O anúncio do BNDES e MME de um fundo de R$ 1 bilhão para investimentos em projetos de minerais críticos para a transição energética deixou o setor de mineração animado com a notícia.
O recurso poderá ser utilizado por empresas júnior e de médio porte para financiamento de investimentos na pesquisa mineral, desenvolvimento e implantação de novas minas de minerais estratégicos. Porém entidades do setor como ABPM e ADIMB avaliam que essa iniciava precisa ser complementado com outras medidas: novas fontes de crédito e incentivos fiscais para fomentar um setor que tem alto risco de investimento.
Especialistas no setor de mineração do país acreditam que fundo de investimento para financiar projetos de minerais críticos é uma etapa importante na corrida global por essas matérias-primas, nas quais o país está bem posicionado, mas não é o único competidor. Essa iniciativa segundo eles, é capaz de ajudar a criar um ecossistema de investimentos similar ao que existe no Canadá e Austrália, mas que precisa ser complementado com outras, como novas fontes de crédito, como incentivos fiscais para fomentar um setor que tem alto risco de investimento.
Para se ter uma ideia do risco, de mil pedidos de pesquisa na Agência Nacional de Mineração (ANM), apenas um chegará ao estágio de mina. Para Ricardo Fonseca, banker, do banco Genial Investimentos, o desafio é recriar um ecossistema como existe no Canadá e Austrália, onde juniors companies: empresas pré-operacionais da mineração buscam recursos para seus projetos, principalmente, de transição energética. Ele elogia a iniciativa do governo em dar impulso no setor.
“Essas empresas têm um estágio muito complicado até chegar na operação. Acho que esse recurso que o BNDES está destinando pela primeira vez ao setor pré-operacional, é de suma importância para incentivar novos projetos. Isso vai dar um gás enorme ao setor”, avalia Fonseca,
Fonseca acompanha há mais de 20 anos o setor de mineração do Brasil, diz que é a primeira vez, que o governo coloca recurso para sondagem, estudo e desenvolvimento de ativos minerais. “Um ativo mineral demora tempo para ser desenvolvido, ele tem a parte da descoberta, depois a parte de estudos de viabilidade e ambiental. E as empresas que precisam de recursos iam buscar lá fora, no Canadá e na Austrália”, comenta Fonseca.
Ciclo será dominado por fundos institucionais
José Leroy, partner da consultoria Aviv Capital, avalia que iniciativas como o fundo estruturado em parceria entre o MME e BNDES, somado as da rede Invest Mining o fazem acreditar que é apenas questão de tempo para que bons projetos possam desbloquear valor. “Existem vários mecanismos para atrair financiamento para os projetos de mineração em suas diferentes fases. Para cada etapa, há um perfil específico de investidor”, pondera.
Leroy acredita que o próximo ciclo será dominado por fundos institucionais. Por fatores como a transição energética e a corrida por minerais estratégicos e críticos, “Acredito que o capital privado, através de fundos de venture capital, dominará este novo ciclo de investimentos em exploração mineral. Esse tipo de capital é altamente exigente em termos de regulamentação e compliance,” avalia.
Leroy concorda com Fonseca, na avaliação de que para atrair capital para os projetos de mineração é preciso fortalecer o ecossistema de mineração nacional. Segundo ele, com boas práticas na divulgação de informações relacionadas a recursos minerais, reservas minerais, estudos técnicos, avaliações econômicas e outros aspectos importantes dos projetos de mineração, podem oferecer clareza e segurança ao investidor na tomada de decisão. “Dessa forma, poderemos capturar a sinergia entre o setor mineral doméstico e os mercados de capitais internos e externos.”
Fundo será lançado no Canadá durante PDAC
Marcos André Gonçalves, presidente do Conselho da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), diz que o fundo é emblemático porque o lançamento será durante o PDAC, um dos maiores encontros de mineração do mundo, cuja participação brasileira é organizada pela entidade. De acordo com Gonçalves uma série reuniões está programada para captar investidores interessados em fazer aportes ao fundo.
“O fundo é um dos mecanismos essenciais para poder trazer recursos para aquele conjunto de empresas que ainda estão em fase não operacional. O anúncio é um marco, ponto de inflexão, e uma pauta positiva, mas além dos 250 milhões que o BNDES pode aportar no fundo, a gente ainda tem a participação de outros players que vão poder aumentar o valor do fundo”, destaca.
“A ADIMB acredita que é um passo importante. O Brasil tem sem dúvida um papel de protagonista na transição energética. Retirar do solo todo o conjunto de minerais necessários para os geradores elétricos, catalisadores e redes de distribuição é uma grande oportunidade para o país e tem muita empresa nova chegando. Então, o fundo vem no momento em que o ciclo está apenas começando”, pontua Gonçalves.
ABPM cobra incentivos Fiscais para financiar pesquisa Mineral
Em nota, a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), disse que o setor mineral, reconhece que o fundo criado pelo governo é de grande importância para fortalecimento do Brasil no sentido de atrair investimentos que viabilizem a descoberta de jazidas e novas fontes produtivas dos minerais críticos. Contudo, avalia que além do valor divulgado é preciso incentivo tributário à pesquisa mineral, tal como fizeram Canadá, Austrália.
A entidade argumenta que o trabalho de pesquisa mineral que visa a descobertas de novas jazidas e a implantação de uma mina é um processo longo e oneroso. E que para tornar esses investimentos mais atrativos, o país precisa também aprovar iniciativas como o Projeto de Lei nº 4.975/2023, da deputada Laura Carneiro (PSD/RJ), que dispõe sobre incentivo tributário à pesquisa mineral.
“Combinar novas fontes de crédito com incentivos fiscais são medidas para fomentar um setor que tem alto risco de investimento, sendo a receita certa para diversificar a produção mineral do país, posicionando-o como um grande player produtor de insumos e bens transformados voltados à transição energética”, disse a ABPM.