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Por Ricardo Lima
O governo de Goiás sancionou a lei que cria a Autoridade Estadual de Minerais Críticos (Amic-GO) e recebeu uma comitiva oficial do Japão, interessada em investir na exploração e no processamento de terras raras. A agenda, que reuniu representantes de governo e autoridades japonesas no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, em Goiânia, reforçou a relevância geológica do estado e abriu caminho para novas parcerias.
A visita da comitiva japonesa ocorreu logo após a sanção da Lei nº 23.597, que também instituiu o Fundo Estadual de Desenvolvimento dos Minerais Críticos (FEDMC). Com isso, Goiás pretende estruturar políticas públicas e atrair investimentos privados para transformar seu potencial mineral em desenvolvimento econômico e tecnológico.
O Ministério de Minas e Energia (MME) destaca que a mineradora Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM), localizada em Minaçu, é a única operação fora da Ásia a produzir em escala comercial os quatro elementos magnéticos mais demandados: neodímio (Nd), praseodímio (Pr), disprósio (Dy) e térbio (Tb). São utilizados em tecnologias de ponta, incluindo motores elétricos, turbinas e componentes eletrônicos.
Cooperação internacional e industrialização local
O governador Ronaldo Caiado, em coletiva à imprensa, ressaltou que Goiás busca ir além da exportação de matéria-prima. “O governo japonês poderá, com a tecnologia que tem, implantar aqui conosco o refino, a separação dos produtos ou contribuir para esse fundo, ampliando nossa capacidade de pesquisa”, afirmou. Ele destacou que Goiás não pretende se limitar à venda do concentrado, defendendo que etapas industriais ocorram dentro do estado. Caiado também assegurou que novos projetos de pesquisa ou instalações serão autorizados em até três meses, sinalizando agilidade regulatória para atrair investidores.
Segundo o governador, o encontro resultou em avanços concretos.
“Chegamos a um entendimento para avançar na cooperação entre Goiás e o governo japonês, não apenas na exploração, mas também no processamento das terras raras”
Ronaldo Caiado – Governador de Goiás
Para ele, a parceria pode consolidar o estado como referência mundial na área.
O diretor da divisão de recursos minerais do Ministério da Indústria do Japão, Yuzo Yamaguchi, reforçou a importância da visita técnica. “Nós falamos na reunião lá no Japão sobre a Serra Verde. Como temos que incentivar o investimento das empresas japonesas, achamos muito importante conhecermos in loco o que seria essa mina”, disse. Ele acrescentou que Goiás desponta como oportunidade estratégica diante da crescente demanda global por terras raras pesadas.
Yamaguchi também destacou os usos tecnológicos desses minerais. “É um material imprescindível nos produtos de alta tecnologia, no caso de ímãs, para motores ou então peças eletrônicas. Realmente é um elemento muito importante também utilizado na indústria automobilística”, afirmou. Segundo ele, o estado pode desempenhar papel decisivo na diversificação da cadeia de suprimentos japonesa.
O embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi, salientou o peso político da missão oficial. “Veio a equipe completa do governo japonês para discutir e para aprofundar nossos laços, colaborações na área de terras raras”, disse, reforçando a disposição de Tóquio em estreitar relações com Goiás no setor.
Já o secretário-geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, sublinhou a necessidade de industrialização local. “Nós queremos também desenvolver a cadeia de valor das terras raras aqui dentro do estado de Goiás. E sair da situação atual, onde só entregamos para o exterior, hoje a China, o concentrado e o carbonato de terras raras”, afirmou. Ele defendeu que a separação e o refino sejam realizados no território goiano, ampliando o valor agregado da produção.
Goiás no cenário mundial das terras raras
De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) através do relatório Mineral Commodity Summaries 2025, o Brasil possui 21 milhões de toneladas de reservas de terras raras, sendo o segundo maior detentor global, atrás apenas da China, com 44 milhões de toneladas. As terras raras se dividem entre pesadas e leves.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), disponíveis no sistema Comex Stat, mostram que Goiás já vem ampliando suas exportações. Em 2025, o estado embarcou 419 toneladas em fevereiro, totalizando US$ 5,7 milhões, e 60 toneladas em maio, somando US$ 965 mil.