Fundo do BNDES e cenário tecnológico são atrativos para estimular apetite do capital para investir no setor
Painel sobre soluções do mercado de capitais para a mineração durante o Invest Mining Summit, na B3, reuniu o head de mercado de capitais do Grupo Santander, Pedro Costa; o diretor do Banco Jeffereis, Leonardo Laport; o diretor do grupo Safra, Jean Marc Dreyer, e Fernando Zonatto, da XP Investimentos, com mediação do geólogo Luciano Siani Pires.
O foco do debate girou em torno do modelo de financiamento para a mineração, já que alguns gargalos do setor costumam dificultar a entrada de investidores.
Jean Marc Dreyer, diretor do grupo Safra, destacou a forte tradição do país em minério de ferro, mas o processo ainda está no início em relação a outros minerais. “Como os investidores estão vendo os novos projetos? Há um receio muito grande. Não se sabe ainda como esses projetos vão seguir, do estágio inicial até a fase de produção.”
O executivo explicou que o primeiro ciclo da exploração costuma ser lento, e cada etapa exige uma nova obtenção de autorização, o que segundo ele, desestimula investidores. “É muito difícil convencer investidor a entrar nesse primeiro momento das juniors companies. Porque investir em empresa de mineração que está na primeira fase? Acreditar que isso pode existir no mercado brasileiro não vai funcionar. Essa primeira curva é complicada para todo mundo”, disse Dreyer.
Provocado pelo mediador Luciano Pires sobre a possibilidade de se trazer de volta empresas de varejo que têm buscado investimentos lá fora, o head do mercado de capitais do Santander, Pedro Costa, disse que há uma demanda crescente em se investir em ativos fora do Brasil, com renda em dólar. “Isso vai ser cada vez mais interessante”, afirmou.
Apoio adicional
Para o diretor do Banco Jeffereis, Leonardo Laport, existe o apetite do investidor para olhar em direção ao mercado da mineração no país. “O que falta é um banco que vá se dedicar a fazer isso. As juniors companies precisam de um apoio adicional, e o fundo do BNDES, se não resolve tudo, já é um alento”.
Todos concordaram que o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) fará aumentar a demanda pelo cobre a um patamar ainda não totalmente conhecido. Mas Laport observou outro entrave. “Existem outros pontos no Brasil que criam ferida no mercado, que é o fato do varejo ter acesso ilimitado aos fundos de investimento. Onde a regulação vai entrar e incentivo para que os fundos possam participar mais do setor?”, questionou.
Fernando Zonatto, da XP Investimentos, disse que a empresa enxerga a mineração com muito potencial, mesmo com os entraves conhecidos. “O cenário macro dificulta um pouco. Acho que a gente depende do gap de remuneração de capital da pessoa física. Quando isso fechar bem, fica mais fácil para que o investidor possa investir com mais segurança.” Outro ponto, segundo ele, é ter o apoio de fundos, e também produtos. “Com mais produtos, teremos mais volumes de views,” diz.
Jean Marc Drever disse ser louvável a iniciativa do BNDES de criar fundos, mas ponderou: “o caminho para nós é focar em empresas já em fase de produção, e no segundo tempo o mercado estará mais apto a fazer investimentos”.
De acordo com o executivo, não há dúvida de que o setor está entrando em um novo ciclo das novas comodities. “Temos a revolução da Inteligência Artificial (AI), que vai exigir demandas exponenciais de ouro, prata e silício. Só no começo dessa revolução”, lembrou.
Oportunidade única
“Para poder fazer trabalhar a AI, vai ser preciso muita energia. E nesse aspecto o país tem uma oportunidade única, porque tem energia renovável e por isso pode se beneficiar dos minerais para essa energia. Mas é preciso focar também na geração de energia”, alertou. “O Brasil tem que ser inteligente, e tentar controlar o máximo da cadeia. Aqui há energia e minerais, e o país deveria se tornar um player mundial de datacenter”, complementou.
A revolução dos carros elétricos também foi abordada pelo diretor do Grupo Safra. “A tecnologia desses veículos está evoluindo muito rápido, e além das baterias de lítio, há também a entrada das baterias de sódio. Mas qualquer que seja o minério que ganhe essa corrida, o Brasil tem os minerais adequados para atender à demanda”.
Os recursos naturais do Brasil, de acordo com ele, são algo que impressionam. “Vejam o caso do minério de ferro. O país sempre será líder na oferta de jazidas desse mineral. E agora, ESG obriga a utilização dos altos fornos elétricos, o que exige pureza mais alta, além dos rejeitos de mineral. Ou seja, além dos minerais críticos, o Brasil tem ainda mais potencial de crescimento também no minério de ferro, devido aos novos cenários tecnológicos”, completou o executivo.