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por Fernando Moreira de Souza
Reportagem de Domingos Zaparolli, no Valor Econômico, informa que o Brasil possui um papel de destaque no cenário global de minerais críticos e estratégicos, essenciais para setores como energia renovável, tecnologia e defesa. No entanto, especialistas alertam que o país ainda está distante de explorar plenamente esse potencial. Estima-se que até 2029 os investimentos no setor somem US$ 24,3 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Embora o montante seja relevante, ainda está aquém das possibilidades que as reservas brasileiras oferecem.
De acordo com o presidente do Ibram, Raul Jungmann, o Brasil ainda não despertou para a dimensão da oportunidade. “Nossas reservas representam uma via direta para o futuro”, afirmou. Ele também reforça a necessidade de tornar o processo de licenciamento de lavras mais eficiente, sem comprometer os critérios socioambientais.
O “Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos 2025”, do Ministério de Minas e Energia (MME), mostra que o país detém expressivas jazidas: 12,3% das reservas mundiais de níquel e 26,4% das de grafita. Ainda assim, a produção brasileira responde por apenas 2,47% e 4,56% da oferta global desses minerais, respectivamente. O contraste é ainda maior no caso das terras raras: embora o Brasil concentre 19% das reservas globais, sua participação na produção é de meros 0,02%.
Outro exemplo é o lítio, fundamental para baterias: 4,9% das reservas mundiais estão em território brasileiro, mas a produção representa 2,72% da oferta global. O país lidera em nióbio, com 94% das reservas e 90% da produção mundial, e também é relevante em vanádio, manganês e bauxita.
Enquanto isso, grandes potências avançam em acordos e medidas geopolíticas para garantir acesso a esses insumos. Os Estados Unidos, por exemplo, negociaram com a Ucrânia a exploração de reservas minerais em troca de apoio militar. Já a União Europeia anunciou investimentos em 47 projetos para diminuir a dependência externa. A China, por sua vez, interrompeu as exportações de terras raras para os EUA em meio ao aumento das tensões comerciais.
Caminhos para destravar o setor
A crescente demanda por minerais estratégicos acirra a corrida global por suprimentos. A Agência Internacional de Energia projeta que o mercado relacionado à transição energética deve saltar de US$ 320 bilhões em 2023 para US$ 1,1 trilhão até 2030. O Banco Mundial calcula que os investimentos necessários para atender essa demanda cheguem a US$ 1,7 trilhão em 15 anos.
Para o consultor da KPMG, Manuel Fernandes, o Brasil pode preencher lacunas em cadeias produtivas globais ainda em formação. “Há uma janela de oportunidade. É hora de identificar em quais minerais temos vantagens competitivas e consolidar cadeias de valor locais”, afirmou.
Apesar do potencial, o país enfrenta obstáculos. Atualmente, apenas 27% do território nacional está mapeado com a resolução mínima exigida (escala 1:100.000), o que dificulta o avanço dos investimentos. Países como Austrália, Canadá e Estados Unidos oferecem levantamentos geológicos mais detalhados e acessíveis. De acordo com Jungmann, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) sofre com falta de pessoal e recursos, o que compromete sua atuação.
Diante desse cenário, a busca por alternativas como parcerias público-privadas (PPPs) tem sido considerada por especialistas como forma de acelerar os trabalhos do SGB e da Agência Nacional de Mineração (ANM). O governo federal afirma estar atento a essas demandas.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a ANM autorizou mais de 4.600 projetos de pesquisa mineral no ano passado, com dez direitos de lavra já concedidos, todos voltados a minerais estratégicos. Além disso, o SGB está implementando o Plano Nacional de Geologia (PlanGeo 2025–2034), com previsão de mapear 73 áreas com alto potencial até 2034. “Nosso compromisso é fortalecer a indústria mineral brasileira e ampliar sua capacidade de transformação”, declarou o ministro.