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por Fernando Moreira de Souza
Reportagem de Thyago Henrique, no Diário do Comércio, informa que a Agência Nacional de Mineração (ANM) registrou uma redução significativa nos pedidos de pesquisa mineral em Minas Gerais no primeiro trimestre de 2025. Entre janeiro e março, foram protocolados 295 requerimentos, número 40% inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando houve 495 solicitações.
Esse movimento de retração não é recente. No ano passado, as requisições já haviam encolhido 35,7% em comparação a 2023. O cenário atual reflete um conjunto de fatores adversos que vem impactando o setor.
De acordo com Luis Mauricio Ferraiuoli Azevedo, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), a queda nos pedidos é consequência de uma “tempestade perfeita” formada por três elementos principais: escassez de áreas disponíveis, desvalorização dos minerais estratégicos e manutenção da taxa básica de juros em níveis elevados.
Atualmente, cerca de 200 mil áreas encontram-se bloqueadas na base de dados da ANM. Azevedo afirma que quase metade delas já deveria ter sido colocada em oferta pública, mas o processo de liberação enfrenta entraves burocráticos. “O sistema de disponibilidade criado pela agência é lento e complexo. Uma área devolvida por uma empresa pode levar mais de cinco anos para ser novamente ofertada ao mercado”, observa.
Essa lentidão afeta diretamente a dinâmica do setor, impedindo que áreas sem uso sejam exploradas por novos projetos. “Hoje, existem espaços ociosos que poderiam estar movimentando a indústria mineral”, destaca Azevedo.
Commodities em Queda e Juros Elevados Complicam Cenário
Outro fator de pressão é a desvalorização de minerais como o lítio e os chamados terras-raras. Azevedo ressalta que o Brasil abriga cerca de 110 empresas estrangeiras voltadas à pesquisa mineral, das quais 82 são junior companies, e metade delas atua com esses minerais críticos. Com a recente queda nos preços dessas commodities, essas companhias perderam valor de mercado, comprometendo sua capacidade de captar recursos por meio da emissão de ações.
Como exemplo, o executivo menciona que, entre abril de 2024 e abril de 2025, 31 das 35 junior companies analisadas apresentaram desvalorização. Entre as empresas de maior porte, a Sigma Lithium registrou queda de 44%, enquanto a Meteoric, do setor de terras-raras, teve desempenho semelhante.
Somado a isso, os juros altos no Brasil — atualmente em 14,25% ao ano, o maior nível desde 2016 — tornam investimentos de renda fixa mais atraentes, desviando o interesse de investidores que antes aplicavam em projetos de pesquisa mineral.
A retração não se limita aos requerimentos. A emissão de alvarás de pesquisa mineral também sofreu forte queda. No primeiro trimestre de 2025, foram liberados 244 alvarás em Minas Gerais, 342 a menos do que no mesmo período de 2024. Entre 2023 e 2024, a diminuição já havia sido de 17,2%.
O setor, portanto, enfrenta um momento de baixa atividade, influenciado por fatores econômicos, regulatórios e de mercado. A reversão desse quadro dependerá de avanços na desburocratização do sistema da ANM, de maior estabilidade no preço das commodities e da redução das taxas de juros no país.