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Por Ricardo Lima
A Aclara anunciou que construirá sua primeira planta de separação de terras raras nos Estados Unidos, prevista para operar em meados de 2028 com insumos minerais provenientes do Brasil e do Chile. A instalação, localizada na Louisiana, será destinada ao processamento de elementos críticos usados em tecnologias como veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos industriais.
Apesar de direcionar a etapa de separação ao mercado norte-americano, a companhia afirmou ao Minera Brasil que manterá seu plano de investimento em Goiás, onde desenvolve o Projeto Carina, em Nova Roma, responsável pela produção do concentrado de terras raras pesadas. O projeto prevê um investimento inicial de US$ 680,5 milhões na fase de construção, conforme o estudo divulgado em 6 de novembro, e, segundo a empresa, a produção do concentrado corresponde à maior parcela de valor agregado da cadeia. O material produzido em Goiás será enviado aos Estados Unidos para a etapa final de separação.
A Aclara também opera, em Aparecida de Goiânia, uma planta piloto transferida do Chile, dedicada ao processamento da argila iônica extraída do depósito de Carina. Em agosto, a companhia firmou uma parceria estratégica com a Virginia Tech para pesquisa e desenvolvimento de soluções tecnológicas aplicadas às terras raras pesadas. O acordo fortaleceu a base científica do projeto antes do anúncio da planta de separação nos Estados Unidos.
Segundo a empresa, Goiás é a etapa mais valiosa da cadeia
Procurada pela reportagem, a Aclara afirmou que a decisão de instalar a planta de separação fora do Brasil está alinhada à estratégia global da companhia, de construir uma cadeia verticalizada e independente, “da mina ao ímã”, como diz a companhia.
Segundo a empresa, o Projeto Carina, em Nova Roma (GO), permanece como o centro das operações no país, responsável pela extração mineral e pela produção do concentrado de terras raras pesadas. A companhia havia informado previamente que o investimento ficaria na casa dos US$ 600 milhões, valor que foi posteriormente confirmado e atualizado no estudo divulgado em 6 de novembro, que estabeleceu o Capex em US$ 680,5 milhões. O montante é cerca de três vezes superior ao previsto para a planta de separação nos Estados Unidos, estimada em US$ 270 milhões.
A localização da planta na Louisiana foi escolhida, de acordo com a empresa, para aproximar a Aclara do principal mercado consumidor de ímãs permanentes do mundo e de fornecedores estratégicos.
A companhia projeta capacidade para fornecer terras raras pesadas suficientes para produzir cerca de 8 milhões de carros elétricos por ano, reforçando o posicionamento no mercado global de transição energética.
“A planta de separação nos Estados Unidos não substitui, mas complementa e potencializa o valor gerado em Goiás”, afirmou a empresa, que também cita geração de empregos, capacitação técnica e desenvolvimento tecnológico local como compromissos no Brasil.
Apoio financeiro do governo local
A companhia, que já recebeu US$ 5 milhões do governo dos Estados Unidos para o estudo de viabilidade do Projeto Carina, afirma que a decisão de instalar a planta foi estimulada por um pacote de incentivos fiscais e apoio industrial do estado de Louisiana, estimado em US$ 46,4 milhões. O pacote inclui isenção de 80% no imposto ad valorem por cinco anos, com possibilidade de renovação, subsídios de até 22% sobre os salários de novos empregos, além de suporte em infraestrutura e programas de qualificação de mão de obra.
A planta na Louisiana terá capacidade para produzir disprósio e térbio equivalente a cerca de 14% da produção oficial da China. A unidade ficará instalada em uma área de aproximadamente 33 hectares no Porto de Vinton.
Ao anunciar o projeto, o governador de Louisiana, Jeff Landry, afirmou que o investimento representa uma aposta estratégica na nova economia energética dos Estados Unidos. “Estamos ansiosos pelos empregos, pelo crescimento e pelas oportunidades que este projeto trará para o nosso povo e nossas comunidades – e para uma economia da Louisiana pronta para impulsionar e liderar o futuro do nosso país”, disse.
A secretária de Desenvolvimento Econômico do estado, Susan B. Bourgeois, ressaltou que a escolha da Aclara reflete a capacidade do estado de competir no setor industrial de alta tecnologia. “A Aclara reforça nossa liderança em setores essenciais para a segurança energética e de defesa dos Estados Unidos. O projeto se apoia em nossos pontos fortes em manufatura avançada e excelência em força de trabalho, mostrando como parcerias locais sólidas e áreas preparadas para desenvolvimento dão segurança a empresas globais”, afirmou.
O que diz o governo de Goiás
O governador Ronaldo Caiado já havia declarado interesse em agregar valor aos minerais críticos produzidos no estado. Durante a Brasmin 2025, ele indicou que o estado não seria apenas produtor, mas um player da cadeia de transformação mineral. “Goiás hoje tem o potencial em terras raras, nós sabemos que esse é o grande avanço que nós temos”, disse na ocasião.
Caiado também criticou a lógica atual da cadeia global, na qual o Brasil exporta o concentrado e outros países concentram as fases de maior valor agregado. “A matéria-prima, me contaram, vai para os Estados Unidos, na Virgínia, e lá se separam seus minerais. De lá vai para a Alemanha ou para outros países e aí eles constroem a liga”, afirmou, sugerindo que Goiás busque participação mais estratégica nas etapas industriais das terras raras.
Procurada pela reportagem para comentar a decisão da Aclara de levar para os EUA uma etapa importante no processo de verticalização da cadeia produtiva das terras raras no estado, a Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços não se pronunciou até o fechamento desta reportagem. No entanto, o espaço segue aberto.












