por Fernando Moreira de Souza
Durante o seminário sobre a mineração de urânio no Brasil, promovido pela Agência Minera Brasil e OAB/DF, realizado em Brasília, foram debatidas as perspectivas para o mercado. O painel contou com a moderação de Carlos Nogueira, consultor e ex-secretário da SGM/MME e os debatedores Felipe Tavares, gerente da INB e Francisco Valdir Silveira, diretor do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Carlos Nogueira, que também é geólogo de formação, comemorou a retomada da usina de Angra 3 e defendeu a necessidade de regulamentação na cadeia de exploração de urânio, ao lembrar que muitos depósitos não foram aproveitados ainda por falta de regulação e segurança jurídica. “É necessário ter conhecimento do que precisa ser feito e como deve ser feito” ponderou.
Felipe Tavares lembrou que fatores geopolíticos são críticos para a cadeia de produção de urânio e influenciou altas e baixas no preço do quilo do mineral, ao longo das últimas décadas. Para ele, existe um déficit entre produção e demanda que irá se manter, por conta de uma tendência na oferta se tornar maior que a demanda nos próximos dez anos. Países que não são produtores terão dificuldade, porém o Brasil tem a sexta maior reserva do mundo.
O seminário foi organizado pela agência Minera Brasil, em parceria com a OAB/DF. Estiveram presentes autoridades e especialistas do setor de mineração
O DESAFIO DO SETOR
Segundo Tavares, existem muitos desafios para o setor atualmente, como a logística de transporte e questões legais, pois a legislação atual é muito restrita, diante de um portfólio de 10 áreas altamente produtivas que poderiam estar sendo exploradas economicamente.
A sociedade precisa se aproximar do tema e o país tem a necessidade de formar geólogos capacitados. Mas o maior desafio ainda são as licenças para exploração, o setor nuclear precisa se comunicar com o setor mineral, para furar a bolha. A exportação de urânio atualmente demora cerca de um ano e meio, mas com uma nova regulação esse prazo pode cair para três meses.
O urânio brasileiro está sob o monopólio do estado e se faz necessária uma parceria com o setor privado. Atualmente o setor conta com o programa de licitação “Pró Urânio” e a INB trabalha para o seu crescimento. “O urânio é uma commodity que ficou por 40 anos sem investimento”, disse Tavares. “Pode vir de qualquer rocha, mas não é toda mina que é uma mina de urânio. Atualmente existe muita desinformação e fake news que acabam chegando na grande mídia”.
Segundo Francisco Valdir Silveira, o SGB se antecipou a todas essas questões, já em 2017 quando começou a compilar dados sobre as possibilidades das reservas no Brasil e descobriu cerca de 300 ocorrências que podem abrigar depósitos de urânio, sendo que 28% dos depósitos se encontram em bacias sedimentares. “Atualmente existe um mapa que determina as áreas quentes e frias”.
O SGB propõe um programa de exploração profunda, utilizando ferramentas aerogeofísicas, com várias metodologias conjugadas, com expectativa de enorme avanço para o setor. O projeto será financiado pelo PAC e o SGB licitou mais de 1 milhão de quilômetros de mapeamento aerogeofísico. Silveira explica que o urânio pode ser encontrado como subproduto do ouro, grafite e lítio, entre outros minerais, mas falta uma política de estado para determinar esses depósitos.
Os participantes tiveram a oportunidade de debater temas importantes, como a urgência de uma nova regulamentação para a exploração de urânio