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País ainda enfrenta desafios estruturais, logísticos e regulatórios que limitam seu potencial diante da crescente demanda por baterias elétricas, aponta Marcos André.
O Brasil está em um momento decisivo para consolidar seu papel na cadeia global de produção de lítio. Essa é a avaliação de Marcos André Gonçalves, presidente do Conselho Superior da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), durante painel no Lithium Business, onde apresentou o cenário e desafios na pesquisa mineral de lítio no país.
Marcos André avalia que o lítio passa por um momento quase que anticíclico atravessando um ciclo de baixa de preços e excesso de oferta. “Mas o vetor de para onde vamos, todo mundo sabe, o lítio, independente de novas tecnologias e de novas aplicações vai ter o seu papel, vai continuar sendo algo fundamental na eletromobilidade e etapas de baterias estacionárias e outras aplicações.”
Embora ocupe atualmente o sexto lugar no ranking mundial de produção, com cerca de 4,2% do total, o país ainda enfrenta desafios estruturais, logísticos e regulatórios que limitam seu potencial diante da crescente demanda por baterias elétricas, aponta Marcos André.
Segundo dados recentes da Agência Internacional de Energia (IEA), o consumo global de lítio deve atingir 220 milhões de toneladas em 2024, um salto de 29% em relação ao ano anterior. A produção, no entanto, permanece concentrada em países como Austrália, Chile e China, que juntos respondem por 74% do mercado. O Brasil, apesar do avanço na exploração, detém apenas 1,3% das reservas globais conhecidas.
Decretos e avanços regulatórios
Marcos André citou que um dos marcos recentes para o seguimento foi o Decreto nº 11.120/2022, que liberou o comércio exterior de lítio sem necessidade de autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). “A medida deu fôlego ao setor, atraindo novos investimentos e fortalecendo o posicionamento do Brasil na cadeia de fornecimento de minerais críticos.”
Outros avanços incluem o reconhecimento do lítio como mineral estratégico (Resolução SGM nº 2/2021) e a aprovação da Lei da Economia Circular, que impõe metas de reciclagem para baterias de lítio e estimula o desenvolvimento da cadeia de reaproveitamento no país. Ainda tramita no Congresso o PL nº 2809/2023, que propõe um sistema de certificação voluntária de “lítio verde”, com foco em práticas sustentáveis e rastreabilidade.
Exploração em expansão no Vale do Jequitinhonha
Marcos André trouxe dados que mostram a grande concentração de espodumênio, na região do Vale do Jequitinhonha, que desponta como o principal polo brasileiro de exploração. O número de pedidos de pesquisa mineral saltou de 45 em 2021 para 851 em 2023, impulsionado pelo interesse de investidores estrangeiros e pelas mudanças no marco regulatório.
O avanço se reflete também na presença de empresas no mercado. Segundo levantamento apresentado, 18 companhias com atuação em lítio estão listadas em bolsas de valores, embora a maioria ainda tenha capitalização de mercado reduzida. Apenas Sigma Lithium, Pilbara Minerals e Atlas Lithium possuem ações acima de US$ 1 e market cap superior a US$ 65 milhões.

O Brasil está bem posicionado, mas precisa acelerar sua estruturação para não perder a janela histórica da transição energética
Desafios de infraestrutura e mercado interno
Apesar do crescimento, o setor ainda lida com entraves significativos, destacou o executivo da ADIMB. “A infraestrutura precária nas regiões de exploração, como o norte de Minas, dificulta a logística de produção e exportação. Além disso, a burocracia ambiental e social prolonga a tramitação de licenças, gerando insegurança jurídica e conflitos com comunidades locais.”
Outro gargalo apontado por Marcos André é o mercado interno limitado. “A maior parte do lítio brasileiro é exportada, principalmente para China e Europa, o que torna o setor vulnerável a variações de demanda e preço no mercado internacional. Em paralelo, novas tecnologias de armazenamento, como baterias de sódio e hidrogênio, levantam dúvidas sobre a dependência de longo prazo do lítio”, avalia
Oportunidades e horizonte promissor
Apesar dos desafios, as perspectivas continuam promissoras. Entre 2021 e 2022, o mercado nacional de lítio cresceu 436%, tornando-se a terceira maior fonte de receita para o estado de Minas Gerais. O alto teor de espodumênio encontrado no Brasil – superior ao de muitos concorrentes – também reforça a atratividade do país para a indústria de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia, pondera Marcos André.
Ele Acredita que com uma demanda global prevista para ultrapassar 2 milhões de toneladas de lítio até 2050, o Brasil pode emergir como ator estratégico na transição energética, desde que avance na construção de uma cadeia de valor robusta, com agregação de tecnologia, infraestrutura e sustentabilidade.
“O Brasil está bem posicionado, mas precisa acelerar sua estruturação para não perder a janela histórica da transição energética”, resume um executivo.
Confira a fala completa: