Ana Cabral Gardner, CEO da Sigma Lithium falou durante seminário sobre transição energética promovido pelo Ministério de Minas Energia, em Brasília, sobre a produção de lítio no Brasil. Ela explicou o estagio atual, planos para o futuro e desafios da companhia que lidera para consolidar o país como player mundial nas cadeias de baterias de veículos elétricos.
Dona do quarto maior complexo industrial de lítio do mundo, a Sigma Lithium tem seu modelo de negócio que busca construído numa cadeia de valor pela base e competividade industrial global, alicerçado em escala, eficiência de custo, tecnologia inovadora, sustentabilidade em suas operações e prosperidade para Vale do Jequitinhonha, disse a executiva.
Ana Cabral contou que mesmo antes de começar produzir, a “empresa entendeu que era necessário apoiar as comunidades da região com projetos de renda, sociais e ambientais.” Essa renúncia de valor no começo em prol da sustentabilidade tornou a empresa competitiva e com licença social forte para operar numa região carente, que tem se desenvolvido nos últimos. “Temos muito orgulho do que estamos fazendo”, disse.
Go Big or Go Home
Ana Cabral explicou que o conceito de lítio sustentável integra mina com siderurgia agregando em 80 vezes valor ao minério produzido pela empresa. Além disso, a capacidade de escalar uma produção sustentável é outro diferencial para manter a Sigma Lithium na posição de liderança no mercado internacional. “A gente faz uma mineração verde. Nossa planta é única no mundo. Ela é carbono zero, entregando esse lítio quíntuplo-zero.”
Ana Cabral disse ainda que após a última auditoria para validação de suas reservas minerais, a Sigma colocou o país à frente da Austrália e Canadá.
“Nós demos um salto com essa última validação de auditoria mineral. A gente pegou o Brasil que estava lá atrás e colocamos na ponta como o quarto maior complexo industrial de lítio do mundo. É isso que ancora esse alvoroço que existe do restante da cadeia vir pra cá. Porque você mostra que tem um mercado com 220 milhões de consumidores. Nossa a escala ela é monumental. Nesse setor é GO Big or Go Home. Não existe você ser pequeno. Existe a sigma lá na frente e o resto do setor.”
Sobre os planos de expansão, Ana Cabral foi contundente ao afirmar que mesmo como os preços do lítio em queda no mercado internacional, pretende continuar investindo para expandir da produção. “Agora é a hora do Brasil mostrar força. É na maré baixa que vamos ver quem está nadando nú. A turma está caindo que nem dominó. E a gente está embarcando. Tem demanda para cada quilo de litro que a gente consegue embarcar. Então os planos continuam embalados por essa política industrial incrível do governo brasileiro,” comentou.
Planta Greentech
Ana Cabral disse que a Sigma vai começar ainda este ano, a expansão do projeto Grota do Cirilo, com a linha 2 e ano que vem será a vez da linha 3 possivelmente integrada com a química básica para verticalizar sua produção. “É assim que ganhamos o jogo, resido zero e carbono zero”, afirmou.
A Planta de beneficiamento utiliza um circuito greentech, com reuso da água e 100% da energia consumida vinda de fontes renováveis. Mas o grande diferencial que faz a empresa estar um passo à frente de seus concorrentes foi a eliminação de barragens de rejeitos, que são empilhados a seco no empreendimento. Esse modelo de produção sustentável, tornou a projeto de lítio da Sigma, o primeiro no mundo sem barragem de rejeitos e sem adição de produtos químicos nocivos. Os subprodutos são comercializados ou reciclados.
Para se ter uma ideia. No deserto do Atacama são necessários 2 milhões de litros de água para cada tonelada de lítio produzido. A Sigma utiliza apenas 25 mil metros cúbicos para 800 toneladas, sendo que essa água é reutilizada diversas vezes até sua evaporação. “É uma fração do Atacama, uma fração íntima. É uma outra maneira de pensar água. Por quê? Porque nas regiões que tem lítio tem pouca água”, explicou.
Listagem na B3
Listada nas bolsas de de Toronto (Canadá) e na Nasdaq (Nova York-EUA), com BDRs negociados no Brasil. A Sigma está avaliado uma listagem na B3, disse Ana Gabral, ao Minera Brasil. Ela acredita que é importante incentivar a listagem de mais empresas do setor de mineração na bolsa Brasileira.
“A gente tem a capacidade de fomentar uma bolsa que seja nossa. já que os capitais são privados, vamos trazer esses capitais. Então é essa a discussão. Tem poucas empresas na B3, embora acessem ele. A ideia é fomentar a nossa bolsa”, disse.
Ana Cabral acredita que se o Brasil quer fomentar a indústria de base, tem que criar funding de fomento para mineração no país. É fomentar esse setor na entrada,” avalia, lembrando das dificuldades que enfrentou no começo para atrair investidores. “O difícil é que há 12 anos atrás, quem queria colocar capital de risco?”
“Estamos buscando uma bolsa para listagem da Sigma Brasil. A B3 vai ser a bolsa. É a bolsa. Questionada se seria ainda neste semestre, Ana Cabral, disse esperar que sim. “Estamos acertando os detalhes. A gente espera que sim.”
Nos últimos meses Ana Cabral tem participado de reuniões com o BNDES e Ministério de Minas e Energia. Ela tem aconselhado o governo na formulação de políticas públicas para incentivar investimentos para o setor de mineração no país, principalmente os minerais estratégicos para transição energética e segurança alimentar.
Um desses programas está sendo estruturado pelo BNDES, que deve lançar em breve em parceria com a Vale, um fundo para incentivar projetos de pesquisa e desenvolvimento para minerais estratégicos. O valor do fundo ainda não foi divulgado. O Ministério de Minas e Energia também está formatando um plano que prevê algumas iniciativas, entre elas, agregação de valor na produção mineral brasileira, capacitação de mão de obra, ampliação do conhecimento geológico e pesquisa mineral no país.