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por Fernando Moreira de Souza
Empresas do setor de mineração de metais básicos continuam lidando com o impacto prolongado da inflação sobre suas margens de lucro. Custos operacionais elevados, aumento de salários e taxas de financiamento continuam a pressionar a rentabilidade, segundo relatos coletados pela Fastmarkets até o dia 28 de março.
Diversas companhias apontam que as despesas com energia, insumos e mão de obra não apenas permaneceram altas, mas também tendem a continuar pressionando os balanços financeiros no futuro próximo.
A inflação, medida pelo índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, permanece acima da marca de 3% desde maio de 2021, alcançando um pico de 9% em julho de 2022. Desde então, seus efeitos vêm sendo amplamente sentidos pela indústria de mineração, principalmente no aumento dos custos unitários de produção.
De acordo com o relatório anual de produção de 2023 da Glencore, divulgado em 1º de fevereiro de 2024, os custos operacionais com cobre, zinco e níquel ficaram acima da projeção inicial, como reflexo direto da inflação nas regiões onde a empresa atua. Anglo American, South32 e Rio Tinto também enfatizaram em seus respectivos balanços que as pressões inflacionárias continuam a reduzir as margens de lucro.
A canadense Teck Resources, por exemplo, relatou um aumento de 35% nos custos unitários de cobre desde 2019, atingindo US$ 2,27 por libra. No mesmo período, os custos do zinco cresceram 33%, chegando a US$ 0,68 por libra. Em seu relatório do quarto trimestre de 2023, publicado em 21 de fevereiro, a empresa atribuiu parte desse aumento ao encarecimento da mão de obra e dos insumos industriais.
Além disso, a Teck mencionou que itens essenciais, como equipamentos de mineração, serviços de contratados e o preço da energia, especialmente no Chile, impactaram negativamente suas despesas operacionais e previsões de custos para 2024.
Fatores estruturais e financiamento oneroso
A situação se agrava diante da elevação nas taxas de juros e do custo do crédito, o que, segundo analistas, tem comprometido a capacidade de investimento das mineradoras. Andrew Cole, analista da Fastmarkets, observou que os altos custos de financiamento têm reduzido os lucros e dificultado o desenvolvimento de novos projetos, especialmente em setores com déficit de oferta como o mercado de cobre.
“Esses custos acabam por inflacionar os investimentos necessários para expandir a capacidade produtiva, postergando o início de operações em novas minas”, afirmou Cole.
A chefe de pesquisa da Sucden Financial, Daria Efanova, comentou que a longevidade do atual ciclo inflacionário está entre os maiores obstáculos enfrentados pelo setor. “A inflação está elevada há tempo demais e isso impõe limitações operacionais severas”, disse.
Mesmo com pequenas reduções em alguns custos — como preços de energia e insumos específicos, incluindo soda cáustica e taxas de tratamento de minérios —, os aumentos estruturais predominam. Duncan Hobbs, da Concord, explicou que fatores como a redução dos teores de minério estão tornando o processo de extração mais dispendioso. “Mesmo sem inflação, nossos custos estariam subindo”, relatou uma fonte do setor.
Com a qualidade do minério em declínio, sobretudo na Europa, as mineradoras precisam processar volumes maiores para obter a mesma quantidade de metal, elevando os custos energéticos e estendendo os ciclos produtivos. Em alguns casos, medidas como redução de pessoal estão sendo adotadas para compensar os custos crescentes.
Apesar de alguns alívios pontuais nos preços de insumos, o consenso entre analistas e executivos é que a pressão inflacionária sobre o setor deve persistir, obrigando as mineradoras a buscar soluções de eficiência para preservar a lucratividade.