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Por Ricardo Lima
A China passou a controlar com mais rigor a exportação de tecnologias sensíveis ligadas à produção de baterias de lítio. As novas restrições, que entraram em vigor na segunda-feira (14), visam proteger a liderança chinesa na cadeia global de veículos elétricos, segundo comunicado conjunto dos Ministérios do Comércio e da Ciência e Tecnologia. Informações divulgadas pelo Poder 360.
O país incluiu na lista oficial de controle de exportações técnicas avançadas consideradas cruciais para o desenvolvimento de baterias de nova geração, incluindo métodos de extração de lítio e fabricação de cátodos LFP (fosfato de ferro-lítio) e LMFP (fosfato de ferro-lítio-manganês). A mudança afeta apenas as tecnologias, sem restringir a exportação de produtos acabados.
“Este ajuste é uma medida específica para responder ao cenário em evolução do desenvolvimento tecnológico doméstico e para melhorar a gestão do comércio de tecnologia”, afirmou o porta-voz do Ministério do Comércio. O objetivo, segundo ele, é “proteger a segurança econômica nacional e os interesses de desenvolvimento”.
Licenças obrigatórias e foco em inovação estratégica
A partir de agora, empresas chinesas que desejarem exportar tais tecnologias deverão obter licenças específicas com autoridades provinciais, que avaliarão os pedidos junto a órgãos técnicos.
A lista inclui tecnologias ainda em fase inicial de comercialização, como baterias com capacidade de reter 97% da carga após mil ciclos – critério que exclui versões mais antigas, de menor desempenho. Segundo a Aliança de Inovação da Indústria de Baterias de Potência Automotiva da China (CAPBIIA), a restrição deve ter impacto limitado no curto prazo, já que esses processos ainda não são amplamente utilizados.
Para analistas, a decisão é estratégica. A empresa de pesquisa Gaogong Lithium Battery avaliou que a medida busca construir um “fosso tecnológico” ao redor das fabricantes chinesas, dificultando a competição internacional.
“Essa medida protege os fabricantes chineses contra vazamentos de propriedade intelectual, mantém a liderança tecnológica sobre concorrentes internacionais e sustenta a lucratividade de longo prazo por meio da inovação”, avaliou a consultoria.
Domínio chinês na cadeia do lítio
A vantagem chinesa é fruto de uma aposta precoce nas baterias LFP, consideradas mais baratas e estáveis. Enquanto concorrentes em países como Japão e EUA priorizaram tecnologias ternárias mais sofisticadas, mas caras, gigantes chinesas como CATL e BYD refinaram as LFP e hoje abastecem 75% dos novos VEs produzidos no país.
A China também domina o refino de lítio em larga escala, inclusive a partir de fontes de baixa qualidade ou salmouras contaminadas com magnésio, um desafio técnico que estimulou soluções locais.
Embora países como os EUA e a Coreia do Sul corram para reduzir a dependência tecnológica da China, os esforços ainda são recentes. A LG Energy Solution, por exemplo, só iniciou a produção em escala de baterias LFP nos Estados Unidos em junho deste ano.
Segundo a CAPBIIA, as restrições não devem afetar acordos internacionais já em andamento nem a venda de baterias produzidas no país. A medida, porém, evidencia o movimento da China para manter controle sobre tecnologias críticas em um setor cada vez mais estratégico.