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Por Ricardo Lima
No sertão de Minas Gerais, entre serras e veredas da zona rural Canela D’ema cerca de 20 quilômetros do município de Salinas, vive a comunidade quilombola Olaria Bagres. Composta por cerca de 25 famílias remanescentes de quilombo, que preservam histórias de resistência, trabalho coletivo e uma relação ancestral com a terra. Agora, com apoio da mineradora australiana PLS, um novo capítulo vem sendo escrito – desta vez com ritmo, som e identidade.
Como parte de um conjunto de ações voltadas ao desenvolvimento territorial e valorização cultural, a PLS realizou recentemente a doação de instrumentos musicais para a comunidade. A iniciativa busca fortalecer o resgate das expressões culturais locais, fomentar a autoestima coletiva e criar novas oportunidades para as gerações mais jovens.
“É um momento da gente se emocionar. Agora podemos fazer um batuque bem aconchegante e alegre”, diz dona Elza, liderança do quilombo.
“É como se nossos ancestrais voltassem a falar com a gente”, conta emocionado José Antônio. Seu Antônio diz que a comunidade improvisava a cantoria com “uns pratos e uma cuia velha.”. E com os instrumentos eles vão resgatar suas tradições.
Batuque do quilombo
A entrega dos instrumentos foi marcada por um momento simbólico e emocionante. No início, mulheres, homens e crianças se aproximaram com timidez, observando os violões, tambores, pandeiros e a sanfona cuidadosamente dispostos no centro da roda. O silêncio respeitoso durou pouco. Bastou o primeiro acorde da sanfona e o batucar ritmado do pandeiro para o clima mudar completamente.
Aos poucos, sorrisos se abriram, corpos começaram a balançar, e logo a roda virou festa: os moradores da Olaria Bagres cantavam e dançavam ao lado dos funcionários da PLS, em uma celebração espontânea de pertencimento, alegria e reconhecimento.
“Nosso relacionamento é baseado na confiança. Se não fossem vocês abrirem as portas, permitindo que a gente mostrasse quem realmente é a PLS, com certeza não estaríamos aqui hoje, celebrando esse momento tão especial. Estamos muito felizes em poder entregar esses instrumentos e, mais do que isso, contribuir com a ampliação da associação, para que vocês possam usar esse espaço da melhor forma possível, disse Marisa Cesar, diretoria de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da PLS, durante a entrega dos instrumentos para a comunidade.

Entrega dos instrumentos se transformou em festa entre moradores e representantes da PLS
Um gesto que reverbera
Mais do que uma entrega pontual, a ação é parte de um esforço de aproximação com as comunidades tradicionais do entorno do Projeto Colina, que a PLS desenvolve na região. A iniciativa com Olaria Bagres foi construída a partir do diálogo com os próprios moradores, que expressaram o desejo de reativar práticas culturais que vinham sendo silenciadas com o tempo.
“Entendemos que respeitar o território é também ouvir suas vozes. E a música é uma das formas mais legítimas de expressão identitária”, afirma Marisa Cesar.
A executiva da PLS explica que a iniciativa surgiu após a consulta livre, prévia e informada realizada espontaneamente pela PLS. Embora a comunidade já tenha sido certificada pela Fundação Cultural Palmares como remanescente de quilombo, o território ainda não é reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o que impede a regularização fundiária e a exigência formal de cumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Nós decidimos fazer a consulta por iniciativa própria. Sabíamos que juridicamente não era exigido, mas entendemos que dar voz à comunidade é uma forma de respeito”, afirma Marisa Cesar.
A PLS mantém um plano de desenvolvimento Sócio Ambiental que contempla as seis comunidades do entorno do Projeto Colina. No caso da Olaria Bagres, além dos instrumentos, a empresa está ampliando o espaço da associação para realização de oficinas, reuniões e celebrações culturais. “Queremos apoiar aquilo que tem valor para o território. E a cultura é um dos elementos centrais dessa construção”, reforça a diretora da mineradora.
Entre os instrumentos entregues estão tambores, violões, pandeiros, sanfona e outros itens que poderão ser utilizados em celebrações tradicionais, oficinas e atividades com crianças e jovens da comunidade.
A iniciativa segundo Vitor Moreira, coordenador de Relações Institucionais e Comunidades da PLS, busca resgatar e fortalecer a cultura quilombola e estimular o fortalecimento de vínculos comunitários e o protagonismo cultural.

Diretora da PLS Marisa Cesar e dona Elsa liderança da comunidade
Território vivo
Olaria Bagres guarda em seu nome uma parte da história local: o ofício do barro, o curso do rio e o saber passado de geração em geração. Ainda hoje, famílias produzem utensílios e mantêm práticas ligadas ao cultivo tradicional e à oralidade. Mas como muitas comunidades quilombolas no país, também enfrentam desafios como o acesso a políticas públicas, reconhecimento territorial e inclusão produtiva.
Nesse cenário, ações de valorização da cultura e promoção de direitos ganham ainda mais relevância. Para a comunidade, o gesto da PLS é um passo simbólico – e também prático – rumo ao reconhecimento de sua história e ao fortalecimento de suas raízes.
“A gente canta, dança, toca e conta nossas histórias. E agora as crianças também vão poder aprender com a gente”, comemora dona Elza. Ela conta que a comunidade recebeu o certificado da Fundação Cultural Palmares como remanescente de quilombo. E reconhecimento segunda ela é um resgate de um povo as suas origens.