por Fernando Moreira de Souza
Oportunidade Estratégica para o Brasil
Um estudo recente da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, aponta que o Brasil tem potencial para estar entre os quatro países líderes na transição tecnológica global até 2050. Essa transformação é essencial para mitigar os impactos das mudanças climáticas. A pesquisa, divulgada inicialmente pelo jornal Valor Econômico, destaca as vantagens estratégicas do país em setores-chave da transição energética.
Sete áreas foram identificadas como fundamentais para essa mudança: minerais estratégicos, fabricação de baterias, veículos híbridos elétricos movidos também a biocombustíveis, combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), produção de turbinas eólicas, além da fabricação de aço e fertilizantes de baixo carbono. Esses fatores, aliados ao amplo mercado interno e à estrutura industrial já existente, colocam o Brasil à frente de diversas economias emergentes, como a Índia e nações do Oriente Médio, África e Ásia.
O Desafio da Vontade Política
No entanto, a grande questão é se o Brasil conseguirá aproveitar essa oportunidade. A conjuntura global atual não favorece iniciativas sustentáveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo de Donald Trump minimizou a crise climática e retirou o país de compromissos ambientais voluntários. Além disso, parte do setor privado americano, incluindo bancos e empresas, vem abandonando diretrizes ambientais, sociais e de governança (ESG).
O cenário brasileiro também apresenta desafios. Se um governo conservador assumir o poder em 2027, a prioridade dada às políticas ambientais pode diminuir. Mesmo a atual administração de Luiz Inácio Lula da Silva não segue um modelo sustentável totalmente claro. Em vez de focar na expansão da cadeia produtiva de baterias – desde a extração de terras raras até a produção de cátodos –, o governo sinaliza com a exploração de petróleo no litoral norte, o que pode minimizar as críticas internacionais, especialmente em um contexto de relaxamento das políticas ambientais globais.
Um Ciclo de Oportunidades Perdidas?
Historicamente, o Brasil tem dificuldades em capitalizar suas vantagens estratégicas. O país pode até investir em energia sustentável e integrar parte dela à sua cadeia produtiva, mas, simultaneamente, continuará a explorar petróleo, operar usinas térmicas e investir em refinarias petroquímicas. Além disso, desafios como má gestão, corrupção e interesses políticos elevam os custos e dificultam avanços concretos.
O bioquímico e gestor de fundos Fernando Reinach comentou, há alguns anos, que o Brasil sempre deixa passar oportunidades de inovação: “Desenvolvemos nossa indústria tardiamente, perdemos em grande parte a revolução da TI – todas as vezes, o cavalo encilhado passou por nós a galope.” No setor de energias renováveis, o país mantém uma posição de destaque, mas ainda está longe de atingir seu potencial máximo.
Caso os padrões se repitam, a transição energética pode ser mais uma chance desperdiçada. O Brasil tem os recursos e a capacidade, mas a ausência de uma estratégia consistente pode impedir que o país lidere essa revolução global.