Comente, compartilhe e deixe sua opinião nos comentários! Sua participação é essencial para enriquecer o debate
Por Ricardo Lima
De acordo com matéria publicada pelo The New York Times, uma mina de terras raras no interior do Brasil, financiada por investidores americanos, expõe o controle estratégico que a China exerce sobre minerais essenciais à economia moderna. Localizada em Minaçu, Goiás, a mina começou a operar no ano passado e é a única fora da Ásia a produzir, em quantidade relevante, alguns dos elementos mais difíceis de encontrar — fundamentais para a fabricação de carros elétricos, turbinas eólicas, mísseis guiados e robôs.
Apesar do interesse recente do governo dos Estados Unidos em expandir a produção da mina, revelado de forma discreta no mês passado, a maior parte dos minerais extraídos já está contratualmente comprometida com a China. Thras Moraitis, diretor executivo da mineradora Serra Verde, responsável pela mina, destacou:
“Eles eram o único cliente que poderia processar o produto e separá-lo”. “Um planejamento perspicaz dos chineses ao longo de muitas décadas os colocou em uma posição onde têm um controle muito forte”, afirmou.
Dependência estratégica
Embora as terras raras sejam abundantes na crosta terrestre, sua extração e separação são complexas. Ao longo dos anos, os países ocidentais deixaram essa tarefa para a China, que hoje domina tanto a mineração quanto o processamento desses 17 elementos usados nas indústrias automotiva, de semicondutores, aeroespacial e de defesa.
Especialmente no caso dos elementos conhecidos como “terras raras pesadas”, com maior número atômico, a China mantém quase total monopólio sobre o processo de separação. Esses minerais são indispensáveis para a produção de ímãs resistentes a altas temperaturas — componentes críticos de drones, mísseis e veículos elétricos. Tradicionalmente, esses elementos vêm de depósitos argilosos na China e em Mianmar, que exporta a produção para o país vizinho.
Nos últimos anos, no entanto, o Brasil começou a chamar a atenção por também possuir grandes reservas desse tipo de argila rica em terras raras pesadas. Para Constantine Karayannopoulos, cofundador da Neo Performance Materials, uma das maiores empresas do setor,
“O Brasil pode ser o divisor de águas. Eu analisei de 600 a 700 projetos ao redor do mundo, e na minha opinião, o Brasil tem de longe o melhor acesso a terras raras pesadas”, pontua.
Expansão limitada e corrida global
A mina Serra Verde teve início com um investimento da firma americana Denham Capital, em 2010, após a China interromper exportações de terras raras ao Japão devido a um impasse territorial. No entanto, o projeto levou oito anos para ganhar tração. Mesmo após aportes adicionais de US$ 150 milhões de investidores americanos e britânicos, ainda não havia compradores no Ocidente com capacidade de processar os minerais.
“Você pode extrair o minério” explicou Karayannopoulos. “Mas não há, no Ocidente, capacidade instalada para transformar isso em disprósio ou térbio separados.”
Hoje, todo o material extraído em Minaçu está comprometido com a China até, pelo menos, 2027. A expectativa é que, até lá, a produção aumente o suficiente para atender novos compradores.
Situação semelhante ocorre com a MP Materials, empresa baseada em Las Vegas com apoio do Pentágono. Embora produza e separe terras raras leves na Califórnia, 80% de sua produção ainda foi vendida à China no ano passado. A companhia informou que está reduzindo essa dependência e vende parte dos minerais para o Japão, Coreia do Sul e para o estoque estratégico dos EUA. No entanto, ainda não consegue processar terras raras pesadas — algo que uma nova planta, financiada pelo governo americano, deverá resolver nos próximos anos.
Enquanto isso, outras iniciativas ocidentais tentam avançar. Projetos na França, Estônia e até uma planta para reciclagem de baterias na Europa buscam alternativas para a produção. Ainda assim, o avanço é lento e, segundo Moraitis, mesmo com novas fábricas, o acesso a esses minerais continuará difícil.
A expectativa da Serra Verde, empresa legalmente baseada na Suíça, é dobrar, até 2027, a oferta global de terras raras pesadas fora da Ásia, com algumas centenas de toneladas produzidas anualmente. Por enquanto, outras minas brasileiras ainda estão em fases iniciais de desenvolvimento.
Com as recentes restrições impostas pela China à exportação desses minerais, o interesse ocidental aumentou. No entanto, ele reconhece que a produção segue destinada aos chineses.
“É difícil não admirar o que eles conseguiram construir,” afirmou. “E é muito difícil competir”, expressou.
Para o mercado ocidental, ele revela que “as conversas com governos e empresas têm ocorrido com muito mais urgência” devido ao domínio chinês de terras raras.