De acordo com reportagem publicada pela FastMarkets, a recente suspensão das exportações de cobalto imposta pela República Democrática do Congo (RDC) desencadeou uma onda de volatilidade no mercado internacional, aumentando os temores em torno da estabilidade da cadeia de suprimentos e pressionando os preços globais do insumo. O bloqueio, com duração prevista de quatro meses, já provocou mudanças significativas no comportamento de compradores, investidores e fabricantes de baterias.
Preços em alta, cadeia de suprimentos sob tensão
De acordo com dados da Fastmarkets, a RDC foi responsável por 78% da produção mundial de cobalto em 2024. Diante disso, o impacto do veto é imediato: os preços do cobalto dispararam, à medida que agentes do mercado se esforçam para garantir volumes adicionais e cumprir contratos de fornecimento de longo prazo.
A cotação do cobalto de grau padrão, armazenado em Roterdã, variou entre US$ 14,25 e US$ 16,00 por libra no dia 12 de março, frente à faixa de US$ 13,00 a US$ 15,50 no dia anterior. Em 21 de fevereiro, véspera do anúncio da suspensão, o produto era negociado por valores entre US$ 9,50 e US$ 10,40. Já o cobalto hidróxido cif China subiu 84% no ponto médio, atingindo US$ 10,00 a US$ 11,00 por libra — avanço expressivo para um curto intervalo.
Consequências para investimentos e uso do cobalto
As consequências da decisão congolesa dividem opiniões entre operadores do setor. Parte do mercado considera a suspensão uma manobra arriscada do governo, que pode minar a confiança de investidores e estimular a substituição do cobalto nas baterias por compostos alternativos.
“Sim, os preços do cobalto agora estão mais altos como resultado, mas os fabricantes de equipamentos originais vão recorrer aos seus laboratórios para eliminar o cobalto das baterias”, avaliou um trader.
Outros, no entanto, acreditam que a situação será temporária.
“A produção continua permitida”, comentou um operador. “Em algum momento, esse volume será liberado ao mercado, e o excesso de oferta vai continuar, com os preços voltando a cair. Não acho que a química das baterias vá mudar de forma fundamental por causa disso”, afirmou.
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Nos últimos anos, o cobalto já vinha perdendo protagonismo nas baterias de veículos elétricos (VE). Em 2024, o volume médio do insumo por veículo caiu 25% em comparação ao ano anterior. A tendência global — especialmente fora da China — tem sido a migração para químicas como o lítio-ferro-fosfato (LFP), que, embora tenha menor autonomia, oferece custos mais baixos e maior estabilidade de fornecimento.
Ainda assim, as células NCM (níquel-cobalto-manganês) continuam relevantes nos mercados ocidentais, segundo Robert Searle, analista da Fastmarkets. Ele ressalta que o fornecimento de cobalto extraído por empresas não chinesas permanece, em sua maioria, concentrado na RDC.
A forma como a medida foi implementada — sem diálogo prévio com mineradoras — levantou dúvidas sobre a previsibilidade regulatória no país.
“O fato de que a suspensão das exportações nem sequer foi discutida previamente com as mineradoras, e simplesmente foi imposta, destruiu efetivamente o argumento de investimento para alguém disposto a aplicar bilhões de dólares em uma cadeia de suprimentos na RDC”, criticou um segundo trader.
Atualmente, o governo da RDC não está arrecadando royalties com o cobalto, já que o material permanece retido. Uma revisão da política está prevista para ocorrer em até três meses, o que pode resultar na manutenção do bloqueio, em sua prorrogação ou em mudanças estruturais.
Indonésia observa oportunidades, mas há desafios
Enquanto isso, a Indonésia emerge como potencial beneficiária do vácuo deixado pela RDC. O país produziu 31 mil toneladas de cobalto em 2024, representando cerca de 10% do mercado global. Seu crescimento foi impulsionado por projetos de lixiviação ácida de alta pressão (HPAL), que visam produzir 500 mil toneladas anuais de precipitado de hidróxido misto (MHP) — contendo aproximadamente 50 mil toneladas de cobalto.
O MHP, obtido a partir de minério de níquel laterítico, apresenta uma composição com 3% a 6% de cobalto e até 45% de níquel, sendo uma fonte eficiente para a produção de materiais usados em baterias do tipo NCM. Refinadores chineses já buscam diversificar seus fornecedores intermediários, considerando a Indonésia como alternativa à RDC. No entanto, especialistas alertam que o país ainda não possui infraestrutura suficiente para atender à demanda global no curto prazo.
“Se a RDC continuar a proibir exportações, isso pode ser uma grande oportunidade para a Indonésia, mas atualmente a capacidade para produzir cobalto metálico ou em outras formas é muito limitada”, afirmou um participante do mercado.
Diante do cenário, a perspectiva para os próximos meses é de instabilidade contínua. Caso o governo congolês opte por implementar cotas de exportação em junho, os preços podem se manter elevados. Por outro lado, a normalização das exportações poderia trazer alívio aos compradores e devolver equilíbrio ao mercado.