por Fernando Moreira de Souza
Condicionamento da Ajuda Militar e Financeira
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta segunda-feira sua intenção de condicionar o envio de apoio militar e financeiro à Ucrânia à garantia de fornecimento de terras raras e outros recursos estratégicos. A declaração reforça a postura crítica do líder americano em relação aos vultosos pacotes de ajuda concedidos a Kiev e sugere que ele busca formas de exigir contrapartidas dos ucranianos.
— Quero segurança para obter terras raras. Estamos investindo centenas de bilhões de dólares. Eles possuem excelentes reservas e estão dispostos a cooperar — afirmou Trump a jornalistas na Casa Branca. Ele ressaltou a busca por um acordo que assegure o retorno dos investimentos americanos por meio desses minerais estratégicos.
A Importância das Terras Raras
As terras raras são um grupo de elementos fundamentais para setores como a indústria aeroespacial e a tecnologia de ponta. A Ucrânia, antes da guerra, figurava entre os principais exportadores europeus desses materiais. Além disso, o país possui cerca de 500 mil toneladas de lítio inexplorado, um mineral essencial para a produção de baterias utilizadas em veículos elétricos, dispositivos móveis e computadores. Entretanto, dois dos quatro principais depósitos identificados estão sob controle russo. Especialistas apontam que a disputa por essas riquezas pode ter sido uma das razões que motivaram a ofensiva de Moscou.
Insatisfação com o Envio de Recursos
Trump não detalhou como funcionaria o possível acordo, mas deixou claro seu descontentamento com a ajuda militar enviada a Kiev desde o início do conflito, há quase três anos. Dados do Conselho de Relações Internacionais indicam que, dos US$ 175 bilhões (R$ 1,01 trilhão) aprovados pelo Congresso americano até setembro do ano passado, US$ 106 bilhões (R$ 615 bilhões) foram diretamente destinados à Ucrânia, incluindo suporte financeiro e armamentos. O restante foi utilizado para financiar operações dos próprios Estados Unidos e apoiar outros países da região.
Negociações e Possível Mediação
Encerrar o maior conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial tornou-se uma das prioridades de Trump, ao lado de sua política tarifária e da luta contra a imigração. Durante a campanha, ele afirmou que poderia negociar um acordo de paz em 24 horas. Após assumir o cargo, ajustou o prazo para 100 dias.
Nesta segunda-feira, o presidente americano declarou que está em contato com representantes da Ucrânia e da Rússia, além de manter reuniões e negociações programadas com diversas partes. No entanto, segundo ele, as tratativas ainda não chegaram a discussões concretas sobre um cessar-fogo.
Impasses nas Negociações
O enviado especial de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, afirmou à Fox News que “ambos os lados precisam ceder um pouco”. No momento, Kiev rejeita qualquer concessão territorial e exige garantias para ingressar na Otan, aliança militar liderada pelos EUA. Por outro lado, a Rússia insiste na manutenção dos territórios ocupados — aproximadamente 20% do território ucraniano — e busca garantias de que a Ucrânia não se juntará à organização ocidental.
O presidente russo, Vladimir Putin, também se recusa a negociar diretamente com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, a quem considera “ilegítimo”. O mandato de Zelensky terminou em maio de 2024, mas, devido à lei marcial em vigor, novas eleições não podem ser realizadas. Apesar disso, sua permanência no cargo segue dentro da legalidade, conforme a legislação ucraniana.