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Por Ricardo Lima
O embate comercial entre Estados Unidos e China, acentuado pelo aumento de tarifas promovido pelo presidente norte-americano Donald Trump, tende a acelerar investimentos em eficiência, sustentabilidade e diversificação da produção mineral no Brasil. Segundo reportagem publicada pelo O Globo, o setor projeta aportes de US$ 68,4 bilhões entre 2025 e 2029 — avanço de 6,6% em relação ao ciclo anterior.
“As tensões comerciais prolongadas podem deprimir ainda mais os preços das commodities, exigindo eficiência das mineradoras para operar com margens menores”, destaca Rafael Marchi, sócio-diretor da A&M Infra. Ele projeta queda de até 10% no valor do minério de ferro em 2025, impulsionada pelo enfraquecimento da economia chinesa. “A mineração brasileira terá de navegar em um mundo comercial mais complexo, mas tem ativos importantes a seu favor, como riqueza geológica diversificada, qualidade de produto e um compromisso crescente com a sustentabilidade”, complementa.
O setor mineral representa cerca de 4% do PIB brasileiro e responde por 25% das exportações nacionais, segundo Marchi. Para Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), os efeitos diretos da guerra tarifária ainda não chegaram com força. “A guerra tarifária está mais centrada em bens industrializados, como aço e alumínio. Se tem algum impacto no setor mineral, ainda não foi sentido”, avalia. Mesmo assim, ele ressalta que “o Brasil precisa se afastar da condição de apenas exportador de commodities”.
A aplicação de uma tarifa de 25% às exportações brasileiras de alumínio para os EUA gerou preocupação na indústria. Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), aponta que essa medida comprometerá a competitividade do alumínio brasileiro em relação a outros fornecedores internacionais, além de afetar negativamente a cadeia de reciclagem no país. Ela afirma que, com isso, a indústria brasileira pode enfrentar dificuldades para manter suas vantagens competitivas no setor.
Investimentos estratégicos e inovação
Para enfrentar os desafios impostos pela tarifa, algumas empresas brasileiras estão adotando estratégias de longo prazo. A Alcoa, por exemplo, anunciou investimentos superiores a US$ 1 bilhão nos próximos dez anos, com foco em ativos estratégicos e construção de navios para o transporte de bauxita. Gisele Salvador, diretora financeira da empresa, destaca que, apesar das dificuldades causadas pelas tarifas, os investimentos são planejados com base em perspectivas de longo prazo.
A Vale também segue apostando em inovação e sustentabilidade. A mineradora anunciou um investimento de US$ 5,9 bilhões em 2025, com foco na produção de aço de baixo carbono e no reaproveitamento de resíduos. Segundo Gustavo Pimenta, CEO da Vale, a empresa desenvolveu o briquete de minério de ferro, um produto que reduz as emissões de carbono nas siderúrgicas, colaborando para a redução das emissões globais.
Tecnologia e adaptação às novas demandas
A BHP Brasil, por sua vez, está investindo em tecnologias como gêmeos digitais e inteligência artificial para melhorar a eficiência e reduzir custos. Emir Calluf, presidente da BHP Brasil, destaca que a empresa está bem posicionada para enfrentar a volatilidade de preços e as incertezas do mercado, graças à sua estrutura de custos competitiva e a uma carteira de commodities com demanda resiliente.
A Mineração Morro do Ipê também está fazendo sua parte, com um investimento de R$ 1,3 bilhão no Projeto Tico-Tico, focado nas exportações para China e Europa. Apesar do otimismo, Cristiano Parreiras, diretor da empresa, aponta que a guerra tarifária pode afetar a produção de bens de consumo na China, o que, por sua vez, pode reduzir as importações de produtos brasileiros.
A Cedro, outra empresa do setor, planeja investir R$ 7 bilhões até 2027 para alcançar uma produção anual de 20 milhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade, com 50% menos emissões. Lucas Kallas, presidente do Conselho da Cedro, observa que, apesar dos desafios impostos pela nova tarifa dos EUA, a situação pode criar oportunidades para expandir as exportações brasileiras para outros mercados.