por Fernando Moreira de Souza
A mineradora australiana St. George está contrapondo o monopólio na extração de nióbio dos Moreira Salles, uma das famílias mais ricas do Brasil e controladora da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), detentora de 80% do mercado mundial.
Em 2024 a A St. George deu inicio ao processo de aquisição de um projeto de extração de nióbio, no município mineiro de Araxá, e lançou ações na Bolsa de Sydney para captar 20 milhões de dólares australianos. A St. George pretende extrair 5.000 toneladas de nióbio a partir de 2027 na cidade onde está instalada a CBMM.
O valor é inferior a 5% das 150 mil toneladas que a mineradora dos Moreira Salles produz anualmente, o que demonstra coragem dos australianos na disputa por mão de obra com uma empresa predominante como a CBMM.
A St. George é conhecida como uma empresa júnior mining, pois seu portfólio é feito de projetos vendidos a mineradoras de grande porte. Fundada em 2011, com o objetivo de pesquisar jazidas de lítio, níquel e cobre na Austrália, não conseguiu extrair os minerais e seus ativos caíram frente aos crescentes obstáculos financeiros na transição energética.
Thiago Amaral, que foi executivo da CBMM até o ano passado e atualmente ocupa o cargo de diretor da St. George no Brasil, conta que a mineradora foi atrás de metais com mercados mais consolidados, como o do nióbio, metal conhecido entre investidores australianos depois das ações de uma mineradora dispararem com a descoberta de reservas no deserto australiano. “O nióbio traz um mercado mais estável ao longo do tempo e tem previsão de crescimento bem delineada”, disse Amaral.
90 % do nióbio está concentrado no Brasil e para o governo norte-americano ele é o segundo metal mais crítico para a transição energética. A CBMM desenvolveu o mercado global de nióbio ao encontrar grandes reservas do metal nos anos 50, em Araxá e fechando o acorde de partilha com o governo mineiro em 1973 e até os dias atuais o estado fica com 25% do lucro líquido da empresa.
Um dos destinos do metal é a produção de óxido de nióbio, matéria-prima de motores e turbinas de avião. A CBMM criou baterias para veículos produzidas a partir do óxido de nióbio, mas o equipamento, que foi recarregado em apenas dez minutos durante um teste feito com ônibus elétrico, ainda é muito caro para ser lançado no mercado. Mas com o objetivo de demanda por essas baterias, no final de 2024 a CBMM inaugurou uma nova planta em Araxá, com capacidade para produzir 3.000 toneladas do material e plano de expansão para 20 mil toneladas até 2030.
Os australianos sabem que irão encontrar barreiras e de sua pouca capacidade, por isso a estratégia da empresa é atuar com clientes que não tem total atendimento da CBMM. A St. George busca com muita dificuldade a aquisição de US$ 21 milhões e está tentando um acordo de antecipação de recursos em troca de parte da produção junto a uma trading chinesa.