O Eurasia Group destaca que a natureza altamente concentrada da mineração, processamento e refino desses minerais torna as cadeias de abastecimento vulneráveis, no xadrez da disputa geopolítica entre esses países.
As cadeias de abastecimento mais vulneráveis segundo o relatório são as de metais de terras raras, dominada pela China, como o neodímio e o disprósio, necessários em todas as tecnologias, desde produtos eletrônicos até aplicações de defesa.
Mas nem todos os minerais críticos são criados iguais.
Alguns como gálio e o germânio – utilizados em semicondutores e painéis solares – podem ser parcialmente trocados por outros elementos no caso de uma crise no fornecimento.
No entanto, outros, como o lítio e o grafite – “metais de baterias” essenciais para a produção de veículos eléctricos – são menos substituíveis.
Dependência da China para processar e refinar
No contexto da crescente concorrência tecnológica com a China, EUA e União Europeia, começaram a subsidiar a produção nacional para impulsionar seus setores de computação e energia limpa. Essa iniciativa fez aumentar procura por minerais críticos nos últimos anos.
Mas o irônico é que essa política industrial trouxe mais dependência dos minerais controlados pela China e acirrou ainda mais disputa por reservas de minerais críticos, cuja extração é distribuída de forma assimétrica, com países únicos a extrair pelo menos metade do lítio do mundo (Austrália), cobalto (República Democrática do Congo), níquel (Indonésia) e elementos de terras raras (China).
Entretanto, cerca de 60% a 90% dos minerais mais críticos são processados e refinados na China. À medida que os EUA e a Europa lutam para garantir acesso aos minerais críticos, governos de países produtores impõem um número crescente de restrições à exportação destes minerais.
Restrições podem causar volatilidade de preços e minar investimentos
Alguns desses países – Austrália, o Canadá, o Chile, a República Democrática do Congo, a Indonésia e a Zâmbia – vêem uma oportunidade única para alavancar a sua posição nas cadeias de abastecimento mais importantes do mundo, atrair investimento, criar empregos, reter lucros, subir na cadeia de valor e ganhar influência na política externa.
Mas de acordo com relatório do Eurasia Group, essa política de impor medidas de exportação de minérios brutos pode criar ineficiências de mercado, aumentar a volatilidade dos preços, com risco de minar investimento e a produção privados.
a China está aperfeiçoando um regime de controle das exportações para transformar o seu domínio mineral em arma, na esperança de ganhar vantagem na sua crescente concorrência tecnológica com os Estados Unidos e os seus aliados.
No ano passado, Pequim impôs restrições à exportação de gálio, germânio e grafite e, no final de dezembro, o governo proibiu exportação de maquinários utilizadas para refino e separação dos elementos de terras raras.
Novas regras do Tesouro dos EUA
Para 2024, o Eurasia Group avalia que pressões concorrentes dos importadores e exportadores de minerais críticos tornar-se-ão agudas à medida que os governos intensificarem a utilização de políticas industriais e restrições comerciais.
Do lado dos importadores, uma onda de novas giga fábricas de veículos elétricos entrará em operação na América do Norte e na Europa, com operações sujeitas a requisitos rigorosos de fornecimento.
As novas regras do Tesouro dos EUA, em vigor desde 1º de janeiro, impondo restrições à elegibilidade de subsídios para cadeias de abastecimento de VE, destinadas a contrariar o domínio de Pequim nas cadeias de abastecimento de metal para baterias, testarão a capacidade dos EUA de adquirir minerais e produtos relacionados aos chineses.
Do lado dos exportadores, a China começará a aplicar os requisitos de licenciamento de exportação de grafite que criou no ano passado em resposta aos controles de exportação dos EUA na sua indústria de semicondutores. Os elementos de terras raras podem ser os próximos.
Brasil pode equilibrar mercado de minerais críticos
A Indonésia poderia estender as restrições à exportação de níquel para outros metais, como o cobre, no período que antecede as eleições presidenciais no país este ano. Embora o atual presidente (Jokowi) não esteja concorrendo novamente, o favorito na corrida para sucedê-lo, Prabowo Subianto, promoveria o nacionalismo de recursos de Jacarta se fosse eleito.
E na África Subsariana, a Tanzânia está prestes a decretar uma proibição às exportações de lítio bruto, a Nigéria irá impor a proibição de exportação de minérios que aprovou no ano passado e Gana pode considerar políticas semelhantes.
Se o cenário se confirmar, restrições no fluxo de minerais crítico poderão perturbar importantes cadeias de abastecimento, como as dos fabricantes ocidentais de baterias para veículos elétricos.
O Brasil pode se beneficiar desse movimento, como parceiro estratégico, tanto dos EUA e Europa, quanto da China. O país possui uma reserva significativa de minerais críticos, com projetos avançados em Minas Gerais, Goiás e Bahia. Se souber aproveitar essa vantagem competitiva no mercado global, considerando a crescente demanda em tecnologias emergentes, terá um papel central na transição energética para uma economia de baixo carbono no planeta.