O Brasil abriga uma das maiores reservas mundiais de minerais críticos, insumos essenciais para tecnologias de baixo carbono e energias limpas. Um novo levantamento do Ministério de Minas e Energia (MME) denominado “Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos para a Transição Energética no Brasil” identificou 48 projetos espalhados por nove Estados, voltados à exploração de lítio, cobre, níquel, grafite e terras raras — elementos fundamentais na produção de baterias, turbinas e veículos elétricos.
Apesar da abundância de recursos, a produção nacional ainda é pequena. Dados de 2023 apontam que o Brasil detém mais de 19% das reservas globais conhecidas de terras raras, mas responde por apenas 0,02% da produção mundial. A expectativa, no entanto, é que esse cenário mude nos próximos anos, com a entrada de novos investimentos e o avanço das licenças de exploração.
Quase 50 projetos distribuídos pelo país
Segundo o levantamento do MME, publicado em março de 2024, os projetos mapeados concentram-se principalmente em Minas Gerais (13), Bahia (12) e Pará (10). Eles estão voltados à prospecção de minerais estratégicos para a transição energética, como cobre, lítio, grafite e níquel. O cobre lidera em número de projetos (13) e é amplamente utilizado em equipamentos para geração de energia renovável, sistemas elétricos e baterias. Lítio e terras raras aparecem logo atrás, com nove projetos cada.
A tabela abaixo indica a reserva brasileira de cada mineral em 2024, ao lado da produção obtida em 2023. Ambos os dados em comparação com o resto do mundo.

FONTE: USGS 2024. TABELA: MME
*(390mil t oficiais + 980 mil t da Sigma – certificadas nas bolsas de Toronto e Nasdaq).
** (Reservas de Cobre referentes a 2022).
Reservas abundantes, desafios à produção
Os chamados elementos de terras raras compreendem 17 metais — entre eles neodímio, érbio, disprósio e ítrio — com aplicações industriais diversas, da produção de telas e celulares até turbinas e ímãs para motores elétricos. O Brasil possui cerca de 21 milhões de toneladas desses elementos, principalmente na Bahia, Minas Gerais e Goiás.
Para efeito de comparação, a China lidera o ranking com 44 milhões de toneladas, seguida pela Groenlândia, com 36,1 milhões, conforme dados do Serviço Geológico dos EUA (USGS) e do Serviço Geológico da Dinamarca e da Groenlândia (GEUS). No Brasil, parte considerável dessas reservas ainda não é explorada comercialmente, o que indica espaço para expansão.
A partir de 2022, uma corrida por licenças de pesquisa e lavra foi desencadeada no país, diante da crescente valorização internacional desses minerais. Ainda assim, gargalos logísticos, falta de infraestrutura e obstáculos ambientais seguem como entraves à plena exploração.
Disputa global e oportunidade brasileiras
A alta demanda internacional por minerais críticos tem levado governos a adotarem estratégias agressivas para garantir suprimentos. Em 2019, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a declarar que o controle das terras raras poderia justificar ações militares, citando a Groenlândia como possível alvo de interesse estratégico.
Nesse cenário, o Brasil passa a ser visto como uma alternativa relevante na diversificação de fornecedores desses minerais. Com um território vasto, geodiversidade e um número crescente de projetos, o país pode ganhar espaço na cadeia produtiva global de energia limpa — desde que consiga superar os entraves atuais e atrair investimentos para transformar suas reservas em produção efetiva.