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Por Ricardo Lima
Um levantamento recente realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) revelou indícios promissores da presença de titânio em regolitos – camadas de solo e rochas alteradas – localizados no oeste do Paraná e no norte de Santa Catarina. O estudo, publicado no Informe de Recursos Minerais nº 43, sugere que o país pode estar diante de uma nova fronteira mineral, com potencial comparável ao de depósitos supergênicos já identificados no Paraguai. O avanço representa um marco importante na tentativa de reduzir a dependência brasileira da importação de dióxido de titânio, essencial para diversas cadeias produtivas de alto valor agregado.
O projeto, intitulado Potencial para Mineralizações de Titânio em Regolitos no Grupo Serra Geral, foi conduzido com base em um mapeamento de favorabilidade. Dados geofísicos – como gravimetria e aeromagnetometria – foram integrados a análises geoquímicas, resultando na identificação de quatro áreas promissoras. Duas delas foram selecionadas para análise aprofundada: o Alvo 1, no centro-sudoeste do Paraná (próximo a Medianeira e Itaipulândia), e o Alvo 2, no sudoeste do estado, nas proximidades de Pato Branco.
A partir dessas informações, centenas de amostras foram coletadas em campo, abrangendo solos, saprólitos (rochas parcialmente alteradas) e rochas inteiras. As coletas, realizadas entre 20 centímetros e 1,7 metro de profundidade, foram distribuídas em malhas irregulares para cobrir áreas extensas. O material passou por exames laboratoriais avançados, incluindo petrografia, difração de raios X (DRX), fluorescência de raios X (XRF) e o método de Rietveld, com o objetivo de caracterizar os minerais presentes e avaliar sua concentração.
Concentração de titânio surpreende pesquisadores
De acordo com os resultados, aproximadamente 90% dos solos analisados são classificados como latossolos – solos profundos, férteis e derivados de rochas vulcânicas ricas em ferro. Nesses materiais, foram detectados minerais como ilmenita, rutilo e anatásio, sendo a ilmenita o mais comum em áreas de maior concentração.
Chamou atenção o enriquecimento supergênico de titânio nos regolitos, causado por processos naturais de intemperismo e lixiviação. Em uma das amostras, coletada próxima ao Astroblema de Vista Alegre – uma cratera de origem meteorítica –, o teor de dióxido de titânio (TiO₂) atingiu 9,39%, patamar comparável ao de jazidas exploradas comercialmente em outras partes do mundo. No Alvo 1, os índices oscilaram entre 7,9% e 8,1%, com maior concentração em áreas de topografia rebaixada e proximidade com drenagens naturais.
Potencial econômico e desafios futuros
A presença de depósitos relevantes de titânio em território nacional reacende o debate sobre o papel do Brasil na cadeia global de minerais estratégicos. Hoje, o país depende da importação de dióxido de titânio, mesmo sendo reconhecido por sua abundância em recursos naturais. Com as descobertas no Paraná e em Santa Catarina, abre-se a possibilidade de estabelecer uma nova base de extração, beneficiamento e exportação do mineral.
Contudo, especialistas do SGB destacam que será necessário avançar em estudos complementares, especialmente no que diz respeito à compreensão dos processos geológicos que favorecem a concentração do titânio. Além disso, o aprimoramento das técnicas de prospecção e extração será essencial para viabilizar economicamente esses depósitos.
O cenário que se desenha é promissor: com investimento contínuo em pesquisa mineral, o Brasil pode consolidar-se como protagonista na produção de titânio, contribuindo tanto para o desenvolvimento interno quanto para o fornecimento global de materiais críticos à inovação tecnológica e à transição energética.
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