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por Fernando Moreira de Souza
A Águia Fertilizantes retomou o Projeto Fosfato Três Estradas, em Lavras do Sul (RS), voltado à extração de fosfato natural para uso na agricultura. A construção das instalações para mineração deve começar em agosto. Paralelamente, a empresa alugou uma planta industrial em Caçapava do Sul, a cerca de 80 quilômetros da jazida, onde será feito o beneficiamento do minério para posterior distribuição.
A reativação do projeto ocorreu após decisão favorável da 1ª Vara Federal de Bagé, que validou o processo de licenciamento ambiental da mina. A ação, movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e entidades ambientalistas, alegava a ausência de consulta prévia às comunidades locais e pedia a anulação do licenciamento desde a aprovação do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Embora o MPF tenha recorrido ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), ainda não há data para o novo julgamento.
Desde 2011, mais de R$ 150 milhões já foram investidos na iniciativa, que é considerada estratégica para reduzir a dependência externa de fosfato — atualmente importado em grande parte da Ucrânia. Segundo estimativas da empresa, cerca de 150 empregos diretos devem ser gerados na fase inicial da operação.
Diego Boeira, gerente de projetos da companhia, afirmou que a decisão judicial fortaleceu a confiança de investidores estrangeiros. A Águia, que é uma empresa brasileira com capital australiano, tem ações listadas na Bolsa de Sidney. “Eles se sentiram mais seguros em relação à segurança jurídica no Brasil, o que é essencial para a continuidade dos investimentos”, afirmou.
Ainda de acordo com Boeira, o projeto passou por reformulações para reduzir os impactos ambientais. Entre as principais mudanças está a substituição do carvão, inicialmente previsto como fonte de energia, por alternativas mais limpas. Além disso, foi adotado um processo industrial que dispensa o uso de água. “Na época, a tecnologia disponível indicava o uso de uma usina termelétrica. Hoje, o cenário é diferente, com opções mais viáveis e sustentáveis”, explicou.
Produção antecipada e novos investimentos

Águia alugou estrutura da Dagoberto Barcellos em Caçapava do Sul para ser usada no beneficiamento do produto para distribuição comercial – Dagoberto Barcellos/Divulgação/JC
Enquanto a planta industrial definitiva está em construção em Lavras do Sul, a Águia encontrou uma alternativa para iniciar a produção e obter receita: o arrendamento da unidade da Dagoberto Barcellos em Caçapava do Sul, com capacidade de processamento de 100 mil toneladas por ano. A operação está prevista para começar no início de 2026.
Nos dois a três primeiros anos, o minério será extraído em Lavras e transportado para Caçapava, onde passará por moagem, peneiramento e embalagem. A partir de 2027, quando a unidade junto à jazida Três Estradas estiver concluída, a empresa passará a operar nos dois locais, com produção estimada em 400 mil toneladas anuais — sendo 300 mil em Lavras e 100 mil em Caçapava.
O produto final será um fosfato natural reativo, sem adição de químicos, vendido em forma bruta com composições que variam conforme a origem do minério. Comercialmente, será chamado de Pampafós e será oferecido em “big bags” de uma tonelada e em sacos de 50 kg. De acordo com o site de investidores da Aguia Resources, o preço estimado por tonelada gira em torno de 220 dólares australianos (cerca de R$ 800), mas ainda não foi fixado. “Já há interesse de distribuidores e cooperativas para pré-compra, mas precisamos definir a data de entrega antes de formalizar os pedidos”, destacou Boeira.
A empresa também conduz pesquisas em uma nova jazida de fosfato em Caçapava do Sul, próxima à planta alugada. A expectativa é que esse novo depósito entre em fase de licenciamento até 2027. Testes agronômicos já vêm sendo realizados desde o ano passado com culturas de inverno, como aveia e azevém, e de verão, como milho e soja. “Os resultados têm sido animadores, o que nos impulsiona a seguir com o licenciamento”, informou o gerente.
A Águia já identificou ao menos seis depósitos com potencial na região. Segundo Boeira, cada novo projeto exige ao menos três anos de estudos e testes antes de avançar para a fase de licenciamento ambiental. “Essas descobertas aumentam a vida útil do projeto, mas exigem investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento”, afirmou.
Além do fosfato, a empresa estuda a viabilidade de explorar cobre no sul do Estado. As pesquisas geológicas ainda estão em estágios iniciais, mas a prioridade, segundo Boeira, continua sendo a produção de fertilizantes.
Fonte: Jornal do Comércio