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Por Redação
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) elaborou um diagnóstico inicial que identifica como o Brasil pode converter seu vasto potencial mineral em produtos de maior valor agregado. O levantamento, obtido pelo Valor Econômico, destaca as oportunidades para integrar o país a cadeias de veículos elétricos, energia solar, motores eficientes e materiais avançados.
Apesar da posição privilegiada em recursos minerais, o Brasil ainda exporta quase tudo em estado bruto — e avança pouco nas etapas industriais mais lucrativas e estratégicas.

Imagem: Valor Econômico / Reprodução.
Potencial mineral elevado, mas industrialização limitada
O Brasil é dono de uma das maiores diversidades minerais do planeta e ocupa posição favorável em reservas essenciais para a transição energética e para setores de alta tecnologia. O diagnóstico do Mdic, porém, mostra um descompasso: embora o país detenha vantagens relevantes em minerais críticos e estratégicos — como nióbio, lítio, grafite e terras raras — sua participação nas etapas industriais que concentram maior valor agregado ainda é reduzida.
Minerais críticos são fundamentais para baterias, carros elétricos, turbinas eólicas e painéis solares. Já os minerais estratégicos têm peso para a soberania nacional, presentes em radares, mísseis, aeronaves de combate e supercomputadores. Alguns elementos acumulam os dois papéis, como o cobalto. Grande parte desses materiais está ainda mais perto do cotidiano do que se imagina: compõem telas de celulares, computadores e televisores.
Entre eles, as terras raras se destacam pela complexidade tecnológica e pela importância na descarbonização global e em dispositivos de alta precisão. Hoje, apenas uma empresa opera nesse segmento no Brasil, limitada à extração e concentração do minério — etapas iniciais e de valor relativamente baixo. A separação e o refino, que transformam o carbonato misto em óxidos de alta pureza, seguem como gargalo industrial e são etapas dominadas por China, Japão e Europa.
Gargalos da cadeia e desafios para avançar na verticalização
O Mdic avalia que o principal desafio para a verticalização das terras raras no Brasil é a instalação de uma planta de separação química — unidade complexa, intensiva em energia e mão de obra especializada, com custo estimado em cerca de US$ 500 milhões.
Segundo Mariano Laio, chefe da Divisão de Minerais Críticos e Estratégicos da ANM, o avanço na cadeia é determinante para gerar valor. “Cada elo agrega valor e alguns são exponenciais. Da etapa de separação para a produção de ligas, o valor sobe, em média, dez vezes”, afirma. Por isso, acrescenta, é fundamental construir uma base nacional de tecnologia, patentes, capacitação profissional e equipamentos.
Para viabilizar empreendimentos dessa escala, o Mdic aponta a necessidade de contratos de longo prazo com indústrias consumidoras — como montadoras —, segurança jurídica, incentivos fiscais, escala mínima que dilua custos fixos e linhas de crédito voltadas à industrialização.
O setor também enfrenta barreiras estruturais. A ANM destaca que, do início da pesquisa mineral até a implantação da mina, o processo leva cerca de 15,5 anos em média — podendo chegar a quase três décadas. Os investimentos são altos, demorados e sem garantia de retorno.
Cadeias de oportunidade e riscos estratégicos
Além das terras raras, o mapeamento do Mdic identifica potenciais expressivos em outras cadeias, como a de baterias de lítio. Segundo o Ministério, o desenvolvimento dessa indústria no Brasil pode gerar até 50 mil empregos diretos e indiretos até 2030 e reduzir em até 40% a dependência de importações de componentes para veículos elétricos e híbridos.
O diagnóstico também aponta espaço para transformar grafite — essencial para carros elétricos e eletrônicos — em grafeno e ampliar o uso desse material em produtos de maior valor tecnológico. No entanto, alerta para riscos: a oferta global de grafite é altamente concentrada, especialmente na China, e grandes fabricantes já firmam contratos de longo prazo por grafite sintético nos EUA e Europa.
O Ministério de Minas e Energia (MME) afirma que atua de forma contínua para fortalecer o setor de transformação mineral, conforme diretrizes do Plano Nacional de Mineração 2030, que defende o adensamento produtivo em toda a cadeia mineral. A pasta também trabalha na construção da Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE) e acompanha, junto ao recém-criado Conselho Nacional de Política Mineral, a elaboração de propostas para impulsionar a indústria de minerais críticos no país.












