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Por Ricardo Lima e Warley Pereira
A cadeia produtiva das terras-raras, de sua extração mineral até a aplicação em produtos de alto valor agregado, foi debatida na terça-feira 16/9, durante seminário em goiânia promovido pelo Minde, sindicato que reúne as mineradoras do estado, com apoio do SENAI e da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG).
O presidente da Minde, Luiz Antônio Vessani, ressaltou o papel estratégico do país na cadeia global de terras raras no mundo.
“O Brasil é o segundo em potencial de terras raras do mundo”
Luiz Antônio Vessani – Presidente do Minde
Ele destacou que o desafio está em desenvolver competências tecnológicas para transformar o mineral até o produto final: ímãs usados em tecnologias de ponta, como turbinas eólicas, veículos elétricos e dispositivos eletrônicos.
Segundo Vessani, o Brasil ainda não possui uma indústria nacional capaz de produzir ímãs, mas o seminário evidenciou como Goiás começa a se posicionar para liderar essa discussão e reduzir a dependência das importações chinesas. “Os ímãs consumidos no Brasil pela indústria são 100% importados”, alertou, ressaltando a urgência de fomentar pesquisas conduzidas por institutos de ciência e tecnologia.

Seminário evidenciou como Goiás se posiciona na cadeia produtiva de terras raras.
Leonardo Prudente, diretor executivo da Axía Resources, reforçou o ineditismo do encontro, ao reunir universidades, centros de pesquisa e executivos de empresas mineradoras que estão desenvolvendo projetos no Brasil. “Isso nunca foi realizado antes. Ou seja, um encontro que você traz os melhores técnicos do Brasil e de renome internacional”, disse, elogiando a integração entre pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Prudente explica que o país já dispõe de projetos piloto capazes de separar, purificar e criar ligas metálicas que permitem a produção dos primeiros ímãs no país, mas que é preciso avançar para produção em escala.
O representante da Power Minerals, Luiz Curado, avalia que os debates durante o seminário foram consistentes e abrangentes. “Foi um debate profundo, não só de geologia, mas também do processamento de terras-raras, focando do downstream a upstream”, disse Curado, acrescentando que a verticalização da cadeia de terras raras no Brasil pode replicar o êxito já alcançado em outros minerais estratégicos, como o nióbio.
Reservas estratégicas em Minas e Goiás
Marcelo Carvalho, diretor da Meteoric Resources, destacou o potencial único do projeto Caldeira, no município de Caldas (MG). “Hoje a Meteoric tem um pouco mais de um milhão de toneladas em reservas medidas, o que já garante mais de 100 anos de produção — e só exploramos 15% do depósito”, afirmou. Ele relatou que, dentro do projeto Caldeira, projetando os dados já pesquisados, as reservas chegam a pelo menos 40 milhões de toneladas de óxidos de terras-raras, o dobro da capacidade de Mountain Pass, nos Estados Unidos.
Carvalho explicou que com Serra Verde em operação, somado aos projetos em desenvolvimento como o da Meteoric, Aclara e Viridis, o Brasil poderá responder por até 35% da oferta mundial de terras raras nos próximos cinco anos. Um salto exponencial, que colocaria o país entre os protagonistas do setor.
Já Murilo Nagato, country Manager da Aclara Resources no Brasil, apresentou o projeto da empresa em Nova Roma (GO), voltado à extração de argilas iônicas com menor impacto ambiental. Ele ressaltou ainda o diferencial da Aclara no fornecimento de terras raras pesadas, com pureza acima de 95%, um mercado em que o monopólio chinês é ainda mais significativo do que nas terras raras leves.
O secretário de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, Joel Braga Filho, destacou a posição do Estado como hub das terra raras nas Américas. “Conseguimos ser o primeiro Estado do Brasil a registrar terras raras na Agência Nacional de Mineração e, hoje, somos o hub dos remineralizadores, graças a um conjunto de fatores”, afirmou. Ele lembrou que Goiás já atraiu investimentos estrangeiros, como os da Serra Verde, e despertou o interesse de países como Japão e China.
Da mina ao ímã
O pesquisador Luís Gonzaga Trabasso, chefe do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser, apresentou durante o encontro, o projeto MagBras (Magnets from Brasil), voltado para o desenvolvimento da produção nacional de ímãs permanentes de terras-raras. A iniciativa reúne 28 empresas e conta com investimento de R$ 73 milhões para consolidar toda a cadeia produtiva, com coordenação geral da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) e liderança do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT SENAI).
O pesquisador destacou que o MagBras se diferencia por abranger todas as etapas da cadeia produtiva, desde a extração até o reaproveitamento de materiais. “Inclui o ciclo de vida total de ímãs permanentes, desde a extração até a produção. Além disso, trabalha também com a reciclagem: usar ímãs no final de vida para pegar o material e colocar na produção novamente”, explicou.
Segundo ele, o projeto busca atender demandas industriais estratégicas, como o setor automotivo e a geração de energia eólica, criando condições para que o Brasil deixe de ser apenas fornecedor de matéria-prima. Um dos diferenciais é o LabFabITR, o primeiro laboratório-fábrica de ímãs e ligas de terras-raras do hemisfério sul, instalado em Lagoa Santa (MG) e adquirido pelo CIT SENAI em dezembro de 2023. A unidade, anteriormente operada pela Codemge, reúne áreas de química, metalurgia, processamento mineral, ligas especiais e meio ambiente.
O pesquisador lembrou que o SENAI, como instituição de pesquisa, não comercializará os produtos, mas pretende estimular a iniciativa privada. “O MagBras pretende induzir as empresas a enxergarem essa cadeia como oportunidade de negócio, inclusive para exportação”, ressaltou.
Para Luis Gonzaga, a iniciativa representa um movimento de ‘reshoring’, trazendo de volta ao Brasil atividades industriais estratégicas e fortalecendo a posição do país na transição energética global.
Sustentabilidade e agregação de valor
Para Nagato, da Aclara, o compromisso com a recuperação ambiental é um dos diferenciais do projeto localizado em Nova Roma. “O plano de pós-mina nasce no nosso conceito de colheita mineral circular, onde a gente pega todo o minério que é da terra, trata e volta para a natureza reflorestando tudo”, explicou.

Joel Braga Filho destacou a posição do Estado como hub das terras-raras nas Américas.
O secretário Braga afirmou que agregar valor dentro do território é fundamental. “Não só levando mineral, que é a primeira fase, e sim a segunda fase, a transformação no produto final, que agrega valor, que gera renda, que dá melhores salários”, disse, defendendo que a expansão da cadeia local fortaleça a economia e gere empregos de qualidade.
Vessani reforçou que esse esforço exige parcerias entre empresas, institutos de pesquisa e governos. “O que a gente precisa é exatamente fomentar, estimular esse desenvolvimento dos institutos de ciência e tecnologia, esses estudos, para que se possa oferecer às empresas essa oportunidade de investir nessa cadeia produtiva”, concluiu.