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Por Ricardo Lima
A União Europeia e o Japão estão em tratativas para ampliar sua cooperação no setor de mineração de terras raras. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou que o bloco busca uma “aliança de competitividade” com o governo japonês. O tema será discutido durante a visita oficial de von der Leyen ao Japão, que teve início nesta terça-feira (21), e inclui uma cúpula com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, e o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa. É o que revela matéria do Valor Econômico.
Cooperação estratégica e terras raras
De acordo com von der Leyen, a iniciativa visa responder a um cenário geoeconômico cada vez mais volátil. “Em termos geoeconômicos, estamos testemunhando crescentes tensões e incertezas comerciais, mesmo entre parceiros de longa data”, afirmou a presidente da Comissão Europeia em entrevista por escrito ao Nikkei Asia.
Tanto a União Europeia quanto o Japão enfrentam desafios semelhantes em razão da postura protecionista dos Estados Unidos, liderados por Donald Trump, e das restrições comerciais impostas pela China. A China, por exemplo, tem usado controles de exportação para limitar o envio de minerais essenciais — como as terras raras — a outros países.
Nesse contexto, von der Leyen defendeu maior alinhamento entre os dois parceiros: “Para parceiros estratégicos como Europa e Japão, isso significa aproximar ainda mais nosso relacionamento para atender às realidades do nosso tempo e moldar o futuro”.
A proposta de aliança entre Japão e União Europeia contemplará, entre outros pontos, a supervisão conjunta das cadeias de suprimento de matérias-primas críticas, baterias e semicondutores. Segundo von der Leyen, “Tóquio e Bruxelas devem moldar as regras globais sobre comércio e tecnologia em consonância com nossos valores compartilhados de justiça e abertura”.
Ela também destacou o papel das terras raras nesse processo. Em março, a França iniciou a construção da primeira planta europeia de reciclagem em grande escala desses materiais, com participação de interesses públicos e privados dos dois lados. Von der Leyen afirmou: “Pela primeira vez, há fortes perspectivas de colaboração em mineração”.
Expansão internacional e diálogo em defesa
Com o objetivo de diversificar fontes de suprimento, a União Europeia também estuda novos projetos de mineração na Groenlândia, na África e em território europeu. Ao lado do bloco, o Japão poderá ganhar acesso a regiões estratégicas. A presidente da Comissão Europeia destacou ainda o interesse mútuo em intensificar a cooperação com os países do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), ao qual Japão já pertence.
“Juntos, a União Europeia e os países do CPTPP podem liderar uma reforma significativa na Organização Mundial do Comércio”, defendeu von der Leyen. Ela acredita que essa coalizão poderá estabelecer novas regras comerciais em um momento em que a OMC enfrenta dificuldades de funcionamento, agravadas pela recusa dos EUA em nomear novos juízes para o tribunal de apelações da organização.
O atual contexto de segurança global também tem aproximado os dois parceiros. Von der Leyen observou que “a segurança na Europa e no Indo-Pacífico não estava tão profundamente interligada há gerações”. Segundo ela, o fornecimento de componentes militares por empresas chinesas à Rússia, o apoio da Coreia do Norte à guerra na Ucrânia, além de ataques cibernéticos e campanhas de desinformação russas, têm afetado tanto a Ásia quanto a Europa.
Diante disso, a presidente europeia considerou a aliança com o Japão como “não apenas valiosa, mas essencial”. Um novo diálogo industrial de defesa entre Japão e União Europeia será lançado em breve, voltado à redução da dependência de fornecedores norte-americanos e à busca por soluções conjuntas em pesquisa e desenvolvimento. Segundo von der Leyen, “empresas japonesas e europeias discutirão parcerias que fortaleçam as cadeias de suprimentos” e o “desenvolvimento conjunto de equipamentos também será considerado”.
Por fim, a presidente reiterou o interesse na participação do Japão no programa Horizonte Europa, iniciativa europeia que deve investir 93,5 bilhões de euros em ciência e inovação. A formalização da adesão japonesa está na reta final e será tratada na cúpula desta quarta-feira (23).