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por Fernando Moreira de Souza
A crescente demanda por minerais críticos — insumos estratégicos para tecnologias relacionadas à transição energética e à digitalização — esteve no centro dos debates do Fórum Mundial de Economia Circular, realizado pela primeira vez na América Latina. O evento ocorreu nos dias 13 e 14 de maio, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Esses minerais são considerados essenciais por países e blocos econômicos em razão de seu papel na fabricação de equipamentos como veículos elétricos, turbinas eólicas, baterias e dispositivos eletrônicos. Ao mesmo tempo, seu abastecimento é considerado vulnerável, dada a complexidade dos processos de extração, separação e beneficiamento.
Entenda como são classificados os minerais
Durante o encontro, o vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), Ambroise Fayolle, defendeu a articulação entre a economia circular e a cadeia de suprimentos dos minerais críticos. Segundo ele, à medida que a procura aumenta, torna-se necessário otimizar o uso desses recursos para reduzir impactos e melhorar a eficiência.
“O entendimento sobre minerais críticos evoluiu. Hoje, eles são reconhecidos como parte estratégica da competitividade e de políticas industriais”, afirmou. Fayolle também alertou para a dependência europeia em relação a outras regiões para obtenção dessas matérias-primas, e destacou que o BEI pretende ampliar o financiamento de projetos voltados à produção sustentável desses insumos dentro e fora do continente.
Segundo relatório recente da Comissão Europeia, a economia circular pode reduzir a pressão sobre os recursos naturais ao reaproveitar materiais e, assim, contribuir para o fortalecimento da indústria.
Investimento sustentável e desafios tecnológicos marcam transição
O professor Paul Ekins, da University College London (UCL), reforçou que os chamados minerais de transição são fundamentais para o desenvolvimento sustentável, embora a extração ainda envolva desafios socioambientais significativos. Membro do Painel Internacional de Recursos da ONU, Ekins ressaltou a necessidade de uma abordagem integrada que una governança, financiamento e responsabilidade social.
De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, cerca de US$ 800 bilhões deverão ser investidos até 2040 para garantir o fornecimento sustentável desses minerais. No entanto, ele alertou para a retração nos investimentos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG), reflexo de tensões geopolíticas recentes.
“A economia circular será central nos próximos anos. Se não conseguirmos manter esses minerais em circulação, dependeremos da mineração primária por pelo menos mais uma década”, declarou o pesquisador.
No Brasil, o setor mineral responde por cerca de 4% do PIB e está entre os quatro segmentos mais relevantes da indústria nacional. Segundo Rinaldo Mancin, diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor deve investir aproximadamente US$ 17 bilhões até 2028, principalmente em novos empreendimentos. Apesar do potencial, Mancin apontou limitações tecnológicas, baixa concentração de metais nos rejeitos e questões de rentabilidade como obstáculos à aplicação plena da economia circular na mineração.
“A mineração é parte da solução para a transição energética. Não importa qual seja a matriz, os minerais continuarão sendo indispensáveis”, afirmou.
A ativista Slendy Diaz, da Colômbia, trouxe exemplos de seu país, onde marcos regulatórios favoreceram o aproveitamento de fontes não renováveis e impulsionaram a incorporação de energias limpas. Com isso, a produção de biocombustíveis e a geração energética aumentaram.
Entre as estratégias de circularidade citadas por ela estão o reaproveitamento de rejeitos para novos produtos, a ampliação da produtividade de minas existentes e a extensão da vida útil de bens fabricados com minerais críticos.
Xiaoting Chen, gerente da Ellen MacArthur Foundation, destacou que o crescimento na demanda por baterias e eletrônicos exigirá uma cadeia mais resiliente e sustentável. Estima-se que o uso de níquel e cobalto aumente em até 40% até 2040.
Para ela, a circularidade também contribui para a justiça social. “Há um desequilíbrio histórico: os países ricos em recursos enfrentam os maiores custos sociais, enquanto os benefícios econômicos são capturados em outras regiões. A economia circular pode ajudar a reverter esse cenário”, explicou.
Sobre o evento
O Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF2025) é uma iniciativa do Fundo Finlandês de Inovação (SITRA), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).