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por Fernando Moreira de Souza
O Brasil estuda explorar depósitos minerais situados a até 3 mil metros de profundidade na Elevação do Rio Grande (ERG), uma extensa cordilheira submersa no Atlântico Sul. A área, localizada a cerca de 1.500 km da costa do país, abriga crostas e nódulos polimetálicos com elevado teor de níquel, cobalto, cobre e outros elementos críticos para tecnologias de baixo carbono.
Com aproximadamente 150 mil km², a ERG é maior que o estado do Ceará. A estrutura geológica, formada por atividade vulcânica há milhões de anos, permanece submersa sob até 4 mil metros de coluna d’água. Os depósitos ali encontrados — seja em forma de crostas aderidas ao basalto, seja como nódulos soltos no solo marinho — têm despertado atenção por seu potencial econômico e estratégico.
Estudos conduzidos pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em cooperação com a Marinha e o Comitê Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), vêm sendo realizados desde 2009. Em dezenas de expedições, foram utilizados sonares de alta resolução, dragas de fundo e veículos submersíveis para mapear a região e coletar amostras. O objetivo é claro: identificar e quantificar os recursos disponíveis para fundamentar um pedido de exploração à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), órgão vinculado à ONU.
Exploração ainda depende de regulação internacional e cuidados ambientais
Enquanto países como Japão, China, França e Canadá avançam em testes de tecnologia para mineração em águas profundas, o Brasil busca consolidar sua soberania sobre a ERG. Em 2013, foi encaminhado à ONU um pedido de ampliação da plataforma continental brasileira, incluindo a elevação dentro da chamada “Amazônia Azul”. A proposta ainda aguarda decisão.
O interesse internacional não é à toa. Níquel, cobalto e cobre são essenciais para baterias, turbinas e sistemas elétricos — setores que devem crescer exponencialmente nas próximas décadas. Estimativas preliminares do CPRM apontam a presença de crostas com mais de 10 kg/m² de cobalto em algumas áreas. Considerando a cotação atual, apenas esse metal pode representar dezenas de bilhões de dólares em valor potencial.
Contudo, a exploração de minerais em alto-mar desperta sérias preocupações ambientais. Ecossistemas marinhos profundos, muitos deles ainda desconhecidos, são extremamente sensíveis. A extração de nódulos e crostas pode causar impactos irreversíveis, alerta a comunidade científica. Organizações como a ONU, Greenpeace e Deep Sea Conservation Coalition vêm defendendo uma moratória global até que haja regras claras e medidas de proteção ambiental.
No momento, o Brasil permanece na etapa de pesquisa científica. Para iniciar a exploração comercial, ainda será necessário o reconhecimento internacional da plataforma estendida, a criação de um marco legal nacional específico, o desenvolvimento de tecnologias apropriadas e, sobretudo, a avaliação rigorosa dos impactos ambientais.
Se confirmada sua viabilidade, a mineração na Elevação do Rio Grande poderá inaugurar um novo ciclo para a indústria mineral brasileira, semelhante ao impacto do pré-sal no setor energético. O país poderá, assim, posicionar-se como fornecedor relevante de insumos estratégicos para a economia de baixo carbono. O desafio, no entanto, será equilibrar soberania e responsabilidade, inovação e sustentabilidade — evitando repetir o modelo extrativista que historicamente marcou o desenvolvimento mineral brasileiro.