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Por Ricardo Lima
De acordo com matéria publicada pela revista Novo Solo, no município de Montividiu, em Goiás, a Fazenda Bom Jardim Lagoano tornou-se referência nacional ao adotar práticas regenerativas que aliam produtividade, economia e sustentabilidade. A mudança de paradigma começou há oito anos e, desde então, os resultados são expressivos: custos de produção foram reduzidos em até 64%, enquanto a saúde do solo e das plantas foi significativamente aprimorada.
Sob a liderança técnica do engenheiro agrônomo Adriano Cruvinel, a fazenda — fundada em 1987 e dedicada à soja e ao milho — promoveu uma transformação profunda ao abandonar insumos químicos em favor de soluções biológicas e manejo estratégico do solo.
Do convencional ao regenerativo
A virada começou com a constatação de que a equalização química dos talhões não trazia aumento real de produtividade. Diante dos altos custos e das margens apertadas, Cruvinel percebeu a necessidade urgente de inovar. “mesmo equalizando os talhões na parte química, não conseguíamos alavancar a produtividade. E o custo estava alto demais”, afirma o engenheiro.
Inspirado por nomes como Marconi Betta e Rogério Vian, além do contato com o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), ele iniciou uma abordagem regenerativa. O processo envolveu o uso de Remineralizadores de Solo, análise constante de seiva e adoção de plantas de cobertura e microrganismos benéficos.
Em 2016, foi criada uma biofábrica na própria fazenda para a produção de fungos e bactérias, substituindo gradualmente os químicos. A aplicação de fungicidas foi completamente suspensa, e o uso de inseticidas químicos caiu 76%. A produção regenerativa, hoje, cobre toda a área plantada.
Cultura, ciência e rentabilidade
A adoção de novos métodos não foi apenas uma questão técnica. Convencer o proprietário, Lázaro R. Cruvinel, que há décadas utilizava práticas convencionais, foi um desafio. “ primeira coisa é mostrar o resultado no campo. É o que o produtor entende melhor”, conta Adriano.
Com a análise contínua de dados e o uso de gráficos próprios de nutrição de plantas, a fazenda agora consegue identificar deficiências rapidamente e agir com precisão. Em três anos, foi possível estabelecer curvas de referência para macroelementos e Brix, otimizando a absorção de nutrientes.
Além de economizar mais de 40 mil litros de fungicidas e 64 mil litros de inseticidas ao longo de oito anos, a fazenda também deixou de usar fertilizantes solúveis caros, substituídos por insumos de liberação gradual. “Essas práticas nos permitiram não só melhorar a qualidade das nossas colheitas, mas também reduzir o uso de produtos químicos, economizando recursos e protegendo o meio ambiente”, destaca o engenheiro.
Referência nacional em sustentabilidade
A Fazenda Bom Jardim Lagoano hoje é um polo de inovação. Por meio do projeto Regenera Cerrado, mais de 30 pesquisadores de 14 instituições, incluindo a Embrapa, colaboram com estudos baseados nas práticas adotadas no local.
Estudos recentes apontam que propriedades com manejo regenerativo, como a Bom Jardim, apresentam rentabilidade líquida 44% superior à média de fazendas tradicionais. Segundo Adriano, o próximo passo será a criação de uma sala de treinamento. “explicar o que a gente faz, abrir os dados para quem quiser. Eu não acho justo ficar com isso só para nós. Quanto mais gente trabalhar com agricultura regenerativa, melhor”.
Com foco contínuo na melhoria de processos e pesquisa, a fazenda planeja investir em nanotecnologia e criar uma nova biofábrica para macroorganismos, consolidando-se como referência em agricultura sustentável no Cerrado brasileiro.