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Especial Minera Brasil – Por Warley Pereira e Ricardo Lima
Goiás está no radar internacional como fornecedor confiável de minerais críticos e tecnologias sustentáveis — um passo significativo no fortalecimento da economia do estado e na consolidação de parcerias estratégica. Uma comitiva do Japão chegou em Goiânia essa semana para negociar investimentos do setor mineral goiano. O encontro foi articulado durante visita oficial do governador Ronaldo Caiado ao país asiático.
Atualmente, 33 empresas estão atuando no estado com projetos de pesquisa mineral voltados à definição de recursos e reservas economicamente viáveis de Terras Raras. Essas companhias, em sua maioria de capital aberto internacional, listadas nas bolsas de valores do Canadá, Austrália e Estados Unidos, são responsáveis por 392 requerimentos de pesquisa junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), abrangendo uma área expressiva de 609 mil hectares em território goiano.
O número robusto de requerimentos evidencia o alto potencial geológico de Goiás para projetos industriais vinculados à transição energética e à cadeia tecnológica global. O estado já conta com um marco significativo: a primeira produção efetiva de concentrado de terras raras fora da China no Brasil, pela mineradora Serra Verde, em Minaçu, no norte goiano.
Além disso, duas minas em operação em Catalão, voltadas à produção de fosfato e nióbio, estão situadas em complexos alcalinos carbonatíticos que também contêm recursos de Terras Raras — ainda não aproveitados comercialmente.

Equipe da Axía durante mapeamento geológico em Goiás.
A movimentação de empresas, investidores e formuladores de políticas públicas aponta para um cenário em que Goiás poderá consolidar-se como polo industrial de minerais essenciais para a transição energética e indústria de alta tecnologia.
Potencial promissor e geopolítica instável
Segundo Leandro Bertossi, country manager da australiana Power Minerals no Brasil, o projeto Santa Anna — focado em nióbio — ainda não sente os efeitos diretos do tarifaço, por estar em fase de pesquisa. No entanto, ele alerta para impactos indiretos como a variação cambial e o encarecimento de insumos importados.
“Como o Brasil está diretamente afetado por esse embate comercial, há maior cautela dos investidores no curto prazo. Por outro lado, cresce o interesse por minerais críticos, o que pode favorecer o projeto na captação de recursos”, afirma Bertossi.
O executivo vê na atual conjuntura uma oportunidade para que o país atraia novos parceiros internacionais, especialmente nas áreas de tecnologia e transição energética.
Governo estadual articula plano para incentivar mineração
De acordo com o secretário de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, Joel Sant’Anna Braga, o estado já conta com mais de 400 processos de pesquisa mineral envolvendo terras raras, com destaque para as chamadas argilas iônicas, que apresentam elevado teor de elementos estratégicos como neodímio, térbio e disprósio — fundamentais na produção de turbinas eólicas, motores elétricos e equipamentos militares.
“Com o acirramento das tensões entre China e EUA, Goiás se torna cada vez mais atrativo. Estamos falando de um território com múltiplos projetos promissores e alto grau de recuperação de ETRs pesados”, explica o secretário.
Braga destaca também que Goiás está finalizando o seu Plano Estadual de Recursos Minerais (PERM-GO), que entrará em consulta pública ainda este mês. O documento deve estabelecer diretrizes para agregar valor aos minerais, fomentar pesquisa e atrair investimentos sustentáveis, com apoio ao licenciamento ambiental e à verticalização da cadeia produtiva.

Mineradoras estão investindo em Sondagens para descobrir terras raras em solo goiano
Investidores preocupados com retração e dependência
Luís Maurício Azevedo, diretor da junior company australiana PVW Resource, avalia que o tarifaço sobre as exportações brasileiras teve impacto direto nas perspectivas do setor, principalmente ao tornar as exportações brasileiras de Terras Raras menos competitivas para os Estados Unidos, o principal mercado consumidor fora da Ásia.
“Há retração de investidores americanos, redirecionamento de capitais para outros países e dificuldades na viabilidade financeira de novas minas. A cadeia inteira sente os efeitos — da pesquisa ao beneficiamento”, avalia.
Apesar disso, o executivo acredita que o momento é ideal para o Brasil se posicionar como uma alternativa confiável para as grandes economias que desejam reduzir sua dependência da China.
“Precisamos oferecer segurança jurídica, fomentar joint ventures e criar uma política industrial voltada para a verticalização dos minerais estratégicos”, completa. A PVW está investindo prospecção de Elementos de Terras Raras em ambientes de argilas iônicas em diversos alvos em Goiás.
Oportunidade para integração industrial
Rob Smakman, CEO da Alvo Minerals, reforça essa percepção. Para ele, o atual cenário robustece a necessidade do Brasil não apenas explorar, mas processar e agregar valor aos seus minerais, especialmente os estratégicos.
“Vender concentrado de terras raras para os EUA hoje é economicamente inviável. A saída é integrar a cadeia e produzir aqui ímãs, baterias e componentes de alto valor agregado”, afirma.
Segundo Rob, as tensões comerciais devem sustentar uma valorização de commodities minerais nos próximos anos, favorecendo países como Brasil e Austrália, que possuem grande base de recursos e estabilidade regulatória.
Leonardo Prudente, diretor executivo da Axía Resources que está desenvolvendo vários ativos em Goiás, acredita que o estado tem potencial para se transformar no maior produtor de comodities de minerais do Brasil pela sua diversidade de ambientes geológicos altamente promissores para depósitos polimetálicos, especialmente para os críticos, essenciais para a transição energética, como elementos de terras raras, cobre, níquel, cobalto e outros, além das inúmeras ocorrências de ouro ainda pouco pesquisadas em solo goiano.
“O estado tem investido em infraestrutura de estradas, rodovias e energia e procura agilizar os processos de licenciamento ambiental. Nosso projeto de terras raras fica próximo à divisa de Goiás e Tocantins e entra neste semestre na fase de sondagem para quantificar o tamanho do depósito. Estamos também ampliando os trabalhos de sondagem no depósito de cobre em Bom Jardim de Goiás”, disse Prudente, ressaltando o interesse da Axía, em continuar seus investimentos em pesquisa mineral em Goiás.

Amostra de testemunho de sondagem minério de cobre do projeto Bom Jardim – Axía.
Um novo ciclo para Goiás?
Com a operação de Serra Verde e dezenas de projetos com potencial para produzir nos próximos anos, Goiás não apenas ganha destaque no mapa global da mineração como se apresenta como alternativa viável para receber investimentos e posicionar o país como players na cadeia de minerais essenciais para a transição energética.
Considerando o cenário atual, Joel Braga avalia: “é uma grande oportunidade de agregar valor à produção de terras raras goiana. Goiás tem um portfólio de potencialidades que certamente são atrativas para investimentos e realização de acordos e parcerias, quando os países industrializados buscam reduzir suas vulnerabilidade e dependência da China”.