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ESPECIAL EXPOSIBRAM
Por Ricardo Lima
O Downstream da Cadeia Produtiva de Minerais Críticos e Estratégicos foi assunto que ganhou destaque durante a Exposibram, em Salvador. O painel que reuniu executivos das principais empresas que atuam no segmento no Brasil, o debate girou em torno dos caminhos para fortalecer a cadeia produtiva no Brasil.
O debate foi moderado por Maísa Abram, chefe do Departamento de Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (SGB); teve a participação de José Augusto Palma, vice-presidente executivo da Aclara Resources; Leandro Gobbo, vice-presidente da PLS Brasil; Maria Teresa Muniz, diretora de Assuntos Regulatórios da Viridis; e Ricardo Grossi, presidente da Serra Verde.
Os executivos defenderam a aceleração de políticas para minerais críticos, com mais financiamento, integração regulatória e continuidade estratégica para viabilizar o downstream no país. Maísa Abram, do SGB, destacou o descompasso entre o avanço regulatório e a execução prática das políticas voltadas aos minerais críticos. Para ela, o Brasil precisa garantir recursos e coordenação governamental para transformar diretrizes em projetos industriais e tecnológicos, com foco no downstream.
PLS quer construir uma cadeia de lítio integrada no Brasil
O vice-presidente da PLS no Brasil, Leandro Gobbo, apresentou a estratégia global da companhia — uma das maiores produtoras mundiais de lítio de rocha dura (hard rock), que enxerga o Brasil como um dos principais destinos para sua expansão internacional. “O Brasil tem energia limpa, competitiva e abundante — é o candidato ideal para receber a primeira planta midstream fora da Austrália”, afirmou Gobbo.
A PLS já opera uma planta de hidróxido de lítio na Coreia do Sul, e tem avaliado implantar no Brasil, a primeira unidade de conversão de baixo carbono fora da Ásia, porque acredita que os país reúne condições ideais para abrigar essa planta de processamento de lítio.
O executivo explicou que a meta da PLS é construir uma cadeia integrada, com produção mineral (upstream), processamento intermediário (midstream) e conversão química (downstream). “Estamos desenvolvendo uma tecnologia em parceria com a Calix, que permite elevar a concentração do lítio e reduzir significativamente as emissões de carbono e o custo logístico. O Brasil é o ambiente perfeito para isso”, destacou

“A transição energética não pode ser sobre quem faz a bateria mais barata a qualquer custo. O saldo social precisa ser positivo”, disse o vice-presidente da PLS no Brasil, Leandro Gobbo durante painel na Exposibram.
Para Gobbo, governos e investidores precisam recompensar a mineração de baixo impacto. “A transição energética não pode ser sobre quem faz a bateria mais barata a qualquer custo. O saldo social precisa ser positivo, disse ao Gobbo ao destacar avanços socioambientais do Projeto Colina, como a instalação de torres 4G em comunidades rurais e a condução de consulta livre, prévia e informada com 100% de aprovação, reconhecida como referência pelo governo de Minas Gerais.
“Estamos construindo uma nova mineração — responsável, tecnológica e conectada às comunidades. A transição energética só faz sentido se for feita do jeito certo”, afirmou o executivo da PLS.
Custo de capital é o maior entrave para projetos emergentes
Para José Augusto Palma, da Aclara, o avanço de uma cadeia completa de terras raras no Brasil depende de uma estratégia simultânea em quatro eixos: desenvolvimento do mercado comprador, domínio tecnológico, capacidade química industrial e instrumentos financeiros competitivos. No projeto Carina, em Nova Roma no estado de Goiás, a Aclara se destaca por atuar com terras raras pesadas.
Ele defendeu uma revisão institucional que dê previsibilidade, reduza duplicidades e incorpore inteligência artificial a processos de licenciamento e autorização. “Não se trata de diminuir padrões ambientais e sociais, mas de ter um sistema moderno, eficiente, que cumpra seus prazos, garanta previsibilidade e responsabilidade,” afirmou Palma, enfatizando que o custo de capital é hoje o maior entrave para projetos emergentes no país.
Segundo ele, estabelecer incentivos financeiros e centros públicos de inovação são passos fundamentais para viabilizar rotas de separação, plantas industriais e verticalização de terras raras. Ainda que reconheça a complexidade do desafio, Palma cobrou “sentido de urgência” e coordenação direta do Executivo para destravar projetos estratégicos e alinhar as agências envolvidas.
Previsibilidade, tecnologia e incentivos
A diretora de assuntos regulatórios da Viridis, Maria Teresa Muniz, trouxe propostas institucionais para acelerar o downstream: criação de fluxos únicos e pontos de contato que reduzam duplicidades entre órgãos. “Um fluxo único, com papel claro de cada um, e prazo máximo por etapa” disse Muniz, defendendo também protocolos interinstitucionais que unifiquem a atuação de agências como ANM, Ibama e órgãos estaduais para dar previsibilidade a investidores e encurtar o ciclo de aprovação de empreendimentos estratégicos.
Maria Tereza lembrou ainda que o downstream só avança se houver escala para testes industriais, destacando que a Viridis avança na construção de duas plantas-piloto de refino e reciclagem de terras raras para produzir carbonatos e óxidos no país já a partir de 2026, com apoio de novos mecanismos de financiamento público. A Viridis possui o projeto Colossus em Minas Gerais.
Ricardo Grossi, da Serra Verde, avaliou as decisões estratégicas das mineradoras entre concentrados e agregação de valor e destacou limitações técnicas e econômicas da cadeia. “o diferencial competitivo para uma operação de terras raras, é conseguir separar e conseguir ter um custo de produção equilibrado até a produção do MREC”, disse Grossi, apontando que a separação de 15 elementos em escala industrial e a volatilidade de preços são gargalos que o Brasil precisa enfrentar para que a produção local de óxidos seja viável, sem medidas protecionistas que prejudiquem mineradoras. A Serra Verde é a única produtora comercial de terras raras fora da Ásia.













