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Por Redação
O Brasil possui a quarta maior reserva de manganês do mundo e, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, ao menos 30% da produção nacional está controlada por garimpeiros ilegais, sobretudo no sudeste do Pará. O mineral, essencial para o aço e cada vez mais cobiçado pela indústria de baterias, torna-se alvo de organizações que se aproveitam da baixa fiscalização e do acesso fácil às jazidas.
Invasões, ameaças armadas e ocupação de terras de grandes mineradoras ilustram o avanço do crime, que opera com máquinas pesadas e participa da economia local, desde comércio até política.
A exploração irregular de manganês passou a fazer parte da realidade de regiões como Parauapebas, Curionópolis e Marabá. Executivos do setor relatam invasões a áreas privadas, expulsão de vigilantes por criminosos armados e atrasos em projetos formais. Uma das grandes mineradoras do país teve 10% de sua reserva tomada por garimpeiros durante cinco meses, segundo fontes ouvidas no setor.
O procurador da República Igor Goettenauer explica que a facilidade para identificar o minério na superfície acelera a ocupação. “A população sabe onde estão essas concentrações de manganês (…) há pressão social pelo uso dessas reservas”, afirma.
Para o procurador, o garimpo ilegal já opera como negócio estruturado na região. “Tudo isso é um mercado bastante lucrativo”, afirma. Ele destaca que as fronteiras entre o legal e o ilegal se tornaram difusas. “A parte ilícita começa a se misturar com a lícita, pois os recursos ilegais são lavados em empresas formais, que compram o maquinário”, diz. Goettenauer explica ainda que o crime vem se profissionalizando. “Geralmente, são famílias que começam a se especializar nessa atividade e vão criando organizações criminosas, inclusive com funções definidas.”
O ativista Charles Trocate, líder do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, relata que essa dinâmica já faz parte da rotina em cidades como Parauapebas, Curionópolis e Marabá. “Ela está no dia a dia da população”, afirma.
Além da extração rudimentar, o crime opera logística própria: máquinas pesadas no terreno, transporte para depósitos e envio ao mercado interno ou para exportação, principalmente via porto de Barcarena. Parte das cargas ilegais recebe documentos falsos para simular origem legal.
Segundo ele, a cadeia que sustenta o garimpo ilegal é ampla. “São hipermercados e postos de gasolina da região que compram as grandes máquinas usadas pelos garimpeiros”, diz. E reforça que, mesmo com ações das autoridades, o incentivo financeiro permanece. “Houve muita operação da polícia para contê-los, mas devido à lucratividade do negócio, o crime vale a pena.”
O fenômeno já influencia a política regional. Lideranças de garimpeiros elegem vereadores e exercem pressão sobre governos locais. Moradores relatam bairros inteiros tomados pela atividade ilegal e redes de comércio que abastecem as operações.
Mercado sob disputa e horizonte crítico
Enquanto o garimpo ilegal cresce, grandes empresas reduzem presença no manganês por exaustão de minas e fatores econômicos. A Vale encerrou operações no setor e vendeu ativos; a Buritirama, maior produtora da América do Sul, entrou em falência e hoje é administrada por credores.
O país produziu mais de 3 milhões de toneladas em 2008; em 2024, foram apenas 537 mil, segundo o Sumário Mineral Brasileiro. Ainda assim, mineradoras buscam retomar parte desse potencial — caso da RMB, que planeja produzir 400 mil toneladas em Carajás com investimentos de R$ 240 milhões. A empresa, no entanto, afirma sofrer invasões contínuas desde 2016 e já perdeu reservas estimadas em cinco milhões de toneladas para garimpeiros.
A demanda tende a crescer com a eletrificação global. Enquanto a tonelada de manganês para siderurgia custa cerca de R$ 300, o sulfato de manganês voltado a baterias pode chegar a US$ 800.
O risco, apontam executivos e autoridades, é que o Brasil desperdice vantagem estratégica e perca valor agregado, mantendo-se apenas como fornecedor informal de minério bruto para outros países.













