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Por Ricardo Lima
A mineradora canadense Aclara Resources está em tratativas com agências do governo dos Estados Unidos em busca de financiamento para seu plano de US$ 1,5 bilhão voltado à extração de terras raras em Goiás e no Chile, além da construção de uma planta de processamento nos EUA. A estratégia visa integrar a cadeia de suprimentos ocidental e reduzir a atual dependência da China, que responde por cerca de 90% da produção global de ímãs permanentes com elementos de terras raras. Matéria original publicada pela Bloomberg News.
De acordo com o CEO da companhia, Ramon Barua, a empresa já deu entrada em pedidos de financiamento junto a órgãos norte-americanos e se prepara para apresentar seu projeto em Washington. “Essas conversas no momento são privadas, mas um projeto como o nosso definitivamente chama a atenção do governo”, afirmou. “Portanto, estamos tentando explorar junto com eles se há uma oportunidade de unir forças.”
Investimentos estratégicos e contexto geopolítico
A movimentação da Aclara ocorre após o Departamento de Defesa dos EUA anunciar um investimento de US$ 400 milhões na MP Materials, atualmente o único produtor local de terras raras. O acordo prevê a construção de uma nova planta de ímãs no país — e a Aclara enxerga nisso uma oportunidade de complementaridade.
“Temos algo que é perfeitamente complementar ao acordo da MP Materials”, declarou Barua.
A companhia, que não possui receita e vale cerca de US$ 245 milhões na bolsa de Toronto, tem dois projetos em fase de desenvolvimento na América Latina. O plano é iniciar a extração de argila iônica, rica em elementos críticos para turbinas eólicas e veículos elétricos, até 2028. “Se quisermos atingir essa meta, precisaremos de um financiamento significativo até o final do ano”, completou o executivo.
A nova fábrica nos Estados Unidos, cuja localização ainda está sendo avaliada, poderá ser instalada na Louisiana, no Texas, na Carolina do Sul ou na Virgínia. A Aclara também firmou parceria com a empresa alemã Vacuumschmelze, que tem planos de construir uma planta industrial na Carolina do Sul.
Embora Barua não tenha revelado com quais agências ocorrem as negociações, ele mencionou como potenciais fontes de apoio o Departamento de Defesa, o Departamento de Energia e a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA. Segundo ele, o financiamento poderá vir por meio de subsídios, empréstimos ou investimentos diretos, a exemplo do que ocorreu com a MP Materials.
Riscos de mercado e mudanças na percepção dos investidores
O interesse atual por terras raras remonta ao início da década passada, quando empresas como a americana Molycorp atraíram grandes aportes, antes de enfrentarem o colapso do mercado, causado pela abundância de oferta e pela adoção de alternativas mais baratas.
Apesar disso, o cenário geopolítico recente tem alterado a postura dos investidores. Para Barua, as tensões entre China e Estados Unidos — intensificadas por restrições de exportação impostas por Pequim e a resposta estratégica de Washington — reacenderam a urgência por novas fontes fora da Ásia.
“O setor ainda enfrenta muitos obstáculos além de retirar elementos do solo, como competir com a China no processamento e criar uma referência de preço fora do mercado opaco da China”, avaliou.
Segundo ele, houve uma mudança no foco das negociações com investidores. “Anteriormente, as conversas se concentravam nos preços. Agora, os investidores estão mais preocupados com a rapidez com que os projetos podem ser iniciados”, disse. E concluiu: “Para projetos como o nosso, que exigem financiamento e contratos de compra e venda, é muito importante reconhecer que o preço desses elementos é significativamente mais alto do que o sugerido pelos chineses.”