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por Fernando Moreira de Souza
As expectativas de um grande estímulo econômico por parte da China durante a reunião anual do parlamento não se concretizaram. O governo chinês anunciou a continuidade das políticas de incentivo moderadas implementadas no último ano, frustrando as projeções de um impulso significativo no mercado de commodities.
Embora tenha sido estabelecida uma meta de crescimento de aproximadamente 5% para 2025 e prometidos esforços para estimular o consumo e mitigar impactos da crescente tensão comercial com os Estados Unidos, os mercados de commodities não receberam o tipo de sinalização que indicaria uma expansão substancial das importações chinesas.
A tendência observada em 2024 deve se manter, com algumas commodities apresentando desempenho superior a outras, mas sem indícios de um crescimento expressivo.
Petróleo e setor metalúrgico sob pressão
Entre os setores mais impactados, o mercado de petróleo enfrenta desafios na ampliação da demanda. Nos dois primeiros meses de 2025, a China manteve um ritmo de importação estável, segundo dados da LSEG Oil Research, com 10,75 milhões de barris por dia (bpd) em fevereiro, levemente acima dos 10,1 milhões bpd de janeiro, mas inferior aos 11,04 milhões bpd registrados em 2024.
Uma das causas para esse comportamento é o incentivo governamental à adoção de Veículos de Nova Energia (NEVs), que incluem modelos elétricos e híbridos. O programa de subsídios para a transição desses veículos foi expandido, indicando que a crescente participação dos NEVs no mercado automobilístico, que já ultrapassa metade das vendas de carros novos, deve prosseguir.
No setor metalúrgico, um novo plano prevê a redução da produção de aço bruto em 2025, algo que não ocorria há cinco anos. Embora a meta exata não tenha sido especificada, é esperado que a produção se mantenha abaixo de 1 bilhão de toneladas, patamar médio desde 2019. Se confirmada essa queda, haverá impacto direto nas importações chinesas de minério de ferro e carvão coqueificável.
Minério de ferro, carvão e transição energética
As importações chinesas de minério de ferro começaram 2025 em um ritmo fraco. Segundo a Kpler, as chegadas de fevereiro foram estimadas em 83,92 milhões de toneladas, o menor volume mensal desde abril de 2019 e bem abaixo dos 104,34 milhões de janeiro. Embora o feriado do Ano Novo Lunar possa ter contribuído para a queda, a média diária nos dois primeiros meses do ano ficou em 3,19 milhões de toneladas, inferior aos 3,39 milhões de 2024.
O carvão também apresenta recuo, com as importações marítimas totalizando 29,82 milhões de toneladas em fevereiro, menor volume desde o mesmo período de 2024 e inferior aos 35,9 milhões de janeiro. Esse declínio reflete os preços internos mais baixos e estoques elevados, fatores que reduzem a necessidade de combustível importado.
Em contrapartida, houve avanços no setor de transição energética. A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma anunciou a ampliação de parques eólicos offshore e a construção de novas bases de energia nas regiões desérticas do oeste do país. Esse movimento impulsiona a demanda por metais como cobre, alumínio e prata, utilizados na fabricação de painéis solares. Na Bolsa de Xangai, os contratos de cobre registraram alta de 1,1% na quinta-feira, atingindo 77.990 yuans (US$ 10.757) por tonelada, enquanto os futuros de alumínio subiram 0,5%.
Apesar do otimismo gerado pelo compromisso da China com a energia renovável e o crescimento do mercado de NEVs, incertezas persistem. O setor imobiliário residencial segue como um ponto de preocupação, e as tensões comerciais internacionais, especialmente as medidas protecionistas dos Estados Unidos, podem impactar o crescimento econômico global e pressionar a inflação.