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por Fernando Moreira de Souza
De acordo com matéria publicada na Mining.com, em abril de 2025, a China anunciou novos controles sobre a exportação de materiais de terras raras, incluindo o estratégico óxido de disprósio (Dy) e produtos derivados, como ímãs de NdFeB. As remessas destinadas a compradores estrangeiros agora enfrentam atrasos, pois exportadores precisam obter licenças especiais — um processo que pode levar mais de 45 dias úteis.
Enquanto isso, os impactos de longo prazo já se desenham: especialistas projetam que as restrições chinesas devem acelerar os esforços para estruturar cadeias de suprimento nos EUA, Europa e em outras regiões. No curto prazo, porém, consumidores industriais lidam com a ansiedade provocada pela memória do surto de preços ocorrido há pouco mais de uma década.
Até o momento, o mercado de terras raras manteve relativa estabilidade. Porém, analistas lembram que, em 2010, houve uma demora semelhante antes de os preços dispararem.
A escalada de preços que marcou uma geração
Entre janeiro de 2009 e agosto de 2011, o preço médio do óxido de disprósio exportado pela China saltou de US$ 91 para US$ 2.377 por quilo — um crescimento de 26 vezes. Ainda que muitos associem a disparada à suspensão de exportações para o Japão durante uma disputa territorial, a alta já vinha sendo alimentada por uma série de fatores internos: cortes graduais nas cotas de exportação, aumentos sucessivos nas tarifas, repressão à mineração ilegal e a compra desenfreada por usuários finais.
O cenário começou a se desenhar em 2009, quando o governo chinês indicou que poderia restringir ainda mais a oferta de certos elementos estratégicos. Em 2010, novas elevações tarifárias e severas reduções de cotas provocaram o primeiro grande salto de preços. A febre de compras atingiu seu ápice em 2011, após anúncios de novos cortes na exportação e repressões internas na China.
O mercado só começou a se estabilizar em 2012, mas a volatilidade gerada deixou marcas profundas em toda a cadeia industrial.
Mudança estrutural: inovação como resposta ao choque
O pico explosivo de preços durou pouco, mas transformou indústrias inteiras. O setor de veículos elétricos, que à época engatinhava, viu fabricantes buscarem alternativas para reduzir sua dependência de terras raras. A participação dos motores elétricos que dispensam REE (elementos de terras raras) saltou de menos de 1% em 2010 para 12% em 2017.
A consultoria Adamas Intelligence aponta o movimento como um caso emblemático de “destruição planejada da demanda” — uma resposta deliberada ao trauma do aumento abrupto de preços.
Com a normalização dos preços a partir de 2016, motores baseados em REE voltaram a dominar o mercado, equipando a esmagadora maioria dos veículos elétricos vendidos globalmente.
Agora, ao adotar uma abordagem mais precisa e segmentada, a China busca maximizar o impacto estratégico de suas restrições sem provocar uma reação em cadeia que comprometa sua própria posição na revolução verde. Indústrias de defesa e drones aparecem como alvos prioritários, enquanto o setor de veículos elétricos, ao que tudo indica, será poupado do pior.
A lição de 2010/2011 permanece viva: em um mercado global cada vez mais competitivo e instável, depender de um único fornecedor se tornou um risco que poucos podem se dar ao luxo de correr.