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Por Ricardo Lima
Um dos maiores levantamentos geológicos recentes no país revelou um potencial inédito para a mineração estratégica brasileira. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) identificou 39 novas ocorrências minerais ricas em urânio, fósforo e elementos terras raras (ETRs) na borda oriental da Bacia do Parnaíba, abrangendo áreas do Piauí e Ceará.
O Informe Técnico nº 27, publicado em junho de 2025, analisou formações geológicas do período Devoniano — Itaim, Pimenteira e Longá — e apontou que a região reúne concentrações minerais comparáveis ou até superiores às de alguns dos principais depósitos do mundo.
Teores acima da média mundial
Segundo o estudo, concreções fosfáticas da Bacia do Parnaíba apresentaram entre 16% e 27% de fósforo, além de ETRs com médias de 0,4% e picos de 2,3%. Os arenitos, mesmo com baixos níveis de fósforo, registraram enriquecimento independente, sugerindo origem ligada a minerais pesados de fontes ígneas ou metamórficas e a processos hidrotermais.
O urânio foi detectado em níveis que variam de 9 a 1.270 ppm — valores muito acima da média dos depósitos mais produtivos do planeta. Esses índices, segundo o relatório, viabilizam a recuperação do elemento mesmo em cenários econômicos adversos.
De acordo com a Gazeta do Povo, o diretor de geologia e recursos minerais do SGB, Valdir Silveira, afirmou: “Pretendemos avançar com instituições estratégicas para avaliar o aproveitamento dessas ocorrências. Considerando a necessidade global de diversificação da matriz energética limpa, o mercado mundial de urânio ganha relevância e pode colocar o Brasil em posição de destaque em curto espaço de tempo”.
Mineração estratégica e economia circular
A crescente demanda global por elementos terras raras, essenciais para turbinas eólicas, veículos elétricos e equipamentos eletrônicos, torna a descoberta particularmente relevante. A possibilidade de extraí-los como subproduto da mineração de fosfato reforça práticas alinhadas à economia circular e reduz a dependência de fornecedores como a China.
Experimentos internacionais já demonstraram que técnicas simples de lixiviação com ácidos diluídos recuperam quase 100% dos ETRs presentes em fosforitos, o que amplia a viabilidade industrial. No caso da Bacia do Parnaíba, os teores encontrados estão no mesmo patamar — e, em alguns casos, acima — dos depósitos explorados em países como Estados Unidos, Austrália e regiões do norte da África.