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Fernando Moreira Souza
Warley Pereira
Ricardo Lima
A Polícia Federal mantém sob investigação um suposto esquema bilionário de extração ilegal e comercialização de manganês, ouro e cobre na região de Marabá e Parauapebas, no sudeste do Pará, um dos principais polos de mineração clandestina do país. As apurações miram uma rede complexa de mineradoras, intermediários portuários, empresas de fachada e operadores financeiros suspeitos de promover lavagem internacional de capitais a partir da venda de minério extraído ilegalmente.

Segundo fontes com acesso às investigações, o esquema estaria sendo atualmente coordenado por Alexandre Masoller Borges, apontado como braço direito de Jamil Amorim, foragido da Justiça e, segundo os investigadores, chefe da estrutura criminosa que atua na região.
Procurado pela reportagem, Masoller não respondeu aos questionamentos. Em nota enviada por sua advogada, negou envolvimento no esquema de extração ilegal de manganês ou com o grupo de Amorim.
A atuação da MR Mining entrou no radar das autoridades após a empresa ser citada no Inquérito núm. 2024.0126283-SR/PF/PA, instaurado a pedido da Receita Federal. No inquérito, a empresa é apontada como compradora de 20 contêineres de manganês extraído ilegalmente.
O minério, segundo fontes da PF, seria “esquentando para exportação” pela MR Mining numa tentativa de driblar a fiscalização das autoridades.
“Desde que teve ciência dos fatos, tanto o Sr. Alexandre Borges quanto a MR Mining Ltda têm colaborado de forma transparente, proativa e irrestrita com as autoridades competentes, fornecendo todos os documentos e informações necessários para o pleno esclarecimento dos fatos”, disse em nota a empresa.
A MR Mining sustenta ainda que todas as suas operações — sejam comerciais, logísticas ou administrativas — são conduzidas em estrita conformidade com a legislação vigente e que “não há, nem nunca houve, qualquer vínculo de natureza societária, contratual ou negocial” entre Alexandre Borges e Jamil Amorim.
Escritório fantasma
Contudo, a apuração do Minera Brasil revela indícios que reforçam as suspeitas de irregularidades da MR Mining. No endereço declarado como sede da empresa em Goiânia, um conjunto comercial conhecido na cidade, a reportagem encontrou a sala desocupada e disponível para aluguel há mais de um ano.
Esse fato chama atenção e levanta alguns questionamentos: como uma empresa com capital social declarado de R$ 4 milhões não possui estrutura operacional e administrativa ativa? A distância entre o endereço e as operações na Amazônia, a quase dois mil quilômetros dali, também alimenta as suspeitas de que a empresa atue como companhia de fachada, facilitando movimentações logísticas e financeiras de terceiros.
Em uma publicação recente em rede social, Alexandre Masoller aparece ao lado de pilhas de manganês na Vila União, no Pará, um dos pontos já mapeados pelas autoridades como centro de extração clandestina de minério.
Segundo a Polícia Federal, o inquérito segue sob sigilo e busca desvendar a venda e exportação do manganês sem lavra regular. O que configura crimes como usurpação de bem mineral da União, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa.
O minério seria exportado com documentação fraudada. O que também levanta suspeitas sobre o uso de empresas intermediárias em operações de comércio exterior.
Procurada, a Agência Nacional de Mineração (ANM) disse que não autoriza embarque de minérios, apenas informa a regularidade de áreas, quando demandada.