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Por Ricardo Lima
A crescente disputa global por minerais críticos foi tema central de um painel no Rio Comodities promovido pela S&P Global, no Rio de Janeiro. O encontro realizado nos dias 12 e 13 de agosto, reuniu especialistas para discutir como a América Latina pode transformar suas reservas estratégicas em uma vantagem competitiva no cenário internacional.
O debate, mediado por Henrique Ribeiro (S&P Global), contou com a participação de Leandro Gobbo, vice-presidente da PLS Brasil; Guillaume Légaré (Toronto Stock Exchange & TSX Venture Exchange); Eduardo Javier Muñoz (Bravo Motors)
Segundo os painelistas, um dos principais fatores que reacenderam as tensões comerciais globais é a liderança da China na fronteira tecnológica, especialmente na cadeia de produção de baterias. Em resposta, os Estados Unidos vêm implementando políticas para acelerar a localização de suas cadeias de suprimento, movimento também observado na Europa.
Diante desse cenário, a questão central foi se a América Latina — detentora de vastas reservas de minerais estratégicos como lítio, níquel e cobre — deve seguir a mesma estratégia. Os participantes discutiram o papel que a região pode desempenhar na reconfiguração das cadeias globais e quais políticas e investimentos seriam necessários para garantir não apenas competitividade, mas também sustentabilidade e valor agregado na exportação de recursos.
Para Leandro Gobbo, o desafio está em encontrar um caminho que combine desenvolvimento industrial, atração de investimentos e proteção ambiental. “Essa é uma questão que, sob uma perspectiva técnica e tecnológica, nos permite aproveitar o conhecimento já existente para potencializar a conversão do lítio aqui no Brasil. Nosso material é semelhante ao encontrado, por exemplo, na Austrália”, afirmou.
Gobbo ressaltou que o país reúne vantagens importantes: uma posição geográfica favorável para negócios, especialmente com os Estados Unidos, e um ecossistema automotivo já estabelecido, como a fábrica da BYD. No entanto, alertou que a produção nacional de lítio ainda é pequena e precisa de escala, além de investimentos em infraestrutura e de uma política específica para minerais críticos. “Esses elementos fortalecem nossa capacidade de agregar valor e nos alinham a mercados estratégicos”, disse.
O executivo acredita que o Brasil tem potencial para se tornar um hub da transformação energética no mundo, mas corre o risco de perder essa oportunidade. “Podemos inserir o Brasil na cadeia global de fornecimento e nos consolidar como um polo de transformação energética. Mas também podemos ficar apenas como fornecedores de matéria-prima.”
Henrique Ribeiro, da S&P Global, concordou com a avaliação de Gobbo, ponderando que existe “uma oportunidade única” para o país se transformar em peça-chave do tabuleiro geopolítico e econômico do futuro. “Mas, para alcançar essa posição, será preciso muito mais do que simplesmente exportar matéria-prima não transformada”, disse.
Já Guillaume Légaré destacou que os investidores acompanham de perto o que acontece no Brasil antes de tomar decisões. “Além do ambiente regulatório, eles observam a qualidade dos ativos, a gestão e os indicadores ESG para entender o potencial de crescimento de um projeto. É importante haver integração vertical. O Brasil vai ter que tomar suas decisões — e o investidor está acompanhando.”