por Fernando Moreira de Souza
Falta de capital para investimento em tecnologias verdes é a maior barreira contra o “net Zero”, afirma o setor minerário
O destaque mais relevante no estudo divulgado pela suíço-sueca ABB, que avaliou as percepções de lideranças da mineração sobre os esforços de descarbonização para tornar o setor neutro em emissões até 2050, considerando a meta lançada há três anos pelas maiores mineradoras do mundo com assento no conselho ICMM, de mineração e metais, é que 70% dos 412 executivos e especialistas entrevistados em 18 países para o levantamento pensam ser possível descarbonizar significativamente a mineração utilizando a tecnologia disponível, mas é necessário acelerar os investimentos em mitigação e solucionar os problemas infraestrutura, equacionando a volatilidade de preços de minerais.
Foram utilizados na pesquisa 400 questionários online e doze entrevistas qualitativas com executivos de mineradoras, provedores de tecnologia para a mineração e especialistas pré-selecionados, mas não foi revelado aos entrevistados que a demanda do levantamento veio da ABB.
CAMINHÃO ELÉTRICO DE MINERAÇÃO DE GRANDE PORTE DA CATERPILLAR CAT793
A queima do diesel, que é responsável por grande parte das emissões de gases liberados na atmosfera, fez com que os veículos elétricos fossem os mais citados entre os participantes como fonte de energia fundamental à meta de neutralidade. Entre 57% das lideranças entrevistadas, a falta de capital para investimento em tecnologias minerarias é o grande empecilho para sustentabilidade, seguida pela ausência de infraestrutura e a volatilidade dos preços das commodities minerais. De acordo com o estudo, a limitação de capital para a descarbonização é creditada à relutância dos acionistas de mineradoras em aprovar aportes em tecnologias com pouco ou nenhum histórico de aplicação na mineração, nem retorno financeiro verificado. Também ficou claro que a dificuldade em investir tem refletido na confiança sobre o cumprimento das metas de descarbonização já traçadas.
Mas o estudo aponta que os investimentos estão sendo realizados de forma gradual nas tecnologias que se mostraram funcionais e 53% dos entrevistados confirmou que as operações de suas empresas devem passar por transformações relacionadas à descarbonização nos próximos cinco anos, 42% disseram ter a intenção de fazer investimentos para descarbonizar a frota de caminhões até 2026 e 68% disse esperar que ao menos ¼ de suas frotas sejam compostas por veículos elétricos até o ano de 2030.
Capacitação de mão de obra
As mineradoras também estão preparando suas equipes para operar as novas tecnologias, 70% dos entrevistados disseram que suas empresas já têm ações de capacitação voltadas aos colaboradores de seus quadros. As instituições de ensino seguem o mesmo caminho. “Estamos formando engenheiros para serem integradores, abordando diferentes disciplinas acadêmicas e demandas da mineração”, relatou Elisabeth Clausen, diretora do Instituto de Tecnologias Avançadas para Mineração da Universidade de Aachen, na Suécia, falando aos pesquisadores.
O levantamento da ABB mostrou a importância das decisões tomadas pelas mineradoras em se comprometer com o enfrentamento do desequilíbrio climático e o dialogo com a sociedade, pois tais decisões serão fundamentais na prevenção de uma escassez de talentos no futuro, como engenheiros da Geração Z e Millennials, onde existe a visão de que a mineração é uma atividade prejudicial ao meio ambiente.