por Fernando Moreira de Souza
De acordo com matéria publicada pela Mining.com, os investidores estão demonstrando prudência, desde 2024, frente as incertezas sobre um dos maiores fornecedores mundiais de matéria prima para a fabricação de aço, provocada pelo enfraquecimento da economia da China e a baixa no preço do minério de ferro, um metal que responde por cerca de 80% da receita da Vale, o que derrubou as ações da Vele SA fazendo a empresa perder mais de 100 bilhões de reais (US$ 17 bilhões) em valor de mercado.
O derrocada se estendeu para 2025 e fez a mineradora sediada no Rio de Janeiro perder sua posição de terceira maior empresa com capital aberto do Brasil. A Vale resolveu alguns problemas, como uma disputa de sucessão, onde o chefe financeiro Gustavo Pimenta assumiu a direção executiva da empresa e negociou acordo com o governo que suas principais minas obtivessem acesso ferroviário, mas nada disso colaborou para diminuir seu encolhimento. “Infelizmente, agora que a empresa consertou as coisas, todo mundo está preocupado com a China novamente”, disse Josh Rubin, gerente de portfólio da Thornburg Investment Management.
Quase 60% da produção anual da Vale, o que corresponde a cerca de 185,5 milhões de toneladas métricas de minério de ferro, foi embarcada para a China, de onde vem metade da receita da empresa. Mas a economia chinesa desacelerou, atingindo os mercados imobiliário e de construção, diminuindo a demanda por minério de ferro no momento exato em que grandes mineradoras aumentam a oferta global e o preço da matéria prima para manufatura de aço caiu abaixo de 25% em 2024, a tonelada métrica ficou em US$ 100 no fim de dezembro.
Com esse preço, o fluxo de caixa operacional encolheria para o menor nível desde 2016, de acordo com a Bloomberg Intelligence, os dividendos e as recompras de ações da Vale podem cair pela metade, para US$ 2,1 bilhões neste ano. Com expectativas de aumento nos estímulos vindos de Pequim, os preços do minério de ferro até tiveram alguma recuperação, mas a China está se alinhando com crescimento e consumo mais ecológicos de alta tecnologia e o aço está perdendo a importância para sua economia. “O cenário de geração de caixa da Vale é um pouco pior do que o de seus pares, há incerteza sobre a eficácia do governo chinês na reativação da demanda doméstica”, disse Humberto Meireles, gestor de portfólio do fundo de hedge brasileiro Vinland Capital.
Na segunda-feira, as ações da Vale caíram até 0,9% em São Paulo e a empresa está mudando a estratégia sob seu novo CEO, vendendo diferentes graus de minério de ferro para atrair mais clientes e desenvolvendo projetos diversificados em países como a Arábia Saudita, além de buscar aumentar a produção de cobre e níquel no Canadá, Brasil e Indonésia. Na última quinta-feira a Vale perdeu a posição de terceira maior empresa com capital aberto do Brasil em valor de mercado para a Weg SAA , uma fabricante global de equipamentos elétricos e industriais.
Os acionistas não demonstram confiança em uma breve recuperação das ações da Vale, que continuaram caindo 2,3% desde o início de janeiro e o conglomerado Cosan SA, do bilionário Rubens Ometto, descarregou uma participação de 4,1% na Vale com prejuízo — o valor de seu investimento caiu 34% desde que a empresa comprou as ações em 2022. Os mercados de câmbio e ações do país ficaram para trás de todos os principais pares em 2024, com o real caindo mais desde a pandemia devido a preocupações fiscais, e o índice de ações de referência Ibovespa caindo 10%, o que também afetou as ações da empresa. Mas existe que acredite em uma oportunidade de compra, como o analista do JPMorgan Chase & Co. Rodolfo Angele, que tem uma visão otimista. Em uma nota no dia 17 de janeiro ele apontou para um fluxo de caixa livre sólido sendo gerado pela Vale e um bom posicionamento para uma moeda brasileira mais fraca. “Essa grande desconexão é uma oportunidade para os investidores”, escreveu ele.