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Por Ricardo Lima
Goiás se destaca como centro dinâmico da mineração nacional. A Feira da Indústria da Mineração (Brasmin) reflete bem esse momento. O estado se consolida não só como produtor mineral, mas como articulador de discussões importantes para o setor. Mais que exposição de equipamentos, o evento se tornou espaço de diálogo e posicionamento público do setor.
A terceira edição da Brasmin realizada pela Associação Brasileira de Pesquisa Mineral (ABPM), Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e Distrito Federal (Minde) e organizada pela Proma Feiras, reuniu um público estimado em 6 mil pessoas entre os dias 24 e 26 de junho em Goiânia. De acordo com os organizadores, o volume de negócios ultrapassa R$ 1 bilhão, o que reflete não apenas o peso econômico do encontro, mas sua capacidade de articulação entre os diferentes elos da cadeia mineral brasileira.
Durante a Brasmin também foi realizado o 9º Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração, fórum que debateu temas importantes para o setor. Ambas as modalidades, responsáveis por cerca de 7 mil empresas, respondem por uma parcela significativa da produção nacional de bens minerais.
No entanto, a média e pequena mineração enfrentam desafios históricos: dificuldades de acesso a crédito, entraves regulatórios e baixa visibilidade nas políticas públicas setoriais. Organizado pela ABPM, Minde e Revista Brasil Mineral, o encontro reuniu engenheiros, geólogos, executivos de mineradoras e dirigentes de órgãos públicos.

Brasmin apresentou novas tecnologias que estão revolucionando a indústria mineral
Integração na mineração
“É uma surpresa, ver a cada ano a Brasmin evoluindo, não só à quantidade de expositores, mas à qualidade da feira em si, à participação do público e obviamente trazer à questão da política mineral, o entendimento da sociedade com relação à mineração e da importância que a mineração tem para o país”, avalia João Luiz Nogueira de Carvalho, presidente da Geosol e do Grupo Geopar, que reúne um conglomerado de empresas com soluções de sondagens, laboratório e engenharia mineral.
Para José Roberto Sevieri, CEO da Proma Feiras, o evento cumpriu seu propósito: abrir espaço para debates e trocas sobre o futuro do setor. “A Brasmin 2025 tinha uma missão muito clara: abrir as discussões sobre conteúdo e tecnologia na área de mineração. Na minha opinião atingiu com louvor, porque trouxe, além de uma quantidade maior de pessoas, uma qualidade maior de público e cerca de 50 palestras em três auditórios diferentes. Tudo isso faz com que a mineração do amanhã seja melhor do que a de hoje”.
Sevieri explica que a proposta da Brasmin é servir como elo entre tecnologia, negócios e política mineral. Ele relembrou que, apesar de Goiás ocupar a terceira posição entre os maiores produtores minerais do país, ainda existia um vazio na integração do setor.
“A Brasmin vem para cobrir essa lacuna”, afirma. O organizador destaca ainda a presença de visitantes de diversos estados nesta edição. Ele também enfatiza a necessidade de avanços institucionais e regulatórios na mineração. “Demorar seis, sete anos para uma autorização de lavra é muito longo. O Brasil precisa ser mais rápido”, alerta.
Entre os pontos altos desta edição, há destaque para o segundo Encontro Interestadual de Lideranças da Mineração, conduzido por Lívia Parreira, coordenadora do Plano Estadual de Recursos Minerais (PERM-GO). O encontro reuniu representantes de seis estados — Bahia, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul — dando continuidade a um diálogo iniciado em 2023, na edição anterior.
“O estado de Goiás está em uma fase avançada de planejamento mineral, apoiado por uma ampla articulação entre atores públicos e privados. Isso é determinante para a consolidação de um ecossistema de atração de investimentos e de crescimento sustentável da mineração”, conta Lívia, ao antecipar a proposta de criação de um futuro Fórum Nacional de Secretários Estaduais do setor.

Cerca de 6 mil pessoas visitaram a feira durante os três dias do evento em Goiânia
Goiás no mapa nacional da mineração
Mais do que anfitrião da Brasmin, Goiás tem ganhado espaço como um protagonista nacional na transformação da mineração. A percepção se expressa nas falas de autoridades como o governador Ronaldo Caiado, que destacou o crescimento industrial do estado e a sua capacidade de agregar valor à produção mineral.
“Nós passamos a ser, hoje, um Estado que teve um crescimento ímpar na industrialização. Hoje Goiás não é um Estado apenas exportador de commodities. É um Estado que consegue agregar valor”, diz.
Para o governador, é necessário reconhecer que os minerais são parte indissociável da transição energética e que há uma incoerência global ao exigir descarbonização sem valorizar a base material que a sustenta.
Esse olhar pragmático sobre o setor também se reflete na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG). O presidente da entidade, André Rocha, enfatiza a importância do setor, sobretudo para o interior do estado.
“A mineração interioriza o desenvolvimento. Nós vemos o crescimento de municípios como Alto Horizonte, Catalão, Niquelândia e Barro Alto”, destaca. Rocha também posiciona Goiás como líder na produção de minerais estratégicos como níquel, cobre, fosfato, nióbio e terras raras.
Já o presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e do Distrito Federal (Minde), Luiz Vessani, reforça o valor da feira como espaço de fomento à modernização tecnológica. “Essas empresas estão trazendo novas tecnologias, novos equipamentos e oportunidades de negócio, o que fortalece principalmente o setor de mineração”, diz. Ele também elogiou os esforços da gestão pública estadual no aprimoramento do licenciamento ambiental.

210 expositores e mais de R$ 1 bilhão em volume de negócios
A Imagem da mineração
A imagem pública da mineração foi um dos temas do encontro, que contou com um painel dedicado à discussão do assunto. Para Sandra Maia de Oliveira, da Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para a Construção Civil, o setor ainda enfrenta dificuldades para comunicar seu valor social.
Juliana Carnevalli, coordenadora de comunicação do Minde apresentou dados de uma pesquisa com 343 jornalistas, que busca entender como o setor é retratado e quais são os principais desafios de imagem e reputação. A pesquisa aponta que 77% dos profissionais de imprensa entrevistados enxergam a mineração como uma atividade negativa; 58%, em conflito com o meio ambiente; outros 50% veem o setor como reativo; e 70% disseram que teriam interesse em acompanhar o setor, caso ele fosse mais acessível.
“A pesquisa oferece um diagnóstico detalhado da visão da imprensa sobre a mineração no Brasil. Ela aponta áreas críticas, como a transparência e fornece insights valiosos para que o setor possa construir uma relação mais aberta, clara e acessível com os jornalistas, visando um maior e mais justo reconhecimento social de nossa atividade”, diz Luis Maurício Azevedo, presidente da ABPM.
Essa preocupação com a narrativa pública da mineração é acompanhada de reflexões sobre os entraves burocráticos. O advogado e especialista em direito minerário Rodrigo Silveira Costa observa que a lentidão nos processos de licenciamento ainda compromete o crescimento de diversos empreendimentos.
“Temos a discussão sobre a burocracia do licenciamento ambiental, e o que é necessário para ter mais agilidade na aprovação dos projetos e a profissionalização do setor”, explica Costa. Para ele, a presença de especialistas de diferentes áreas na Brasmin cria um ambiente propício à troca de experiências e à construção de soluções conjuntas.
Negócios e Network
Muito além de negócios, eventos como a Brasmin funcionam como pontos de encontro e construção de redes de relacionamento. Para o diretor-geral da Foraco Drilling Services, Rodrigo Martins, a presença no evento é estratégica. “Muito importante para a gente estar aqui, conectar pessoas e com nossos clientes. Vamos nos preparar para o próximo evento, que vai ser em 2027”, diz.
A lógica da conexão também aparece no depoimento do engenheiro Ronaldo Zamboni, da Icon, empresa de equipamentos, máquinas e sistemas industriais, que estava na Brasmin com estande próprio. “A gente fez vários contatos e networking, revendo amigos, antigos clientes e potencializando novos parceiros,” destaca.
Na mesma linha, Claudia Bolzan, CEO da Lantex, que atua na linha de telas para processamento e beneficiamento de minérios e agregados, acredita que a Brasmin é uma oportunidade de se aproximar do mercado regional. “Conhecer aqui os clientes de Goiás, tentar entender o que eles precisam para melhorar a qualidade dos produtos deles. Estamos tentando fazer isso e espero que a gente tenha conseguido”, comenta.

Evento se consolida como espaço para negócios e debate sobre futuro do setor
Segundo o CEO da companhia Alpha Minerals, Mauricio Gaioti, a feira representa uma oportunidade concreta de ampliação de negócios, networking qualificado e aprendizado. “Nossa expectativa vai além de fechar parcerias. Viemos para escutar, debater e evoluir. A Brasmin oferece uma visão 360° sobre os desafios e oportunidades do nosso setor, avalia Gaioti, que apresentou em uma palestra soluções e vantagens que pequenos mineradores podem ter no ecossistema da Alpha que oferece acesso ao mercado internacional com segurança e melhores preços.
Para Leonardo Prudente, diretor executivo da Axía Resources, a Brasmin se destaca por concentrar, em um só espaço, fornecedores com tecnologias de ponta. “A gente sai daqui com informações muito ricas e voltamos para o campo com todo esse legado que a Brasmin deixa conosco”, afirma.
Brasmin 2025 reafirmou seu protagonismo entre as grandes feiras do setor. Mais que negócios, o evento se consolida como espaço onde se desenha o futuro de uma mineração mais conectada, tecnológica e socialmente responsável.
“O faturamento da feira gera renda, emprego e desenvolvimento”, resume José Sevieri. Mas, para além dos números, o que fica é a certeza de que o setor mineral, em Goiás, encontra não só solo rico, mas também um ambiente fértil para pensar, evoluir e se projetar nacionalmente