mineração sustentável.

Reconhecendo a urgência do tema, a rastreabilidade do ouro passou a integrar, recentemente, a agenda estratégica da mineração no Congresso Nacional. A iniciativa da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável traz propostas legislativas importantes como a criação de um sistema nacional de gestão do ouro, que visa monitorar todas as etapas — da produção à comercialização — especialmente no mercado financeiro, onde os riscos de irregularidade são maiores.
A complexidade do desafio de dar transparência ao ouro brasileiro varia conforme o perfil do produtor. Enquanto as grandes mineradoras, que são poucas e mais facilmente monitoradas, o garimpo – que, vale lembrar, não é ilegal – é composto por milhares de pequenos produtores. O problema não está no garimpo em si, mas no uso irregular da atividade por agentes ilegais.
Há bons exemplos no Brasil, um deles, é a Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe), criada em 2008 com apenas 23 cooperados, hoje conta com cerca de 7 mil membros. A Coogavepe tem demonstrado que é possível conciliar a atividade garimpeira com boas práticas ESG. Sua atividade é totalmente regulamentada, com títulos minerários (PLG) outorgados pela ANM e licenças ambientais atendendo rigorosamente a legislação para uma mineração sustentável.
Na Alpha Minerals, rastreabilidade é compromisso. Trabalhamos desde a origem, certificando o ouro com base em padrões técnicos e laboratoriais. Analisamos a composição do minério, garantindo a compatibilidade entre o que foi extraído e o que chega até nossa fundição. Mas rastrear o ouro vai além de comprovar sua origem: é preciso garantir que ele foi produzido em condições dignas, com respeito à legislação ambiental e trabalhista.
Esse compromisso nos conecta ao mercado internacional, cada vez mais exigente com questões de procedência e ética. Hoje, mineradoras parceiras da Alpha têm acesso a mercados internacionais justamente por passarem por um rigoroso processo de compliance e rastreabilidade. O valor gerado com essas exportações permite nossos parceiros investir em práticas ESG, modernização de processos e melhoria nas comunidades do entorno dos empreendimentos.
Trata-se de um ciclo virtuoso: transparência e responsabilidade abrem portas, valorizam o produto brasileiro e torna possível um crescimento sustentável. O custo de se adequar é compensado rapidamente pelos ganhos de competitividade e credibilidade internacional.
A rastreabilidade do ouro não é apenas uma exigência do nosso tempo – é uma alavanca para transformar positivamente toda a cadeia produtiva mineral do país. Estamos diante de uma oportunidade histórica: colocar o Brasil como referência global em mineração responsável. E é esse o caminho que escolhemos trilhar.